oi, filho

Criar filho não é uma competição

A menina é mãe de um lindo bebê de dez meses. Tem os dez dedos da mão, os dez dedinhos dos pés, aparentemente não terá problema de calvície precoce, portanto tudo está em ordem, na mais santa paz. Um senhora mais velha a enche de perguntas sobre se ele está na creche ou não, se já caminha ou não, se está falando, comendo de tudo… A menina vai respondendo essas perguntas com a devida educação… Mas a senhora vai levando a conversa para outro lado, como se a menina não estivesse criando direito o próprio filho…

– DEZ MESES E AINDA NÃO CAMINHA? ISSO É MUITO ANDADOR…

– NÃO FALA AINDA? VOCÊS NÃO ESTIMULAM O SUFICIENTE…

– NÃO MAMOU? COMO ASSIM NÃO MAMOU NO PEITO? QUE ABSURDO!

O papo vai ficando carregado e eu tento salvar a menina calando a boca da vovozinha:

– Fica tranqüila guria, o Beni dava uns passos bem desengonçados no primeiro aninho, não mamou nenhuma semana e recém agora, com um ano e seis ta começando a falar mamãe a papai. Cada criança é uma criança. Não te preocupa – digo eu, encerrando o assunto.

Ser pai/mãe jovem não é muito fácil. São tantos conselhos, tantas simpatias, tantos costumes que tentam nos empurrar goela abaixo que muitas vezes somos obrigados a balançar a cabeça positivamente e dizer: aham, aham…

Dede e eu sempre gostamos de ouvir as dicas que nossos pais, tios e avós  tem para nos dar. Afinal se estamos aqui, criando o menino Beni, é porque eles souberam nos criar bem. O problema não é o conselho de quem a gente ama é o pitaco de quem não tem nada a ver com a criança, ou com a situação. Oras bolas minha senhora, você nem conhece o filho da menina para dizer o que é bom ou ruim para ele. Quem sabe isso é a mãe, o pai e quem mais eles pedirem conselhos, ou for íntimo o suficiente para conversar sobre isso.

Engraçado que eu lembrei daquelas senhorinhas que se encontram no ônibus para competir quem toma mais remédio:

– Eu tomo para pressão, coração, pros ossos, labirintite e também um para dormir!

– Ah, isso não é nada! Eu tomo três variedades em jejum, mais duas na hora do almoço e cinco antes de dormir. Sem meus remédios eu passo muito mal vizinha!

Pessoal não perde a oportunidade de querer competir. Na criação dos filhos é a mesma coisa, pois pior que ouvir conselhos não pedidos de quem formou o último filho na faculdade quando o Fernando Henrique Cardoso ainda era presidente, é ouvir aquele tipo de pai que todo mundo corre léguas de medo: o pai “meu filho é fod*”.

São pais de uma categoria de crianças superdotadas, inteligentíssimas, espertas, sagazes, Jackie Chan da bagaça toda. Você diz:

– Ah, meu filho deu Bom Dia pela primeira vez!

O pai “meu filho é fod*” responde

– Ah, o meu já lia as bulas de remédio com 2 meses.

Você diz:

– Meu bebê adora comer feijão, manda um pratão!

O pai “meu filho é fod*” responde

– Ih, isso não é nada menino. O meu já cozinha o próprio feijão desde os cinco meses e meio. Adora ver Masterchef o garoto!

Enfim, o pai fod* nunca será superado, nem ele, nem seus filhos. Mas se você que está lendo a coluna desta semana, assim como eu, não tem um filho superdotado, inteligentíssimo, esperta, sagaz e Jackie Chan da bagaça toda não tem problema.  Criar filho não precisa ser uma competição para ver quem faz mais em menos tempo ou quem consegue chegar na linha de chegada mais cedo.

Aliás, se você precisa fazer uma pequena conta mental cada vez que perguntam quantos meses seu filho tem, parabéns, isso significa que você está vivendo mais o hoje, sem se preocupar com o que vem amanhã. Uma hora seu filho vai estar grande, entrando na faculdade, ou trazendo uma namorada nova para casa e você vai se perguntar: onde eu estava que não vi tudo isso?

 

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