eleições 2018

Juliano Paz, um pé em Gravataí, outro em Cachoeirinha

Juliano Paz, na avenida Marechal Rondon, na divisa entre Gravataí e Cachoeirinha | Foto HENRIQUE LAMEL

Sempre identificado como o 'número 1' do governo Miki Breier, Juliano Paz é candidato a deputado estadual pelo PSB. O Seguinte: foi ouvir o ex-vereador de Gravataí, ex-secretário estadual adjunto do trabalho e desenvolvimento do estado, ex-secretário de governança e gestão de Cachoeirinha e vice-presidente do partido no estado que, residente na 'fronteira' da Morada do Vale, tem um pé em Gravataí, outro em Cachoeirinha.

 

Seguinte: – Por que ser candidato?

Juliano Paz – Por que se não serão sempre os mesmos. Não há saída que não seja pela boa política, que ainda é a única forma de proteger os que mais precisam. É necessária a participação de gente que valorize a decência, o compromisso público, a participação e contato direito com as pessoas. Me sinto preparado para representar as comunidades que me conhecem.

 

Seguinte: – Tens militância política desde a adolescência. Como é pra ti, que dedicas teus anos à vida pública, fazer política, pedir voto, em um momento em que a política e os políticos são associados a tudo de ruim que há na sociedade?

Juliano Paz – Chegamos a esse ponto pela forte influência do poder econômico nas eleições. As pessoas pararam de concorrer e votar por princípios e idéias. O que se vê são associações por interesses particulares, tanto pelo político como com muitos eleitores, longe daquilo que é a essência da boa política, que é pensar no todo. É um momento de extrema deterioração do sistema. A única virada possível é eleger quem coloca o interesse público, da coletividade, acima dos interesses escusos. Nunca gostei de fazer campanha falando em honestidade, porque considero uma obrigação não só do candidato, mas de qualquer pessoa. Infelizmente, hoje você precisa falar disso antes de tudo. Ser correto é uma distinção! Bom é que as pessoas já não se contentam apenas com conversinha e buscam informações. Por isso luto tanto pela transparência, pelo contato direto com o eleitor.

 

Seguinte: – Uma de tuas características no governo foi não se esconder de temas polêmicos. Não disseste apenas sim, mas não também. Para o político, isso tem ônus e bônus…

Paz – É uma marca que carrego. As pessoas sabem quem sou, o lado que estou. Sempre fui transparente na minha vida pública. No governo, assumi o ônus de falar com honestidade. Não minto para ficar de bem com alguém. Considero uma obrigação do gestor. Assumimos em um momento tenso, onde Cachoeirinha, como o Brasil, enfrentava a pior crise econômica dos últimos 30 anos. Todo homem e mulher que trabalha, ou mesmo está desempregado, e precisa equilibrar as contas da família, que tem que dar um jeito de cuidar da casa, sabe que quando não há recurso disponível é preciso cortar e dizer não. Você começa cortando supérfluos e, se ainda assim as contas não fecham, é preciso sacrifícios maiores. As pessoas assalariadas, de vida modesta como a gente, sabem bem como é. Infelizmente a gestão pública no Brasil foi expropriada por figurões, por grupos políticos que se sucederam agradando grandes corporações, via de regra os que ganham mais. Nosso compromisso é governar para todos. Digo isso com a simplicidade que falo a todos na rua. O poder público não pode servir ao gestor, ou aos servidores, mas sim a toda população.

 

Seguinte: – Estavas na linha de frente do governo durante a crise com o funcionalismo, que levou a maior greve da história de Cachoeirinha. Que lições ficaram?

Paz – Até hoje, nas minhas mais de duas décadas de vida pública, foi uma das maiores experiências de tolerância, de ouvir o outro lado e agir em um momento que não permitia empurrar com a barriga. Compartilhamos várias mesas com as categorias, apresentamos dados, falamos o que pensávamos, e estávamos abertos a sugestões sobre dados reais, sem discurso fácil. Não gostei de nada do que precisava ser feito, mas a realidade não permitia manter as coisas como estavam. O gasto com os servidores estava muito alto e era urgente reduzir a folha para que a prefeitura pudesse atender a toda a população. Em algumas propostas voltamos atrás, outras precisamos aprovar sob a dura realidade dos números, mas criamos regras de transição, sempre com muito diálogo e sem esconder nada, nem dos servidores, nem da sociedade, que escolhe um prefeito para que decisões sejam tomadas. Nunca desisto do diálogo. Mesmo com toda crise, duvido encontrar representante de categoria que não foi recebido em minha sala. O chimarrão sempre esteve lá.

 

Seguinte: – Não há como dissociá-lo do governo Miki. És apontado sempre como o ‘número 1’ da gestão e auxiliar mais próximo do prefeito. Como avalias um ano e sete meses no poder?

