Seguimos com Pedro Ruas uma série especial com candidatos locais que disputam a assembleia legislativa e a câmara federal nas eleições de 2018. Num formato diferente, o Seguinte: ouve as histórias de vida e traz relatos em primeira pessoa, onde são os entrevistados que contam suas trajetórias.
Assista ao clipe que o Seguinte: produziu na casa do Ruas, na Tamoio, em Cachoeirinha. Depois leia a biografia
Nasci num abafado 3 de janeiro de 1956, em Porto Alegre, filho do Isnar, por 30 anos editor de economia do Correio do Povo, e da Flora, professora de didática da linguagem na rede estadual. Era uma família brizolista, onde as boas lembranças e a luta conviveram com o medo e perseguições, nos anos de chumbo. Meus pais se desquitaram cedo, então lembro da mãe brincar que os alunos queriam, mas ela nunca podia ser paraninfa das turmas. “Como seria, nos anos 60, desquitada e brizolista?”. Já o pai construiu a primeira imagem política no meu imaginário infantil: “O Brizola é o canhão do povo!”. Ele ajudou o Brizola no movimento da Legalidade e na clandestinidade.
Além da paixão pelo direito trabalhista e pela política, sou um cinéfilo e ex-motociclista de trilhas, o que abandonei para não infuenciar os filhos mais novos a andar de moto, principalmente depois que meu mais velho, Diego, inventou de praticar motocross. Sou pai também do Pedro e dos enteados Juliana, que criei desde os três meses, e Marcos e Tiago, filhos da Ester, minha companheira há 15 anos. Conselheiro do Grêmio, sou um tricolor de pai e mãe, com quem assisto aos jogos, uma partida com um, outra com outro.
Brizola é meu eterno ídolo. Quando o conheci em 79, tinha 23 anos, era um jovem estudante, ávido por conhecimento, e que sabia tudo da vida dele. Sabia que a mãe se chamava Oniva, que nasceu em 22, que veio para Porto Alegre aos 13 anos e, ao fazer os documentos, mudou de nome. O Itagiba se tornou Leonel de Moura Brizola, em homenagem ao comandante maragato de seu pai, José, na Revolução de 23.
Ele voltava do exílio. Tinha ficado um tempo em Nova Iorque, mas como não falava inglês aceitou o convite do primeiro ministro Mario Soares e em Portugal foi signatário da Carta de Lisboa e tornou-se vice-presidente da Internacional Socialista. No Brasil a missão era refundar o PTB. Como a Ivete Vargas ganhou a sigla na justiça, nasceu o PDT, cuja criação participei desde o primeiro dia, como vice-presidente da juventude socialista.
O primeiro encontro, de fã e ídolo, foi na casa do seu Macedo. Foram poucos minutos. Mas alguns dias depois vivi um momento mágico, ao participar de uma reunião de mais de cinco horas com ele, na casa do João Carlos Guaragna, que era conhecido como ‘o pombo’, grande amigo de Brizola e responsável por toda a interlocução do exílio para com os brasileiros. Era impressionante o magnetismo e o carisma do Brizola. Ele chegava e todo mundo aplaudia. Falava e fazia-se o silêncio.
Era um período efervescente. Além de Brizola voltavam à política nacional gente da estirpe de um Luis Carlos Prestes. Eu tinha estudado no Instituto de Educação, no Julinho, que era um sonho meu, e me formei em Direito na PUC. Sou daqueles que acredita que a vivência nunca é superior ao estudo. Nos livros e documentos você sabe depois muito mais sobre a época em que vive. Mas há situações em que é impossível descrever o clima de certos tempos. Lembro assim da ditadura. O medo pairava no ar.
É inesquecível, por traumático, um almoço em 71 quando, aos 15 anos, ouvi da mãe que o pai tinha sido preso. Sorte não acharem nada. Isso porque procuraram nos lugares errados! Ele foi solto depois de alguns dias, mas sofreu as conseqüências, psicológicas e práticas, como a perda do emprego na Sudesul. Preciso lembrar, até como uma homenagem, do Vitor Nunes, único advogado que aceitou representar meu pai na ação trabalhista contra a estatal.
