coluna do cidade

Presságio

É o presságio de alguém em seu limite

Despedaçado e bêbado

Na densa noite de um sábado

É o presságio de alguém triste

A colher a aurora

Que torna a enlutada moça

Uma pervertida e feliz senhora

É o pedido sagrado de alguém perdido na hora

De um valei-me, deixe-me, queixar-me

Para todo sempre e agora

É uma cidade na euforia de uma romã aberta

No peito de um cavalo contra o azul do céu marítimo

É o presságio de uma vida secreta num carrossel de fogo íntimo

É a benção dos trabalhadores a um rei ilegítimo

É o sacrifício do carneiro manso em telepatia de limpeza

É o grito da salamandra numa fenda

Que torna o taciturno moço

Em anjo translúcido pra que ele mesmo se entenda

É um horizonte de pergaminhos e algoritmos

No perfil arsênico do osso e da seda

É um aviso convulsivo

De

Outros dilúvios

E mimos

São as oferendas e o agradecimento aos serviços prestados

É o presságio de alguém em seu limite

Saudoso e despedaçado

Com seus genes recodificados

É o presságio de alguém mal interpretado

Na sombra imberbe do cipreste em sol de azeite

É o presságio de alguém triste com o dedo em riste

É o presságio de alguém espiritualmente machucado

É o presságio de alguém que não existe.

 

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