Já perguntou no Posto Ipiranga o porquê de você votar em Bolsonaro?
No Roda Viva desta segunda, sem precisar cair na fakenews de exagerar que ele não sabe fazer continhas simples, o presidenciável aceitou mais uma vez a narrativa de que não entende nada de economia. Admitiu a necessidade de consultar seu ‘posto ipiranga’, Paulo Guedes, banqueiro que já anunciou como nome para o ministério da fazenda.
A entrevista gravitou a personalidade, declarações polêmicas e valores controversos do capitão, simplesmente porque o candidato não tem nada a dizer sobre os principais problemas do país – e que o próximo inquilino do Palácio do Planalto, canhoto, destro, muro ou extremo precisa enfrentar – como o desemprego, a previdência, o rombo nas contas públicas, etc.
Bolsonaro é uma aventura perigosa, não apenas uma vergonha alheia entre os assuntos mais comentados do Twitter mundial.
Está mais para um Collor – “não me deixem só!” – sem maquiagem global, do que para um Trump, milionário que além da boa formação (escolar, não moral) pertence à maior máquina partidária do mundo, os republicanos.
Talvez no Posto Ipiranga o gordinho diga que você gosta do Bolsonaro porque não suporta ‘tudo isso que está aí’. E que, possivelmente, você queira votar nele porque sua vida não está boa, está difícil pagar as contas e você vive assustado com a violência.
Mas não estaria você comprando uma versão não sustentada pelos fatos e possibilidades, uma mentira bem contada, uma solução mágica?, e mágica é truque!
O discurso nebuloso de Bolsonaro, por raso e caótico, por vezes estatista, outras privatista, não se sustenta nem no que tem de pior.
Por que o capitão reformado, com treinamento militar, perdeu um revólver ao ser assaltado e quer colocar uma arma na sua mão? Ele sabe que policiais matam, mas também morrem ao reagir, e que um 38 no coldre de alguém despreparado pode ser fatal, tanto num ato de heroísmo, quanto em uma briga de bar ou no estresse do trânsito.
Mas Bolsonaro diz o que você quer ouvir, como um Neymar num comercial da Gillette, tranqüilizando crianças mimadas de que tudo vai ficar bem.
Você já perguntou no Posto Ipiranga o porquê de você não se envergonhar por Bolsonaro dizer que uma mulher não merece ser estuprada porque é feia?
Uma conhecida lojista de Gravataí, logo após o programa desta segunda-feira, postou um meme onde aparecem o capitão, a esposa e Maria do Rosário, sob o enunciado: “se ele é casado com uma princesa, por que estupraria uma bruxa?”.
Será que, enquanto nossa cidadã de bem teclava na noite do Facebook, uma menina de sua família não era avaliada na rua por algum psicopata: “Essa é pra estuprar!”.?
Como permitir-se a perversão de imaginar danos educacionais em um menininho brincando com uma boneca?
Como você não muda de cor por um presidenciável dizer que eram os próprios negros que se escravizavam, ou que ele não tem nada a ver com a dívida histórica da escravidão porque não escravizou ninguém?
Como justificar o terrorismo de estado que foram, durante a ditadura, as torturas e os assassinatos de poucos criminosos, mas de muitos meninos e meninas, como uma reação a ações extremistas de grupo de esquerda que levaram a mortes de militares ou civis inocentes?
Não é com rosas, mas também não é com o verde oliva e a farda cometendo crimes ou fazendo da favela um paredão de fuzilamento que se resolve a violência – e aí sim, recomenda-se consultar o Posto Ipiranga, porque há pesquisadores com estatísticas sobre isso, ciência de cérebros muito além do brasileiro astronauta.
Talvez a insegurança só desapareça ‘no grito’ em um meme do MBL, inteligentemente preparado para mexer com seus instintos mais primitivos.
Ou quem sabe no livro que Bolsonaro indicou aos brasileiros, com as memórias seletivas do ‘Dr. Tibiriça’, o ‘mestre da tortura’ da ‘sucursal do inferno’, o acelerador do Fusca que depois do ‘passeio’ marchava por cima de perigosos imberbes comunistas.
O que não preciso perguntar no Posto Ipiranga, por óbvio, é que você gosta do Bolsonaro porque ele é ‘contra a corrupção’.
“Que seja!”, que tenha cometido na entrevista a gafe de dizer que gostaria de ter estado mais vezes ao lado de Eduardo Cunha, um dos bandidos gerais da nação;
“Que seja!” que em 27 anos como deputado pelo Rio de Janeiro, nunca tenha denunciado ou feito algo para estancar a roubalheira do governador Cabral, seus guardanapos e diamantes;
“Que seja!” que levantamentos mostrem que seu PSL é, nas votações do congresso nacional, o partido mais fiel ao governo Temer, tão envolvido em escândalos quanto os governos Lula e Dilma – que “primeiro a gente tira e depois…”
Que dúvida que somos todos contra as roubalheiras!, mas dizer não à corrupção tem que ser uma obrigação, não plataforma presidencial.
Cuidado! Não seria você uma conseqüência do jacobinismo lavajatista de delegados, promotores e juízes para os quais, entre auxílios-moradia, jejuns e convicções, a Constituição é um detalhe, os fins justificam os meios e resta – não mais só – à política a presunção de culpa?
(e aqui vai um minuto de silêncio, não por Lula ou Aécio, ou por algum tucano que voa acima do banco dos réus, mas pelo reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, ‘suicidado’ por uma investigação da polícia federal que, sem provar nada até agora, o acusou de desviar 80 milhões de reais – o que correspondia a TODO DINHEIRO que a universidade federal de Santa Catarina tinha recebido em 10 anos – e cujos envolvidos em vez de investigar o abuso de autoridade agora se preocupam em aplicar um ‘AI-5’ e interrogar um professor que permitiu protesto após o corpo do reitor voltar em um caixão à universidade onde tinha sido proibido de botar os pés pelo aparelho do estado policial que já pisoteou o jardim).
Pergunte no Posto Ipiranga sobre o Putsch da Cervejaria de 1923 e a célebre frase: “A democracia deve ser destruída por suas próprias forças”. Jamais a história se repetirá com tamanha monstruosidade, mas o ideário do ódio que cresce em nossa sociedade talvez já seja imune até mesmo à morte política de Bolsonaro, que não deve passar do primeiro turno e seus oito segundos no horário eleitoral.
A mim, não é o capitão que preocupa, mas seus generais e heróis nacionais e, principalmente, seus soldados.
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