Sempre fui de esquerda e pedi para um amigo desenhista, o Rubens Viana, para desenhar um Che Guevara nas costas de uma jaqueta de pano preta, que eu não tirava do corpo. Quando o pai saiu do Dops e me viu com ela, disse: “Bah cara, assim não dá, tu vai te ralar…”. Era o adolescente, filho do subversivo, fazendo o protesto que estava ao alcance. Com essa jaqueta fiz um amigo até hoje, o jornalista Olides Canton, que conheci no musical Hair e vestia uma jaqueta com John Lennon nas costas. Foi quando comecei a militar no setor jovem e brizolista do MDB. À época era MDB e Arena.
Comecei a advogar aos 21 anos, ainda estagiário, na área trabalhista, como faço até hoje. Era possível naquele tempo. Ia ao fórum, assistia às audiências e, quando algum trabalhador precisava de orientação, me apresentava. Aprendi muito com o Luis Eron Araújo, irmão do Carlos Araújo, com a Olga Cavalheiro e tantas outras sumidades. E estudava muito a história política gaúcha e brasileira. Devorava livros do Floriciano Paixão, o criador do 13º salário, que fazia levantamentos de votos e avaliações eleitorais. Dele trago até hoje um conceito: “Essa eleição é atípica. Como todas. Mais atípica que essa? Só a próxima”. Talvez por isso nenhum pleito me assuste.
Disputei minha primeira eleição em 82, aos 26 anos. Era o voto vinculado. O eleitor tinha que votar no mesmo partido para vereador, deputado, senador e governador. Uma lição que tirei foi a eleição de Werner Becker e do Cleon Guatimozin. Um era autor da famosa ação das taquigrafas, que denunciava aquelas 300 contratações sem concurso. O outro, o presidente da câmara de vereadores, era o acusado da falcatrua. Ambos foram eleitos pela notoriedade, um para o bem, outro para o mal.
Suplente, assumi o mandato. Uma inspiração foi Valneri Antunes, melhor vereador que já vi. Era um ex-preso político, que participou da luta armada e organizava o povo nos movimentos por moradia e barateamento do transporte público. Testemunhei ali a força do povo lotando a câmara e botando bafo na nunca dos vereadores. Ele adaptou uma Kombi com um estrado de madeira, que virava um palanque nas periferias, convidando as pessoas para acompanhar as votações. Tinha pautas semelhantes e a idade do Boulos, 36, 37 anos, quando morreu em um acidente de carro.
Fiz amigos, e ídolos políticos, como Marcos Classmann e Glênio Peres. A grandeza dessas pessoas pode ser ilustrada numa história de 77: na posse como vereadores, o Glênio fez o corajoso discurso “na terra do silêncio”, denunciando os crimes da ditadura. Saiu até na revista Time norte-americana. Foi cassado. Na sessão seguinte, o Classmann, que assumiu como suplente, repetiu na posse o mesmo discurso. Foi cassado também. Não durou um dia no mandato! Arrepia só de contar. Tive sorte de existirem e poder conviver com eles.
Nessa passagem aprendi como usar a justiça na luta política. O advogado Otávio Caruso da Rocha, o Gago, que como eu usava suspensório desde criança, aproveitou a lei da anistia, de 79, e entrou com uma ação. Ganhou. Glênio e Classmann foram os únicos vereadores da história do país reintegrados ao cargo. Sempre lembro uma frase do Luis Eron Araújo: “Direito se cria na rua”.
