DAS URNAS #12 | Uma análise pragmática do que Gravataí perdeu e ganhou com as eleições no estado e no país. Siga mais detalhes nos links relacionados
Pragmaticamente falando, a eleição foi boa e ruim para a política de Gravataí. Ruim porque por mais quatro anos nenhum representante da política da aldeia terá mandato na assembléia legislativa ou na câmara federal. Patrícia Alba (MDB) e Dimas Costa (PSD) eram suplentes da coligação de José Ivo Sartori (MDB). Uma vitória do gringo guindaria a primeira-dama ou para o parlamento, ou para uma secretaria de estado. Para não ficar refém do governo, Dimas, oposição e de olho em 2020, estudava não renunciar o mandato de vereador para assumir como deputado, caso fosse chamado, para continuar beneficiado pelo ‘contra tudo que está aí’ que o fez ser o mais votado da cidade. Mas a sedução do poder não será mais testada, já que Eduardo Leite (PSDB) venceu. A não ser que o PSD participe do governo. O que também pode acontecer com o MDB, quem duvida.
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É claro que a política é muito mais que a aldeia, mas é sempre bom ter representação política. No balanço dos prós e contras, se no ano e meio em que, suplente, assumiu como deputado federal, Jones Martins (MDB), ao apoiar as reformas de Michel Temer foi vilão de outdoor dos trabalhadores, no quesito dinheiro na conta, a cidade recebeu R$ 20 milhões em emendas e outros R$ 33 milhões foram liberados pelo governo federal para iniciar o hospital do câncer, que atenderá toda região metropolitana.
O município também perde a interlocução direta com o Palácio Piratini, que era tímida, mas ao alcance de um telefonema de Marco Alba, no Rio Grande do Sul o prefeito da maior prefeitura do partido do governador José Ivo Sartori. Tímida porque, se as obras da RS-118 andaram como nunca, o alinhamento das chamas do símbolo do MDB nunca foi suficiente para o recebimento dos R$ 17 milhões em repasses atrasados desde 2014 para a saúde – o que coloca Gravataí como a cidade gaúcha com mais gente aguardando na fila por cirurgias eletivas pelo SUS, com 7.376 pessoas na espera, quase quatro vezes mais que Porto Alegre.
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Já a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) foi boa. Gravataí tem um interlocutor ligado às altas patentes do bolsonarismo. Seu vice no DEM gaúcho, o vereador Evandro Soares é o cara de Onyx Lorenzoni na região metropolitana. E o deputado federal será o ministro chefe da Casa Civil. Se Jones, deputado, tinha como padrinho Eliseu Padilha, número 1 de Temer, Evandro fala com Onyx pelo menos uma vez por dia. Inevitavelmente, será o ‘embaixador’ de Gravataí junto ao governo do militar eleito pelas urnas. Na sexta, Evandro e Marco já conversaram sobre isso – e 2020 – na prefeitura.
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Ainda no palanque, no discurso com ares de culto evangélico, que teve altos (a garantia do respeito às liberdades e à constituição) e baixos (as anacrônicas referências ao comunismo e socialismo), o ‘mito’ acenou para uma redistribuição dos recursos que beneficie mais os municípios, hoje sobrecarregados não só com saúde e educação, mas também com a segurança pública:
– Mais Brasil, menos Brasília.
Ao aderir ao SartoNaro no segundo turno, mais do que o antipetismo, essa foi a aposta do prefeito Marco Alba, dita por ele próprio no discurso: a valorização das prefeituras. Para se ter uma idéia, apenas um de cada três reais arrecadados pela união volta para os estados e municípios. A dúvida é se o presidente eleito vai abrir mão de um poder que, apesar das promessas que todos fizeram nos últimos 20 anos de campanhas eleitorais, nenhum antecessor cumpriu.
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Apesar de não ter sido o candidato de 6 a cada 10 eleitores que podiam dar seu confirma nas urnas neste domingo, a vitória de Bolsonaro foi incontestável. Ele é depositário de altas esperanças de um povo com medo. Foi eleito pelo voto popular, na delícia da democracia. Como já disse Carlos Drummond de Andrade, “uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave”.
Torçamos.
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