Um simples canudinho jogado no chão pode parecer inofensivo. Mas imagine que cada habitante de Gravataí consuma, em média, um canudo por dia. São 101,9 milhões de canudos em um ano. Considerando o tamanho padrão de 6mm de diâmetro dos canudos, em um ano, daria para formar uma linha — com canudos dispostos lado a lado — de 611,8 quilômetros, capaz de ir e voltar de Tramandaí, por exemplo, três vezes.
Segundo ambientalistas do mundo inteiro, os canudos plásticos, multiplicados com os fast-foods, estão entre os maiores vilões do planeta na atualidade. A carga de canudos à base de polipropileno e poliestireno representa hoje 4% de todo o lixo plástico do mundo. Significa que, aquele objeto que fica, em média, quatro minutos na mão do consumidor, levará centenas de anos para serem decomposto. E, até que isso aconteça, carrega consigo uma cadeia de mortes de animais como tartarugas nos oceanos. Ou, como relata o vereador Bombeiro Batista (PSD), aqui mesmo no Parcão da parada 79.
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— Foi em uma andança pelo Parcão que eu resolvi agir contra a distribuição dos canudos. Vi as tartarugas tentando se alimentar desses objetos que eram descartados de maneira inadequada por quem estava ali. As pessoas precisam ter consciência sobre o que consomem e também sobre as consequências dos seus atos. Descartar o seu lixo faz parte da responsabilidade de cada cidadão — diz o vereador.
: Aquele canudinho inofensivo chega aos oceanos e provoca trágico desequilíbrio ambienal
Ele é o autor da lei, sancionada pelo prefeito no dia 14 de dezembro de 2018, que tornará, daqui um ano, proibida em Gravataí a distribuição dos canudinhos plásticos em barzinhos, restaurantes, ambulantes ou carrocinhas de cachorro-quente. A medida havia sido proposta pelo vereador em outubro do ano passado, e segue uma tendência nacional. O comércio local terá, portanto, um ano para se adaptar.
— Alguns podem criticar, achar que vai aumentar custo, mas eu fiz este levantamento, e o impacto será muito pequeno. O pequeno comerciante tem que se adaptar às leis. Nem sempre o menor valor é o melhor para a saúde. E este é o momento de se preocupar com as gerações futuras — aponta Bombeiro.
Na verdade, o próprio vereador afirma já ter pesquisado preços com fornecedores de canudos, e encontrou o material biodegradável por R$ 24,90 (500 unidades), enquanto a mesma quantidade de plástico, segundo ele, custa R$ 42.
Multa ainda será definida
No texto original do projeto, porém, a punição pelo descumprimento estava clara: R$ 2 mil de multa e, na reincidência, R$ 5 mil. A proposta não passou no Executivo, que deixou o texto da lei bem mais vago. Prevê que, quem descumprir, “estará sujeito às sanções do Código de Defesa do Consumidor”.
— A ideia é que a punição seja algo em segundo plano. Primeiro, tem que conscientizar as pessoas — reforça o autor da lei.
De acordo com o secretário adjunto do Desenvolvimento Econômico, Victor Johnson, serão aplicados os artigos 55 e 56 do código, que prevêem fiscalização, notificação, multa — com valores ainda a serem definidos pelo município — e, em casos drásticos, até a cassação do alvará de funcionamento para quem descumprir a lei.
— Teremos um ano inteiro para trabalhar a parte educacional com os comerciantes. Depois, o primeiro passo será a notificação e, permanecendo a irregularidade, multas — aponta.
Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre seguem o mesmo caminho de medidas para barrar os canudos plásticos. Pudera. Só no Brasil, estima-se o uso de 75,2 bilhões de canudinhos em um ano. Dariam para construir um muro de 2,10m de altura para dar uma volta inteira ao mundo em uma linha de 45 mil quilômetros.