Paz – O governo está se consolidando. Primeiro enfrentamos um momento de mudança, onde mesmo com a proximidade partidária com o grupo político anterior, você vive uma nova percepção, já que não estávamos dentro da gestão. Isso é natural em qualquer sucessão. Entendo que hoje as pessoas já têm uma boa imagem, de um governo absolutamente honesto, absolutamente transparente e absolutamente presente na cidade. São coisas fundamentais para uma nova política. Mas ainda buscamos caminhos para eficiência, não chegamos ao ponto da gestão de resultados que almejamos. A estrutura funcional da prefeitura de Cachoeirinha, como de outros municípios, é um tanto ultrapassada e a modernização é uma necessidade. O que ninguém pode dizer é que, durante essa difícil transição, nos encastelamos. O prefeito Miki e o governo estão sempre presentes. Para dizer sim ou não, para explicar nossos projetos, e temos planos muito bem definidos, sempre sob a luz da transparência.

 

Seguinte: – Qual tua principal colaboração no governo?

Paz – Muito me alegrou estar na linha de frente do projeto das novas calçadas. Me coube gerir o que chamamos de projetos transversais, onde a meta era não deixar secretarias como caixinhas fechadas, ou miniprefeituras, o que é uma deficiência rotineira nos governos. A maioria dos prefeitos reclama que não consegue vencer isso. Ainda não chegamos ao ideal, mas hoje já não se vê um secretário olhando somente para sua pasta, e sim para o conjunto do governo e o resultado que isso trará para a sociedade. Em resumo, tudo tem que ser competência de todos. Hoje há planejamento estratégico e gestão de projetos, com ações de início, meio e fim. Como exemplo, cito as calçadas porque é o primeiro programa que salta aos olhos, que aparece para o lado de fora do governo. É um trabalho que envolve planejamento, engenharia, mobilidade urbana, indústria e comércio e parcerias. Buscar parceria é uma palavra de ordem do governo. No governo Miki teremos uma nova Avenida Flores da Cunha que fará inveja a muitas cidades gaúchas. Acredito que, com a experiência que tive na assembléia legislativa, os contatos com o governo estadual e federal, também consegui destravar projetos que poderiam não acontecer, como a UPA.

 

Seguinte: – Criaste uma ferramenta de contato direto do governo com a população, que é o live no Facebook. Tem funcionado?

Paz – Não tenho duvidas de que duas ferramentas serão herança do governo Miki ao final de, assim esperamos, seus dois mandatos. Um é o Prefeitura com a Gente, que está em diferentes bairros a cada 15 dias, levando o prefeito, secretários e colaboradores ao lugar onde as pessoas vivem. Você tem o contato, a vivência real da vida das pessoas, você ouve e vê a realidade da escola, do posto de saúde, pisa no barro, olha o buraco, percebe a grama que cresceu. É fazer a política no meio da polis. E o outro contato direto a que te referes é o Diálogos com a Cidade, que acontece no ambiente do Facebook, que hoje todo mundo usa. Quando levei a proposta da live semanal, alguns amigos ficaram assustados. “Tá louco, quem está no Face só vai falar mal de vocês, do governo!”, alertavam. Defendi a idéia e o prefeito bancou. Se não temos o que esconder, e não temos segredos, melhor ouvir as reclamações, perceber o que podemos mudar em nossas ações e explicar o porquê de algo não ter sido feito ainda. Você junta a reivindicação com a fonte da informação, no caso o governo, e tira a versão do meio do caminho. Se a idéia é buscar soluções, vamos jogar luz nos problemas, colher boas idéias e mostrar para as pessoas que temos planejamento. Ninguém agüenta mais ser enrolado. As pessoas preferem a verdade.

 

Seguinte: – Pretende levar essas ferramentas para a assembléia legislativa?

Paz – Já estou adotando na campanha, com duas lives por semana, os Diálogos de Paz, com uma hora ao vivo, trazendo convidados para tratar de temas que mexem com a vida das pessoas, como saúde, educação, segurança. Vou levar a ferramenta para a assembléia, para que as pessoas saibam o que está em discussão no estado, meus projetos, como votei.

 

Seguinte: – Foi o responsável por filiar ao partido Miki, Stédile e Anabel Lorenzi, hoje entre as principais lideranças do PSB gaúcho. Como aconteceu?

Paz – O Miki foi meu professor na sétima série do Getúlio Vargas, na Morada do Vale I, e desde aquela época nos tornamos amigos. Digo a todos que sou aluno dele até hoje. Depois fomos colegas vereadores, ele em outro partido, mas sempre com muita fraternidade. Quando em 2005 o PT virou um pouco do que é hoje, perdeu marcas de compromisso público, de decência na gestão, várias pessoas no Brasil se movimentaram, e eu sabia que o Miki estava incomodado. Conheço a índole dele. Também desagradava a ele tanta briga interna no PT. Como vice-presidente, apresentei o PSB ao Miki, a Anabel, ao Stédile que era prefeito, aos vereadores e secretários. Deu certo.

