“Vou reproduzir no Rio Grande do Sul tudo o que Bolsonaro faz no Brasil”, disse Onyx Lorenzoni (PL) ao participar do ‘Conhecendo o pré-candidato’, organizado pela Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Gravataí (Acigra), em almoço no Paladino, nesta sexta-feira.
Conforme a presidente Ana Cristina Pereira serão ouvidos apenas os candidatos ao Palácio Piratini que procurarem a entidade.
Durante a hora em que falou, o deputado federal, ex-ministro e apresentado com credenciais como cristão, armamentista e contra a corrupção, mostrou que é ele, e não Luis Carlos Heinze (PP) o ‘candidato do Bolsonaro’ no Rio Grande do Sul.
Tratou sempre o presidente da República como um amigo, que o chama de “gauchão” e cuja casa frequenta, e compartilhou do que reputo delírios do ocupante de turno do Palácio do Planalto.
Quando fez sua defesa do que considera liberalismo, e apresentou suas ideias sobre economia e papel do Estado, foi o que o prefeito Luiz Zaffalon descreveu ao abrir o evento: “um coerente e educado representante da direita, quando historicamente é mais simpático defender pautas da esquerda”.
Encarnou algo como o médico e o monstro, “Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde”, clássico de Robert Louis Stevenson.
No ‘modo médico’, sobre Gravataí Onyx garantiu que se eleito governador a ERS-118 não terá pedágio.
– Não criarei nenhum pedágio na região metropolitana. Simples assim – garantiu, saudando o empresário Ernani Piccoli, “que comigo fundou o PL há 30 anos em Gravataí”.
Ex-ministro da Casa Civil, disse ser favorável, apesar de voz não ouvida no governo, da criação de um fundo para subsidiar o diesel e o transporte coletivo, como faz Zaffa em Gravataí com os ônibus municipais.
– O Sérgio sabe – disse, apontando para Sérgio Pereira, dono da Sogil e pai da presidente da Acigra, que estava na mesa principal ao lado dele e do filho, o deputado estadual Rodrigo Lorenzoni, além do prefeito e o ex-vereador Evandro Soares (PL), seu assessor em Brasília e agora no Rio Grande do Sul, e que em 2020 foi segundo colocado na disputa pela Prefeitura de Gravataí como vice de Dimas Costa (PSD), na chapa que apelidei ‘MarxDonalds’.
Ainda ‘Dr. Jekyll’, o veterinário criticou a adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal do governo federal:
– Os próximos 7 governadores serão reféns de uma junta de fiscais do plano, dois em Brasília, um aqui, o que dá sempre 2 a 1. O rapaz que renunciou assinou o modo hard do ajuste, em sua obsessão para ser candidato a presidente botando em seu portifólio que é um cuidador da responsabilidade fiscal. Reconheceu uma dívida de R$ 70 bilhões, quando já pagamos 30 e devíamos 9.
Aos empresários, que não lotaram o Paladino, prometeu revisar a legislação ambiental gaúcha que, em sua avaliação, emperra negócios.
Entremos agora no ‘modo monstro’.
Não sabia que Onyx era tão religioso. Citou a Bíblia pelo menos três vezes.
– Nada ficará oculto, tudo será revelado – citou Marcos 4:22, talvez esquecendo do sigilo de 100 anos que seu mito colocou, por exemplo, nos gastos com cartão corporativo e em sua condição vacinal.
Ah, a covid!
Onyx, possivelmente apostando no esquecimento das pessoas do que foi a pandemia e as, hoje, 668.501 vidas perdidas, criticou o “fica em casa”, cujos propagadores foram, em suas palavras, “a turma da Ipiranga”, referindo-se à RBS, e a “turma da Globo News”.
Culpou não a covid, mas o lockdown, pela crise econômica, como se fechamentos duradouros tivessem acontecido.
– E o rapaz aquele só pintando mapinha – disse, sobre Eduardo Leite, e em seguida contando incursão sua junto a Bolsonaro, durante a pandemia, na periferia de Brasília para “ver o que o povo passa”.
Ao falar sobre o “fica em casa”, sobrou também para Sérgio Moro, ao lembrar a ‘reunião dos xingamentos’.
