O impeachment da prefeita Rita Sanco (PT) completou cinco anos.
Em 15 de outubro de 2011, ela era afastada do cargo pela Câmara.
O Seguinte: traz uma revelação exclusiva, feita por Cristiano Kingeski, vice na época e também cassado junto à prefeita.
– Recebi a proposta de sacrificar a Rita e assumir como prefeito – contou, lá pelo meio de uma longa conversa telefônica onde recordava o momento em que foi abatido de uma trajetória política que atingira seu auge ao assumir como vice-prefeito quando tinha apenas 28 anos.
Testemunhas da sugesta, Kingeski tem apenas ‘do outro lado’. Marcos Monteiro e Cláudio Ávila, os dois mentores do impeachment. Procurados pelo Seguinte: neste domingo, o primeiro não respondeu aos contatos e o segundo disse que não comentaria o assunto.
O vice que não foi Temer
Conforme Kingeski, a proposta foi feita em frente ao Hotel Intercity, após a célebre reunião do dia 6 de junho de 2011, entre ele, Daniel Bordignon (à época deputado estadual pelo PT), Ávila e Monteiro (autores do impeachment e também representantes do PV), mais o médico Marcelo Leone – o personagem neutro que organizou o que era para ser um acordo para o ‘salvamento’ do mandato de Rita e Cristiano.
Ao fim da conversa de quatro horas, Kingeski conta que fumava um Carlton em frente ao Hotel e Monteiro e Ávila se aproximaram. Bordignon tinha ficado para trás, contando mais causos a Leone.
– Se tu quiser ser prefeito podemos resolver. O Monteiro me disse bem assim, sem meias palavras. Eu respondi que não havia nenhuma chance – relata Kingeski.
– Nunca abri margem para isso e não procurei nenhum vereador propondo acordo durante o impeachment. Poderia ter feito o que o Michel Temer fez agora, mas não separei minha defesa da Rita em nenhum momento. Ela era o grande alvo daquela grande injustiça – garante.
: Cristiano Kingeski e Rita Sanco em 2011, após o afastamento da Prefeitura
Ação parada no Fórum há 5 anos
Kingeski lembra que, apesar do atual governo ter conseguido a anulação por prescrição de dívida de R$ 100 milhões com o Banrisul, que foi uma das polêmicas do impeachment, o Ministério Público não processou Rita, ou ele, por nenhuma das denúncias que levaram à cassação.
– Foram 11 arquivamentos. E a ação que ingressamos pedindo análise do mérito da cassação ainda está parada na Justiça de 1º Grau, no Fórum de Gravataí. Já são cinco anos e nada, acredita? – lamenta.
– Não vai mudar nada, os anos que nos roubaram de governo, que pararam a cidade, não serão devolvidos. Mas será provado que fomos cassados simplesmente por uma decisão política, não por corrupção, como fica no imaginário popular. Não cometemos nenhum crime ou falha administrativa. A verdade virá. Meus filhos vão saber.
O fim com Bordignon
Do 6 de junho de 2011 para cá, após desgastes crescentes nas campanhas derrotadas à Prefeitura, em 2012, à presidência do PT em 2013 e à Assembleia Legislativa, em 2014, Kingeski e Bordignon terminaram inimigos uma relação que, para quem olhava de fora, parecia de pai e filho.
Conforme o jovem que viveu as campanhas do PT desde o início da adolescência, o afastamento se deu com a chegada de Cláudio Ávila à convivência do ex-prefeito, no ano passado.
– Eu não tinha como ficar ao lado do cara que me cassou – resume.
Baixaria
Os detalhes que vazaram da reunião no Intercity são baixos e constrangedores, se verdadeiros. Qualquer pesquisa no Google ajuda a contar. Neste momento, o Seguinte: poupará os leitores.
Até porque a suposta fita gravada por Ávila nunca foi apresentada por ele.
CPI do Disse-Que-Disse
À época, este jornalista que vos escreve, na coluna que assinava no diário Correio de Gravataí, chamava a CPI da Compra de Votos de “CPI do Disse-Que-Disse”.
Kingeski negou em depoimento o oferecimento de cargos.
A CPI foi arquivada, mas serviu de combustível para a aprovação do impeachment e rendeu várias notas na coluna de Rosane Oliveira, na Zero Hora.
Professora cassada no Dia dos Professores
Para recordar a história, a cassação de Rita aconteceu em 15 de outubro de 2011. Por 10 votos a quatro, a professora foi cassada no Dia dos Professores.
Era o fim de uma dinastia do PT no poder, iniciada com o primeiro governo de seu maior líder, Daniel Bordignon, em 1997.
O presidente do legislativo Nadir Rocha (PMDB) assumiu interinamente a Prefeitura e, em 15 de novembro daquele ano, os mesmos dez vereadores escolheram o colega Acimar da Silva (PMDB) como prefeito tampão até 31 de outubro de 2012.
Nas eleições seguinte, Marco Alba (PMDB), o grande conselheiro no ano e meio em que o gabinete do prefeito teve as plaquinhas com os nomes de Nadir e Acimar, foi eleito prefeito com 51 mil votos e assumiu em 1º de janeiro de 2013.
Já Bordignon e Cláudio Ávila se uniram no PDT e venceram a eleição deste ano como prefeito e vice. Eles aguardam a validação dos votos pelo TSE, que se não ocorrer pode levar a uma nova eleição, ou à diplomação do segundo colocado, Marco.
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