O primeiro projeto que aprovei em Porto Alegre foi modelo para várias cidades do país: a lei do troco. Não tem troco, viaja sem pagar. À época apurei que as empresas largavam os cobradores sem troco no início das viagens. Também sou autor da lei do transporte hidroviário de passageiros, duas décadas depois usada pelo Fortunati para o catamarã. Nunca tinha sido aplicada antes pelo poder brutal que sempre exerceram as empresas de ônibus. Minha lei permite, e espero ainda ver, uma ligação em 3h do Guaíba, passando pelas lagoas dos Patos e Mirim, até o Uruguai. Esse tema do transporte sempre foi caro para mim. O direito de ir e vir não pode estar atrelado ao lucro. Deveria cobrir o custo e deu. É uma coisa que mexe na vida das pessoas. Nessa luta já conseguimos reduzir as passagens duas vezes e temos uma ação contra o Trensurb, que vamos ganhar também. Na luta pelos 0,20 centavos, que repicou para todo país, surgiram as históricas jornadas de junho de 2013.
Militei muito na OAB, fui conselheiro estadual entre 86 e 88 e 94 e 96, e conselheiro federal entre 97 e 98. Em 86 também presidi a Agetra, associação gaúcha dos advogados trabalhistas. A dedicação à política de ordem me custou a reeleição em 88. Naquela eleição também aprendi a importância de divulgar o que se faz. As pessoas sabem pouco do que acontece na câmara de vereadores.
Em 89, a pedido do próprio, coordenei no Rio Grande do Sul a campanha do Brizola para presidência da república. Tenho a convicção de que foi uma eleição manipulada para colocar no segundo turno o Lula, que era um adversário mais fácil para o Collor vencer. Achei a contagem de votos, à época em cédulas de papel, muito suspeita. E o presidente do TSE, José Francisco Rezek, logo depois da posse do Collor renunciou e foi nomeado ministro das relações exteriores…
Aquela eleição também me ensinou que algumas coisas na política se tornam verdades, mesmo sendo fakenews. No episódio do ‘sapo barbudo’, a verdade é que o Brizola disse que apoiaria o Lula por ser um sapo que a elite teria que engolir. “E um sapo barbudo”, complementou, daquele seu jeito. Criou-se a lenda de que ele disse que o Lula era um ‘sapo barbudo’ como uma crítica, uma coisa pejorativa, ruim. Eu dizia: “Dr. Brizola, mas o senhor não disse da forma que estão mancheteando, o senhor disse que era um sapo para as elites, não para o povo…”. Ele dava de ombros: “Que vou fazer agora…”. E o próprio Lula acreditou mais na versão do que na realidade. Naquela eleição Brizola fez 70% dos votos aqui no RS. Se fosse ele o presidente o Brasil hoje seria outro. Estava na idade certa, tinha 67 anos, estava pronto, tinha o carinho do povo e era um homem do mundo.
Voltei à câmara em 92, como o segundo mais votado entre os 11 do PDT. Fui reeleito em 96 e em 98 fiz aquele absurdo de votos, 623.460, 101 mil só em Porto Alegre, concorrendo a senador na chapa Lula/Brizola. Naquela eleição de 98 fiz um movimento coordenado pelo Brizola que garantiu a vitória às esquerdas. O Antônio Britto (PMDB) não tinha sido eleito em primeiro turno por apenas 0,4% dos votos. O Brizola, com quem falava diariamente, pelo telefone fixo, já que ele não gostava de celular, me perguntou quantos prefeitos apoiariam Olívio. Informei que, dos 80, 19 não apoiariam o PT de jeito nenhum. “Expulsa”, ele determinou. Toquei o processo em três dias, junto ao Wilson Muller e o Sereno Chaise. O Olívio ganhou a eleição e participamos do governo: eu, próximo a Brizola e ao Olívio, fui secretário de obras, o principal espaço do partido; a Dilma foi para minas e energia; o Renan Kurtz para o mercosul; o Milton Zuanazzi para o turismo e o Sereno para o Banrisul.
