coluna da sônia

Por falar em armas…

Na foto o pai da colunista Sônia é descrito por ela como "o cidadão simpático, de camisa xadrez, que está sentado junto à caminhonete"

Houve um tempo em que o pai viajava bastante, em função do Hotel Zancheta, que mantinha com alguns irmãos e um cunhado em Veranópolis, e, para que a mãe não tivesse medo de ficar sozinha conosco, comprou-lhe um revólver prateado e lhe explicou como usá-lo.  

A mãe não queria nem tocar no tal revólver, mas, diante de sua insistência, guardou-o à chave, em um armário, e prometeu que o usaria, se necessário.   

No dia seguinte, assim que o pai saiu de casa, ela chamou um primo militar, pediu-lhe que tirasse as balas do tambor do revólver e as levasse embora.  

E, assim, por muitos anos, ela manteve aquele revólver guardado, sem balas, pois morria de medo de acertar alguém.

Anos depois, acordei, no meio da noite, com os gritos da mãe. Desci correndo a seu quarto e a encontrei com a cabeça para fora da janela e os braços esticados, apontando para o varal de roupa com o tal revólver, que segurava firme com as duas mãos. Ela gritava nervosíssima: “Aparece aí, bandido, que vou te arrebentar os miolos!”.

Ao olhar pra fora, vi várias fotos grandes penduradas no varal e lhe falei que o que devia ter ouvido eram uns amigos aos quais havia emprestado a chave do laboratório fotográfico que um colega da faculdade e eu havíamos montado nos fundos da casa.   

Mas ela jurava que não, que o pessoal tinha saído há bastante tempo e que um ladrão havia se metido no laboratório, para roubar os equipamentos.

Nessas alturas, gritei os nomes dos meus amigos, e um deles respondeu: “Sônia, tua mãe ameaçou nos matar!”.

Daí, fui até lá e os convidei a subirem à cozinha, onde lhes servi um chá calmante, enquanto a mãe morria de rir da confusão que havia criado.

Menos mal que o revólver estava descarregado, não é?

 

– – – – – 

 

Cresci vendo o pai contar histórias de caçadas, treinar cachorros perdigueiros e preparar perdizes, marrecos e lebres.     

Ele tinha uma espingarda enorme, desmontável, que ficava guardada em um armário, que nunca abrimos, não por medo, porque o pai era a pessoa mais complacente do mundo, mas por total falta de interesse.

Um dia, a Bia, minha irmã, subiu a seu quarto e, em seguida, desceu a escada correndo, aos gritos, pois havia dado de cara com um ladrão. A mãe chamou várias vezes pelo pai, como se estivesse em casa, e me ordenou baixinho que pegasse a espingarda, que ficava guardada ali perto.  

Lembro de mim, ao pé da escada, com as duas partes da espingarda, e da mãe ameaçando o ladrão: “Estamos armados! Nem te atreve a descer esta escada!”. E eu, bem pateta: “Mas mãe, ninguém aqui sabe montar esta espingarda!”.

Menos mal que, nessas alturas, ouvimos o ladrão escapulir pela mesma árvore por meio da qual tinha chegada ao segundo andar.

 

 

 

 

 

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