lixo

220 ton de problemas – mas tem saída

Cidade gera 220 toneladas de lixo todos os dias e gasta com o destino disso cerca de R$ 25 milhões por ano | Foto: Rodrigo Becker

Gravataí finaliza plano para o lixo que a cidade produz todos os dias – e que pode economizar mais de R$ 12,5 milhões só com o destino que se dá para o conteúdo da lixeirinha sobre sua pia

 

O que fazer com o lixo é uma pergunta que 10 entre 10 gestores públicos se fazem – aqui, na China ou em Palau, na Oceania, o 17º menor país do mundo, com área total de 459 km², só 4 a menos do que os 463 km² que Gravataí tem.

Só que Palau tem, digamos, um problema menor com o seu lixo: os pouco mais de 20 mil palauenses não produzem tanta sujeira assim. Nas terras continentais da Aldeia dos Anjos, o buraco é mais embaixo.

– Cada habitante nosso produz cerca de 850 gramas de lixo todos os dias. São 220 toneladas de problema para serem resolvidos, todos os dias – contabiliza o presidente da Fundação de Meio Ambiente, o biólogo Jackson Müller.

Hoje, esse lixo todo é coletado em Gravataí e levado de caminhão para a cidade de Minas do Leão, onde uma empresa deposita cada sacola em longos e emaranhados túneis antes usados para extração de carvão. E isso custa, todos os anos, R$ 25 milhões aos cofres do município.

– Se atacarmos o problema dos resíduos sólidos, podemos baratear essa conta pela metade – estima outro entusiasta do projeto, o secretário de Governo de Gravataí, Luiz Zaffalon.

O projeto em questão leva o pomposo nome de Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos e, na prática, diz o que a cidade pensa em fazer com o lixo – e tudo o que se enquadram nessa definição – que ela mesma produz.

– Foram mais de 1 ano e meio de trabalho que começou com um amplo diagnóstico. Precisávamos conhecer o problema dos resíduos domésticos, hospitalares, da construção civil, enfim, tudo o que compõe esse grande cenário do lixo em Gravataí – conta Zaffalon.

– Chegamos a objetivos de curto, médio e longo prazo para evitar que o lixo siga sendo a mesma dor de cabeça ano após ano – afirma Jackson Müller.

Nesse diagnóstico, foram envolvidos diversos atores do processo – sejam eles ligados ao poder público ou da iniciativa privada. Como os cooperados da Cootracar, por exemplo.

– Foram grandes parceiros desse processo todo – resume Zaffalon, com o aval do presidente da fundação:

– Eles têm um trabalho muito bom e estão avançando bastante.

 

: Zaffalon é secretário de Governo e um dos envolvidos na construção do Plano de Resíduos

 

Vem aí a coleta de orgânicos

 

Um das metas do plano que deve ganhar um piloto já no próximo semestre é a coleta separada do lixo orgânico, como já acontece com o lixo seco.

– Do total do lixo que se produz, 60% é comida jogada fora, carga orgânica – aponta Müller.

E esse é, exatamente, o que mais impacta no valor que se paga pela tonelada de lixo que se deposita em Mina do Leão.

– É o lixo mais pesado, tem mais umidade. A mesma umidade que, quando essa carga orgânica toda vai se decompondo, vira o líquido mal-cheiroso e altamente poluidor que a gente conhece como xorume.

As pessoas da cidade estão relativamente acostumadas a separa seu lixo entre orgânico e seco, mas na hora de embalar para o caminhão levar, misturam tudo. Pelo menos em casas como a da vendedora Sandra Santos, 23 anos moradora do Parque Florido.

– Eu tenho em cima da pia uma lixeirinha para onde vão as cascas, os restinhos de comida, essas coisas. Papelão e embalagens vão para outro recipiente – conta.

– A gente só entrega separado o para a coleta seletiva o lixo seco, que vai para reciclagem. O resto a gente manda para o lixo comum. Não aproveitamos o orgânico para adubo.

 

: Sandra Santos separa o lixo orgânico na cozinha, mas depois dá destino a tudo no recolhimento comum

 

– Para casos assim é que estamos trabalhando essa ideia da separação e recolhimento do orgânico. Pelo que foi definido no plano, vamos utilizar um Sistema de Compostagem por Aeração Forçada, que apura o processo de compostagem da carga orgânica em 33 dias – revela Jackson Müller.

Pelo sistema convencional, esse mesmo processo leva até 6 meses.

– E emite mau cheiro, é desagradável.

Funciona assim: o lixo é moído e misturado. O vento ou um equipamento ventilador faz com que o ar seja passado pela matéria orgânica, acelerando o processo de transformação dela em compostagem que depois pode ser usada como adubo.

– Daí pode ser destinada a espaços públicos, praças, jardins e até na recuperação de áreas degradadas.

Só não deve ir para a produção de alimentos, por exemplo.

– Como no lixo doméstico tem contaminantes difíceis de separar, com tinta em papel, por exemplo, o uso no plantio de alimentos não é recomendado.

Novo Hamburgo chegou a implementar o sistema mas, com uma troca de governo, tudo parou.

 

: Jackson Müller defente o sistema de compostagem por aeração forçada

 

Plano apresentado ao CAF

 

A implantação do processo de coleta de orgânicos, segundo Jackson Müller, custa aproximadamente entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões – mas a economia com o destino do lixo chega a 50%. Em, dois anos, o sistema todo se paga sozinho – daí para frente, economia pura.

– Já conversamos com o CAF sobre isso – adianta Zaffalon.

CAF é a Comissão Andina de Fomento, uma espécie de banco latino-americano que financia projetos de desenvolvimento para Estados, cidades e países. Em Gravataí, o CAF foi a grande aposta da Prefeitura para um investimento da ordem de R$ 100 milhões em infraestrutura – entre outros projetos, o que duplica a pontos para o Parque dos Anjos é um dos contemplados.

– Eles costumam financiar projetos da área ambiental de forma prioritária e gostaram do que mostramos a eles. Com o plano de resíduos pronto, ficou mais fácil. Devemos encaminhar algo já nos próximos dias sobre isso – conta o secretário do governo.

 

Ecopontos: uma nova modelagem

 

O Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos também tratou da criação de novos ecopontos na cidade – que são, em última análise, locais onde a população pode deixar itens de descarte como sofás velhos, pneus e até restos de obra que o serviço de recolhimento doméstico nem a coleta seletiva não costumam levar. Jackson Müller diz que, hoje, o governo ainda trata com a Cootracar – a cooperativa dos catadores – um novo modelo para o funcionamento desses ecopontos.

– O modelo de hoje não funciona como se esperava. Viraram pequenos depósitos de lixo e não era para ser assim. Precisa ser algo mais ágil, de coleta rápida, talvez até uma área coberta por causa dos orgânicos. Não sei ainda. A Cootracar está pensando nisso e, semana que vem, devemos fazer uma nova reunião em que o assunto virá – finaliza Jackson Müller.

 

PARA SABER MAIS

Para conhecer mais sobre as paradisíacas ilhas da República de Palau, o país que cabe dentro de Gravataí, clique aqui ou aqui.

 

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