Em Plano de Drenagem de Gravataí revela o óbvio: enchente não é tragédia, é planejamento público historicamente ausente; o GPS e os pobres de sempre prometi detalhar no Seguinte: o diagnóstico técnico do Plano Diretor de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas (PDDrU) apresentado no 1º Seminário e Consulta Pública, realizado no auditório do Centro Administrativo da Prefeitura, que contratou o estudo. Sigamos.
A análise, conduzida pelo consórcio CONCREMAT-RHAMA, revelou um cenário preocupante: urbanização desordenada, ocupações irregulares em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e infraestrutura deficiente colocam milhares de pessoas em situação de risco.
Dividido em quatro partes, o diagnóstico técnico mapeou as cinco principais bacias hidrográficas urbanas de Gravataí: Barnabé, Demétrio, Brigadeira, Gravataí 1 e Gravataí 2. O estudo mostra que essas áreas concentram riscos diversos, especialmente alagamentos frequentes, ocupações em áreas protegidas por lei e insuficiência de obras de drenagem.
O Arroio Barnabé, com 60,3 km² e mais de 140 mil habitantes, se destacou como uma das bacias mais críticas: 4.253 construções estão em APPs, o que representa quase metade da área urbana da bacia.
Já o Arroio Demétrio, maior bacia da cidade (227,91 km²), contabiliza 686 construções irregulares em áreas de preservação, com cerca de 81 mil moradores expostos ao risco.
As bacias do Brigadeira, Gravataí 1 e Gravataí 2 apresentam situações semelhantes, com destaque para a região da COHAB e Novo Mundo, constantemente afetadas pelas chuvas.
Entre os bairros mais impactados por inundações severas e repetidas estão Vila Rica, Novo Mundo, Morada do Vale, COHAB C, Caça e Pesca e Padre Réus — muitos dos quais sofreram com alagamentos recentes em fevereiro e junho de 2024.
Tecnologia a serviço do planejamento
A equipe técnica utilizou ferramentas avançadas, como levantamento LiDAR, ortofotos de alta resolução e modelagens hidrológicas e hidráulicas baseadas em dados do INMET, ANA e CEMADEN. Essas tecnologias permitiram identificar pontos críticos, dimensionar os riscos e projetar cenários futuros de cheia — tanto com base nas condições atuais quanto em tendências de expansão urbana.
Além dos dados técnicos, o diagnóstico incluiu uma análise detalhada dos aspectos socioambientais, como a fragilidade ambiental das áreas ocupadas, a função ecológica das manchas florestais e a necessidade de preservar a conectividade entre os fragmentos vegetais remanescentes.
Histórico de enchentes mostra urgência
De acordo com o histórico apresentado, Gravataí enfrentou inundações significativas em 2013, 2015, 2016, 2017, 2019, 2020, 2023 e 2024, revelando um padrão cada vez mais frequente de eventos extremos — agravado pelas mudanças climáticas e pela expansão urbana desordenada.
A falta de políticas públicas de gestão de cheias, somada à carência de infraestrutura e à ocupação irregular de várzeas e encostas, contribui para tornar esses episódios cada vez mais destrutivos.
Participação pública e vontade política
Durante o seminário, foi lançada a primeira consulta pública do PDDrU, que ficou disponível até 23 de julho no site oficial da prefeitura (clique aqui para acessar).
A coordenadora da equipe técnica do consórcio, Deisy Maria Andrade Batista, ressaltou a importância do envolvimento da população: “A consulta é essencial para que a comunidade compreenda os riscos, colabore com o planejamento e cobre soluções efetivas”.
O prefeito Luiz Zaffalon destacou que, desde 2023, o município já investiu cerca de R$ 100 milhões em ações de desassoreamento, mas que o trabalho está longe de terminar:
– Resolvemos muitos problemas, mas ainda temos mais para resolver. O seminário é uma ferramenta importante para dialogar com a sociedade – disse.
O secretário de Meio Ambiente, Denner Gelinger, definiu o PDDrU como prioridade da atual gestão: “Este plano é essencial para enfrentarmos as enchentes e alagamentos que afetam os gravataienses. Precisamos investir e dar voz a esse projeto”.
Como transformar o diagnóstico em ação
O PDDrU segue agora para a definição de soluções estruturais e não estruturais, como obras de contenção, recuperação de áreas degradadas, zoneamento específico para áreas de risco e mecanismos para financiar a manutenção das intervenções.
O desafio é claro: integrar políticas públicas de urbanismo, meio ambiente, defesa civil e habitação para garantir resiliência hídrica e segurança urbana. Para isso, será necessária a combinação de vontade política, mobilização social e investimentos sustentáveis.
Ao fim, Gravataí tem em mãos um diagnóstico detalhado de seus desafios com as águas, um GPS para enfrentar a tempestade histórica da falta de planejamento urbano, como referi no artigo de ontem.
Para acessar a apresentação completa, com mapas e dados, clicando em PARTE 1, PARTE 2, PARTE 3 e PARTE 4.