Aos 26 anos, a voz, o violão e a escrita da gravataiense Carla Tassinari estão entre o que de melhor tem sido produzido atualmente na área cultural da cidade. Um novo talento que luta contra as amarras sociais — e faz disso uma causa pelo protagonismo feminino — para brilhar ainda mais.
— Faz muito tempo, desde a adolescência, que eu me interesso e estou muito próxima da música e da poesia, mas foi só neste ano que eu tomei coragem para encarar o desafio e mostrar o meu trabalho ao público. Não é fácil — garante.
É que, enquanto cursava a faculdade de Letras e se desdobrava para dar aulas de inglês a diversas turmas, como ela costuma dizer, travou.
Foi diagnosticada com síndrome do pânico. Resultado, segundo ela, das pressões por mostrar resultados, ter a obrigação de ter um emprego e não conseguir dar a atenção que gostaria à criação.
— Esse processo histórico que a mulher passa, tem raízes profundas em mim. O fato de a mulher estar sempre à margem, de ter sempre que mostrar algo a mais para conquistar o seu espaço, para mim é muito forte. Foi a arte que me libertou e é pela arte que agora eu tento levar essa mensagem de resistência — diz.
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Na Feira do Livro de Gravataí, Carla foi uma das principais atrações nos debates sobre a presença feminina nas letras e na música. Esta era, aliás, uma feira dedicada a esta conquista, a começar pela patrona, Fernanda Takai.
As barreiras para Carla Tassinari começaram logo cedo. Aos 13 anos, queria ter um violão, mas a ideia foi logo derrubada pela mãe.
— Era coisa de vagabundo — ela me disse.
Dois anos depois, por uma forcinha dos amigos, ganhou o violão de aniversário, mas a liberdade para criar não surgiu sem muita força.
— No ensino médio, quando estudava na Fundação Bradesco, eu descobri a literatura e me apaixonei. Logo estava em contato com a poesia, mas sempre que criava alguma coisa, me vinha aquela ideia de que sou só uma mulher, que não tem muito valor o que eu fiz, e perdia a coragem. Aos poucos eu estou superando isso com o apoio de professores e outras pessoas que já conhecem minha música e poesia e gostam — comenta.
Carla tem um livro pronto para publicar, e a intenção é lançar em 2019. Ano em que ela pretende também lançar algo autoral com o violão, já que ela tem sido convidada para diversos projetos, sempre executando músicas de outras mulheres.
: Carla foi atração na Feira do Livro de Gravataí | GUILHERME KLAMT
Em Gravataí, ela é uma das participantes do projeto Leia Mulheres, grupo que se reúne uma vez por mês na biblioteca municipal para trocar idéias e, principalmente, ler autoras mulheres. É uma iniciativa mundial pela valorização feminina nas letras.
— Essa luta é cada vez mais necessária, quando vemos o caminho conservador que toda a sociedade está tomando. Para a mulher e para quem lida com a educação, o caminho será bem complicado, mas é preciso resistir — resume a Carla.