Em 2000 aconteceu o rompimento e uma das maiores decepções da vida do Brizola. Um movimento puxado pelo Collares e a turma do Rio tornou insustentável a aliança com o PT. O Brizola me passou a ordem: “se romper, entreguem os cargos”. Eu morreria, mas não descumpriria um compromisso com ele. E, justamente eu, que gostava do governo Olívio, que era o mais próximo ao governador, fui o único a sair. Os outros ficaram nas secretarias e ainda se filiaram ao PT. Em meio a essa convulsão, Brizola me pediu para não me licenciar em maio para concorrer, então não pude disputar a eleição. Quando fui reassumir para os últimos três meses de mandato, chego à câmara e o Brizola estava lá, na porta. “Vim para entrar contigo”. Entrei chorando, ao lado meu ídolo desde a mais tenra infância, que naquele gesto magnífico me provava a importância da lealdade.
Eu estava sempre entre Porto Alegre e o Rio, atendendo aos chamados do Brizola. Ele dizia para todo mundo: “Quer que isso se resolva, chama o Pedro”. Pelo que lembro, cumpri todas as missões. Muitas histórias não conto porque não sei se ele autorizaria. Ele gostava muito de mim, dizia que eu ia para o confronto sem medo, mas sem perder a ternura, como Guevara. Alguns causos contei no livro que a neta Juliana Brizola escreveu. Uma delas me apresentou um dilema terrível. O Olívio me escalou para receber o governador Anthony Garotinho na primeira visita ao estado, em março de 99, logo depois de eleito. Estava no carro oficial quando o Brizola ligou.
– Que estás fazendo? – perguntou, possivelmente já sabendo a resposta.
– Estou indo recepcionar o governador Garotinho.
– Chegue lá e diga a ele que não é bem-vindo ao Rio Grande do Sul e não ouse botar os pés na sede do PDT.
– Mas, doutor Brizola, tenho delegação do governador para recebê-lo…
– Então o receba como secretário de estado e depois represente o PDT nacional.
Quando ainda tentava argumentar ele se despediu e desligou. Com o coração na boca, fui até a sala vip do Salgado Filho e, em nome de Olívio, dei as boas vindas a Garotinho e a esposa Rosinha. Ele foi para a entrevista coletiva e eu até o bar, onde acendi um cigarro, pensando em como cumpriria a missão. Num intervalo, o Garotinho foi até onde eu estava e pediu um cafezinho. Pensei: agora ou nunca:
– Governador, em nome do PDT nacional…
Ele ficou com a xícara de café na mão, parada entre a mesa e a boca, e após segundos que pareceram uma eternidade, devolveu:
– Foi Brizola que mandou, né?
– Sim. E com licença – respondi e fui embora.
Mal tinha saído do aeroporto e vibra o 021 no celular.
– Me conte como foi… – Brizola perguntou.
Quando terminei a história, ele só disse: “viu, te falei que conseguirias, um abraço”. E desligou.
Brizola me proporcionou missões de extrema grandeza, como encontrar com Yasser Arafat quando o Al-Fatah se integraria à Internacional Socialista. O jornalista José Barrionuevo me disse à época que achava que eu era o único brasileiro que tinha uma foto ao lado do líder palestino. Acredito que só eu conseguia tirar o Brizola do meio da multidão. Ele combinava um horário comigo e eu às vezes precisava puxá-lo pelo ombro. Tem uma sensacional, que mostra a idolatria que o povo tinha com Brizola. Candidato a presidente em 94, íamos para Três de Maio quando ele viu barracas de lonas pretas na estrada. Eram 3h da madrugada.
– O que é isso?
– Um acampamento de sem-terra.
– Vamos parar para dar uma conversada.
– Mas é perigoso, doutor Brizola.
Não teve jeito. Lancei-me à frente, nos embretamos no campo e estávamos pulando uma cerca quando apareceu um sujeito, com uma camisa surrada do Grêmio, apontando uma espingarda.
– Calma que é o doutor Brizola! – avisei.
– Que Brizola?
– O Brizola!
– Impossível o Brizola aqui!