– O presidente cobrou aquele ministro da Justiça que deixava trabalhadores serem presos por trabalhar para sustentar a família – disse sobre aquele que um dia foi seu herói midiático e, no Roda Viva, da TCE, declarou achar “meritório”, sobre o episódio de suspeita de caixa 2 envolvendo o político, “(Onyx) tenha reconhecido que errou e que ele esteja disposto a pagar por esses erros”.
Nos poucos dados positivos que trouxe para defender o governo, Onyx citou a ampliação de 22 mil para 44 mil UTIs na pandemia, “apesar de governadores nordestinos só subirem paredes falsas”, além da criação de 2,7 milhões de empregos com carteira assinada desde 2021 e o pagamento de auxílio emergencial para 68 milhões, “no maior programa de transferência de recursos da história” – aí completo eu, no país onde, hoje, 10 milhões de brasileiros vivem com R$ 1,30 por dia, conforme o IBGE.
– Aquele que chamam genocida em 9 meses fez do Brasil o país ocidental com mais gente vacinada – defendeu, omitindo a campanha do presidente contra a imunização e os rolos da Covaxin.
E citou novamente Sérgio Pereira para lamentar que, devido aos cuidados com a covid, 130 mil CNPJs foram encerrados, complementando:
– Mas a Rosane Oliveira (colunista política da RBS) dizendo todo dia “fecha, fecha”.
O ‘Mr. Hyde’ assustou ao lembrar o fatídico ‘7 de Setembro’, quando, para quem não se ligava que a democracia é só uma balzaquiana, a possibilidade de um golpe militar passou do “Ah, não! Não somos uma República de Bananas!”, para “Hum… quanto duraria um golpe?”.
– Foi a coisa mais linda que já vi – disse, enquanto no telão mostrava foto da manifestação com bandeiras verdes e amarelas e, ao lado, o que identificou como a posse de Olívio Dutra como governador gaúcho, em 1998.
– Só bandeiras vermelhas. Quem levou a bandeira de Cuba ao Piratini foi a senhora Dilma Vana Rousseff.
O delírio sobre um ‘Comunismo’ que não aconteceu nem com o criminoso Stalin na URSS, seguiu em um momento “acuse os adversários do que você faz”, frase atribuída a Lenin, no qual Onyx disse que Lula e o PT apostam sempre na divisão, “no negro contra o branco, no rico contra o pobre”.
– Jovem da Venezuela contou que disputavam lixo com cães e depois comeram os cães.
Aqui paro porque é pós-verdade demais, é 1984, é orwelliano Onyx encerrar – solenemente, fazendo voz grave, tipo Regina Duarte naquele comercial da época do Aécio que anunciava o apocalipse comunista – dizer que a “liberdade” está ameaçada na eleição de 2022.
Não. Qualquer idiota, e isso ele não é (muito pelo contrário, teria outro papel no golpe do bilhete), sabe que é uma mentira. Assim como a afirmação de que o governo Bolsonaro é “corrupção zero”.
Lembra-me aquela que o Millôr contava, de que o velho botequeiro luso dizia para o poeta Rubem Braga: “Olha, doutorie, eu cá num tenho riceio du cumunismu: com o pouco qu´eu tenho e o pouco qui m´vai cabeire, eu vivo muito baim”.
Ao fim, o resumo dos delírios do almoço na Acigra que, antes, sob motivo algum, já trouxera o cloroquiner Heinze, foi pergunta enviada por WhatsApp, no QR code disponibilizado nas mesas, que criticava o “STJ”, quando por óbvio queria dizer “STF”, falava do “medo de Lula”, atestava contra todas as pesquisas, “a tendência é Bolsonaro ganhar”, e instigava o pré-candidato a governador a responder sobre a teoria conspiratória de que a eleição em urnas eletrônicas pode ser fraudada.
Na resposta, Onyx contou uma história digna dos Alienígenas do Passado, aquele programa do History Channel. Que na eleição de 2018 testemunhou indícios de fraude.
– Ele (Bolsonaro) me diz sempre que, se a eleição for limpa, “perdi, entrego”.
Entenderam o golpe?
Assista ao vídeo sobre Onyx na Acigra produzido pelo repórter cinematográfico do Seguinte: Guilherme Klamt