pequenas empresas, grandes histórias

COM VÍDEO | FreeSurf, de olho na onda perfeita

O surfista gravataiense Gláuber Pacheco ganhou o Brasil e o mundo com sua marca | GUILHERME KLAMT

Jeffrey’s Bay, na África do Sul. Um dos picos mais consagrados do surfe mundial, primeiro, pelas altas ondas, mas, mais recentemente, também pelos ataques de tubarão. Em 2007, o empresário gravataiense Gláuber Pacheco e todo o seu time FreeSurf estavam lá para uma expedição de 18 dias. Voltaram com histórias de grandes ondas, mas só depois do susto inicial.

— Era aquele horário do amanhecer, que é ideal para pegar altas ondas, mas, dizem, também é o horário preferido para a refeição dos tubarões. Olhamos aquele marzão, vazio. Deu um receio, mas aí eu disse: “tem caras que moram aqui há 40 anos pegando essas ondas, e estão com os braços e as pernas inteiros, vamos pra dentro” — lembra, como um dos “causos” que não saem da memória depois de 28 anos transformando o mundo do surfe brasileiro.

 

 

Quem diria, lá no final dos anos 1980, que a ideia do guri que pegava ondas desde os 14 anos, com a prancha que herdou de um ex-cunhado, e era um dos expoentes da Associação Surf Brothers de Gravataí (ASBG) — o grupo que botou Gravataí no mapa do surfe gaúcho, mesmo tão longe do mar —, viraria a marca Freesurf e, posteriormente, a fábrica Magic Brands, que também produz nos últimos oito anos a marca Code, de skatewear?

— Eu queria achar um jeito de ficar próximo do esporte que uma das minhas razões de viver até hoje, estava com 20 anos e tentando me encaixar no mercado de trabalho. Era bom em vendas, mas não encontrava algo que eu vendesse bem. Então, comecei eu mesmo a produzir uma confecção. Olhava a Fluir (revista de surfe), na época, e via o que marcas como a Brasil Surfe conseguiam fazer e achava que eu nunca chegaria lá — lembra.

Iniciou a FreeSurf oficialmente em 1990, a partir do bairro Cohab, em Gravataí. Era o próprio Gláuber que ia de ônibus a Porto Alegre, comprava os tecidos, preparava os moldes na sala de casa, desenvolvia a serigrafia e outros detalhes de cada peça e seguia, com tudo em uma bicicleta, até a costureira.

De lá, ele distribuía para venda na Região Metropolitana.

— O faturamento era, basicamente, para eu ter dinheiro e poder ir surfar nos finais de semana. Ir a Tramandaí, às vezes Torres. Até Garopaba, era um pouco mais difícil, mas rolava também — conta.

 

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Pois o negócio ganhou seriedade. E o sonho virou uma empresa que hoje emprega 110 pessoas em Gravataí. Aqui, funciona em torno de 50% do processo de produção da marca. Há outros setores da manufatura feitos no Interior e em Santa Catarina.

Diferente de outros ramos da economia, neste mercado, o fato do empresário ser um dos consumidores certamente aumenta a credibilidade do produto e a confiança na marca. Ainda hoje, o próprio Gláuber e seus parceiros de empresa testam novas tecnologias em roupas, pranchas ou outros produtos de suas marcas.

— Posso dizer que hoje o meu guarda-roupas é 100% FreeSurf e Code. Isso me dá muita tranqüilidade para absorver eventuais críticas, observar tendências e garantir qualidade aos nossos produtos — explica.

 

Os freesurfers em mar revolto

 

A expansão da FreeSurf, hoje encontrada em lojas do Brasil inteiro, aconteceu em uma época onde as marcas brasileiras dominavam, de fato, o mercado nacional de roupas e acessórios de surfe e skate. Na última década, o mar, literalmente, encheu de tubarões.

— Enquanto para produzir no Brasil nós temos uma pesada carga tributária, que influi diretamente no custo das matérias-primas e no preço do produto final, marcas internacionais chegaram ao mundo inteiro com o impulso da produção chinesa, com custos muito menores. No mercado externo, é impossível concorrer com as marcas que produzem lá. Eu diria que só eles exportam hoje em dia — diz.

Ainda assim, a FreeSurf já tem sua marca registrada em países como a Austrália, Estados Unidos, Portugal e outros países europeus, no Uruguai, Chile. O momento, como explica o empresário, é como o daquele surfista que está prioridade da onda, mas precisa esperar a série perfeita para entrar, ou acaba engolido pelo mar e pelos concorrentes.

É por isso que o Gláuber tem sua própria estratégia para continuar crescendo em um cenário restritivo.

— Nós não deixamos se perder a essência, que é ser freesurfer, de fato. É claro que é muito difícil hoje em dia você ter a sua marca relacionada com um atleta da elite do surfe mundial. Mas o nosso foco é nos comunicar com quem gosta de surfe, com quem procura as ondas e vivencia elas. Dificilmente a pessoa comum vai se tornar um Gabriel Medina, mas ela pode ir até Santa Catarina e pegar uma onda legal, pode fazer uma trip bacana e encontrar altas ondas. Essa é a imagem que preservamos na FreeSurf — conta.

 

: Empresário, sim. Mas sempre em contato com o mar. É a rotina do Gláuber | ARQUIVO PESSOAL

 

E isso pode ser visto a cada etapa do circuito mundial de surfe (WSL) transmitida pela ESPN. A FreeSurf é uma das principais patrocinadoras das transmissões e, a cada campanha, as imagens esbanjam o espírito livre do surfe.

— É algo que sempre me renova a energia. No mar, tudo se iguala. É um ambiente democrático de verdade — resume o surfista Gláuber Pacheco.

O retorno das campanhas em cada transmissão do surfe não poderia ser melhor. O público consumidor de surf e skatewear é cada vez mais diverso.

— Temos sempre aquele retorno de pessoas que não tinham nenhuma relação com o surfe, que acham legal terem visto a marca durante a transmissão das etapas. Estamos aproveitando o momento que, se é complicado no mercado, em termos de imagem do surfe, nunca esteve tão bacana. De oito etapas do cricuito mundial, sete foram vencidas pelos brasileiros — vibra.

 

Pelo mundo

 

O Gláuber não abre mão das expedições feitas pela FreeSurf e a Code. Hoje a marca tem no seu time surfistas como Binho Nunes, que é um freesurfer atualmente morando no México, Júnior Lacerda, especialista nos aéreos, Diego Santos, que é um caçador de tubos no Hawaii e Thiara Mandelli, longboarder paranaense. No skate, o gaúcho Yago Picachu e o paranaense Piolho, que tem título mundial, vestem a Code.

Mais do que viagens que valorizam a marca e geram conteúdos editoriais e de marketing, cada trip carrega consigo uma missão social. Fotógrafos e outros prestadores de serviço sempre são contratados entre os locais.

 

: Ações como a preservação do meio ambiente estão sempre presentes nas expedições | DIVULGAÇÃO

 

— Sempre fazemos doações e ações sociais em comunidades locais. É um compromisso também, no surfe, não levarmos nada que signifique ter tirado alguma coisa de casa lugar por onde passamos. O espírito das expedições é sempre o de trocar experiências e voltar em equilíbrio consigo mesmo — diz.

A expedição mais recente foi para a América Central. Gláuber costuma acompanhar pelo menos uma por ano. Todas elas podem ser conferidas em textos, imagens e vídeos no site da FreeSurf ou ainda pelas redes sociais da marca gravataiense.

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