Nisso aparece o homem, com a camisa azul arremangada e a gravata vermelha, e nosso anfitrião atirou a espingarda no chão e se jogou aos pés, chorando e dizendo que o pai falava do Brizola o tempo todo. Gritava “O Brizola tá aqui!”. Acordaram adultos, crianças… foi uma festa!
Em 2003 fui secretário de indústria e comércio de Cachoeirinha, por indicação do PDT, mas em menos de um ano sai para voltar a advogar. Quando Brizola morreu em 2004, deixei o partido depois de 26 anos. Mais que partidário, eu era um brizolista. Foi um baque muito grande quando uma gripe se transformou numa pneumonia e o levou. Eu ia parar com a política. Por coincidência, o PSol nascia. Eu e a Ester, que presidia a ACC, associação comercial de Cachoeirinha, tínhamos começado a viver juntos na cidade, e passamos a debater uma filiação. Era muito exigente para entrar em um partido, mas o PSol se apresentava como tudo aquilo que eu queria. Por convicções, abriram mão do poder, no auge do governo Lula, políticas como a Heloísa Helena e a Luciana Genro, de quem o Brizola gostava muito e chamava de “a guria do Tarso”. Então nos filiamos a esse partido radical, de esquerda, guerreiro, que não se rende e não se vende.
Não somos um partido que filia a varrer. E mesmo assim temos desastres como o Cabo Daciolo, que liderou uma greve de bombeiros, se filiou ao PSol e foi eleito. Quando conheci o cara, alertei: “É maluco!”. O primeiro projeto era uma PEC que tentava uma cláusula pétrea da constituição, de “todo poder emana do povo” para “todo poder emana de Deus”. Erramos, mas logo o expulsamos. Acredito que um partido tem que ser a soma das virtudes, não dos defeitos de seus filiados. Um partido precisa ter uma vida mais longa do que aqueles que o integram, tem que atravessar gerações. Hoje nossa luta é por vitórias mais políticas que eleitorais, como ultrapassar a cláusula de barreira, no que o Boulos tem um importante papel concorrendo à presidência, como tem o Marcelo Freixo no Rio, e aqui no RS eu, o Roberto Robaina, a Luciana Genro, a Fernanda Melchionna…
Em 2006 fiz 18.406 votos, mas o PSol não atingiu votos suficientes na legenda para garantir nosso primeiro mandato na assembleia. Em 2008, fui o segundo vereador mais votado e voltei à câmara da capital. Em 2010 concorri a governador e recebi 37.934 votos. Em 2012 fui o vereador mais votado de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, com 14.610 votos. Em 2014 cheguei à assembléia legislativa, como o primeiro deputado eleito pelo PSol gaúcho, com 36.230 votos. Orgulham-me as ações para reduzir as tarifas de ônibus. Este ano foi publicado um livro, que lembra que as jornadas de junho de 2013 começaram em abril, em Porto Alegre. Foi quando ganhamos ação que movemos em 2011. Foi um grande movimento popular, que infelizmente a direita e a extrema direita, que desde os anos 30, com os integralistas de Plínio Salgado, não saiam às ruas, souberam aproveitar, com o surgimento do MBL e outros movimentos financiados pelo capital estrangeiro.
Como fui testemunha dos crimes da ditadura, valorizo demais a conquista da democracia. Na subcomissão memória, verdade e justiça da assembléia, editamos uma publicação com relatos de perseguições e mortes, ouvindo presos e torturados. E, simbolicamente, seguindo um movimento internacional de desmonumentalização, conseguimos mudar o nome da Castello Branco para Avenida da Legalidade, o maior movimento cívico da história do Rio Grande, e que nunca recebeu nenhuma homenagem. A Gran Via, por exemplo, que é a principal avenida de Madrid, antes se chamava General Franco. Como justificar homenagens a responsáveis por crimes contra os direitos humanos, torturas e mortes? Sempre comparo: seria aceitável uma rua Adolf Hitler? A lei foi suspensa, mas vamos ganhar. Na pesquisa que fiz descobri que foi criada num canetaço, por ordem do Médici em uma churrascada pela inauguração da freeway. Nunca houve projeto de lei.
