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A escola do rock na Feira de Gravataí

Gustavo Coelho é professor de História, e um apaixonado pela história do rock | EDUARDO TORRES

No seu anversário de 12 anos, o pequeno garoto pobre, lourinho da cidade de Tupelo, no Mississipi, pediu um presente aos pais. Queria ganhar um rifle. Ganhou um violão. O menino, Elvis Presley. 

E ali, em um reduto do blues e da cultura gospel, com pitadas de country, nascia o homem que mais tarde ficou conhecido como o "rei do rock", seguindo a trilha aberta, primeiro, por pioneiros negros como Robert Johnson e Chuck Berry. E, que tal, na tela de projeção da sala de aula, ao invés das matérias tradicionais, estar a letra da lendária School Days, de Chuck Berry, e sua mensagem rebelde dos anos 1950?

 

 

Pois, na manhã desta terça, o professor Gustavo Coelho realizou, no Quiosque da Cultura, durante a programação da Feira do Livro de Gravataí, aquele que provavelmente é o sonho de boa parte dos professores de História, como ele. Deu uma aula de rock'n roll aos estudantes do sexto ano de uma escola da cidade.

— É a realização de um projeto que eu venho trabalhando há 15 anos, quando comecei a dar aulas. Sempre me identifiquei muito com a cultura do rock e, no ambiente escolar, encontrei bem latente a discussão sobre a inclusão da temática da cultura negra no currículo. Ora, o rock deve tudo a esta herança. Decidi abrir este debate sobre a cultura negra e jovem no desenvolvimento histórico do estilo que mudou o mundo da música e do comportamento — diz.

 

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Coelho é professor de uma escola na zona norte de Porto Alegre, onde já incluiu no currículo a temática. Na manhã desta terça, a linha do tempo, é claro, estava bastante condensada, mas as reações do público foram sintomáticas.

— Em um primeiro momento, parece que o tema não comunica muito com a maioria, principalmente tão novos como o sexto ano, mas, aos pouquinhos, não tem quem não esteja, pelo menos, batendo o pezinho e curtindo o som — brinca o professor.

É que, no começo da história, quando ele explica os primórdios o blues e outras influências, alguns sorriam. Quando, na tela, passa o videoclipe de Jailhouse Rock, com Elvis Presley exibindo o "Passinho do Romano" ao estilo rock'n roll clássico, a turma já estava vencida pelo estilo.

 

: Os "passinhos" polêmicos do astro Elvis Presley | REPRODUÇÃO

 

A viagem no tempo passa pelos britânicos Beatles e Rolling Stones, volta aos Estados Unidos com a influência hippie e psicodélica e as portas da percepção de Doors, até retornar às raízes negras pela vibe da Motown e, logo depois, atravessar o oceano na batida potente do punk rock. 

O final desta viagem tem paradas pelo Grunge do Nirvana nos anos 1990, e, finalmente, a cultura Hip Hop.

— Pode parecer que é uma realidade meio distante da que a gurizada curte ou escuta hoje, mas nestas aulas, eu procuro mostrar as semelhanças de contexto. Há semelhança, por exemplo, entre a realidade dos músicos de blues e o sertanejo brasileiro. Ou na formação clássica do rock, com voz, guitarra, baixo e bateria, que está presente em praticamente todos os demais estilos. Ou ainda, as danças do Elvis, que eram subversivas, assim como as do funk atual. E o que dizer das letras dos primórdios do rock e a contestação que existe às letras do funk? No fundo, estamos falando de expressão cultural jovem — diz o professor.

E nada mais provocador e necessário do que levar essa mistura para a sala de aula.

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