 

Seguinte: – Costuma dizer sempre que o PSB é teu único partido. E, além de Miki, Beto Albuquerque e Eduardo Campos são tuas referências.

Paz – Estudava e trabalhava, era office boy em Porto Alegre, tinha uma militância social na igreja católica, na comunidade franciscana da Santa Rita de Cássia, paróquia Rede de Comunidades São José, mas queria participar do processo político em um partido onde pudesse aprender, mas também tivesse voz, pudesse dizer o que pensava. À época acompanhava o trabalho do Beto, que juntava assinaturas nas escolas e faculdades pela criação da Uergs, da Maria Augusta Feldman, que tinha sido presidente do Cpers, e do Bernardo de Souza, que tinha criado o Orçamento Participativo, à época uma inovação em participação popular. Era 1995 e os três, deputados estaduais pelo PSB. Um dia, no intervalo de almoço, visitei a sede do PSB. Lá o Carlos Orling, até hoje secretário da executiva, me disse: “se tu quer um partido cheio de dinheiro, para te dar estrutura, bancar tua campanha, pegar tudo pronto, não podemos te oferecer; mas se tu quer ajudar a construir um partido, trazer tuas idéias, para um dia sermos grandes, estamos de portas abertas”. Era tudo o que queria. Na época tínhamos 3 prefeitos, 3 vices e 20 vereadores. Hoje são mais de 300 vereadores, 30 vices, 30 prefeitos. Falo com orgulho que nunca troquei de partido porque ajudei a construir o PSB, participei do crescimento. Com 40 anos, estou há 15 na direção estadual, sou um dos mais antigos. Se tivesse errado, trocaria. Com 17 anos fiz uma escolha que me orgulha até hoje. O Beto se tornou um amigo e um líder que admiro e defendo com unhas e dentes. É uma referência. O Eduardo Campos é um símbolo de vida política, um homem que tive a honra de conviver no período da juventude do partido, de ouvir ao lado do avô Miguel Arraes. Eduardo acolhia, tinha alegria, relações respeitosas, inspirava coisas boas. Hoje, 13 de agosto, data do acidente que tirou a vida dele, é um dos dias do calendário que considero mais tristes. Eduardo faz falta para o Brasil. A gestão que ele fez em Pernambuco não é modelo só para o PSB, mas para o Brasil e para o mundo, premiada pela ONU. É uma fonte de inspiração na gestão pública. Concordo com uma máxima do Eduardo, que ataca uma falsa dicotomia: não importa estado mínimo ou máximo, mas sim eficiente. Inspirado por esses líderes tenho a certeza de que posso colaborar muito na assembléia.

 

Seguinte: – Sempre falas em um caminho do meio na política.

Paz – Uso essa expressão quase todos os dias. O caminho do meio não é ficar em cima do muro. Criar consenso não é criar unanimidade, com todos concordando e dizendo a mesma coisa, mas sim achar a média das opiniões para avançar. Por que não me sinto contemplado pelos extremos de hoje? Porque alguém perderá muito. O Brasil não precisa disso. Composição não é acordão, negociata, sacanagem, mas perceber pessoas de valores nobres e bons sentimentos e princípios que pensam diferente da gente. Não se encontra o caminho, não se anda para frente sem respeitar a pluralidade e observar as diferentes realidades. O Rio Grande do Sul é um dos maiores exemplos de quanto se perde por extremismos.

 

Seguinte: – Em tempos de ódio e intolerância, que hoje aparecem muito nas redes sociais, um slogan que usas é o Sou de Paz…

Paz – Além de ser uma carga do meu sobrenome, no Antigo Testamento paz é o fruto da justiça. Paz não é sinônimo de silêncio, de acomodação, de deixa assim, de vamos fazer de conta. É fruto de ação digna, de respeito, de se permitir conviver em um espaço sabendo que somos diferentes e capazes de nos respeitar e amar o próximo. Acho uma boa nova para ser compartilhada em uma sociedade que atravessa um período de intolerância, de verdades absolutas. É uma forma de dizer que, em tempos de ódio, de guerra, escolhemos a paz, a busca de uma sociedade solidária, fraterna e justa. Sempre reforçando que paz sem voz é medo.

 

Seguinte: – Tem um pé em Cachoeirinha, outro em Gravataí…

Paz – Moro na ‘fronteira’, na Morada do Vale. São 38 anos no mesmo lugar, onde me criei, aprendi o que me levou onde estou, é para onde volto todos os dias, vivendo as mesmas ruas, pessoas, valores. Mesmo que em minha caminhada política tenha percorrido mais de 200 municípios, conhecido o estado, sou um apaixonado pelas duas cidades. Quero ajudar o Rio Grande na assembléia, mas meu coração e meus olhos estarão sempre aqui.

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