Minha equipe tem postado em meu facebook uns vídeos que intercalam declarações minhas na propaganda eleitoral de 98, quando concorri ao senado, com falas atuais em que digo as mesmas coisas. “Vote contra o governo”, dizia à época, alertando para a retirada de direitos trabalhalistas com o desmonte da Era Vargas, que era o objetivo do Fernando Henrique Cardoso, inspirado numa pauta mundial disseminada a partir do Consenso de Washington. E que o Temer executou agora, também ameaçando as empresas nacionais. O Banespa foi vendido ao Santander em 97 por R$ 3 bilhões, tendo R$ 4 bilhões em créditos com o governo federal, que pagou tudo imediatamente. Ficaram com o banco e lucraram R$ 1 bi! A Vale do Rio Doce também se pagou em menos de um ano. Negociavam em moeda podre, que para o governo tinha o valor integral e no mercado não se negociava por mais de 20%. As privatizações foram um crime lesa pátria.
Em meu mandato fui linha de frente na oposição ao Sartori, que faz um governo de destruição do estado, sem nenhuma criatividade. Busco o próximo mandato para seguir na defesa do funcionalismo, que é tratado como inimigo pelo governo, e vou lutar pela recriação das fundações recém extintas. Hoje não se sabe o PIB do RS porque não existe mais a FEE! É um governador que se apresenta como humilde mas governa para os ricos. Denunciei isenções fiscais para gente como o Lírio Parisoto, um dos homens mais ricos do Estado, que ganhou R$ 380 milhões para gerar cinco empregos! Buscamos também um crescimento do PSol. Esperamos crescer agora e ainda mais nas eleições municipais de 2020. Entendo que nos falta ser governo, para provar que somos diferentes. Sou da corrente que defende investir em ganhar a prefeitura de cidades como Cachoeirinha, por exemplo. Acho que podemos agir rapidamente, na mobilidade e incentivo ao shopping ao ar livre que é a avenida Flores da Cunha, instalando passarelas; podemos regularizar a grande ocupação que é a cidade; mexer com o transporte público, um dos mais caros do mundo; cobrar IPTU dessa área de 2,5 mil metros quadrados do Mato do Julio, que paga só imposto rural sem o plano diretor da cidade prever áreas rurais. E revogar todas as medidas que retiraram direitos dos servidores e levaram à maior greve da história do município.
Penso sempre no que Brizola diria se hoje vivesse. Ele, que está no Guinness como o governador que, com as 6.312 ‘brizoletas’, foi quem mais criou escolas no mundo! Para ele o dinheiro público era sagrado. Hoje se perdeu o conceito republicano, de que aquilo que é de todos é o mais importante. Um estadista como ele estaria triste em ver esse Brasil. Mas sempre combativo. É nos tempos difíceis que não podemos fugir da luta. E eu sigo na nossa busca por justiça social, por igualdade de oportunidades. Não posso aceitar que uma criança de sete anos já tenha seu destino escrito, que não possa disputar nada na vida. Não calarei nunca enquanto houver esse apartheid social.
Digo aos jovens para nunca desistir da política, porque só ela transforma, só por ela se pode mudar a vida dos que mais precisam, além dessa possibilidade nos ter sido garantida por aqueles que pela democracia entregaram a liberdade e até a vida, como meu amigo Paulo Stuart Writh, preso no Doi-Codi em 73 e cujo corpo nunca foi encontrado.
O PSol é um partido necessário e acredito que meu mandato também é, na defesa dos trabalhadores e pela democracia. Por isso, peço teu voto para deputado estadual. Vote contra o governo!
Meu número é 50000.
: Pedro Ruas, Roberto Robaina, Luciana Genro, Ester Ramos e Fernanda Melchionna apresentando ao Tribunal de Justiça ação para redução nas tarifas de ônibus