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COM VÍDEO | Morre seu Milton Souza, o jornalista, escritor e poeta que adotou Cachoeirinha

O porto-alegrense Milton Sebastião de Souza, um entregador de pães que virou jornalista, escritor e poeta, tinha Cachoeirinha como sua segunda cidade

— Pai, sei que hoje terá Sarau de Poesias no Céu. Podes declamar o Cristo Gaúcho ao próprio Jesus!

 

Foi com esta frase marcante, entre outras, que o filho Edison Luis Souza publicou um texto em seu perfil na rede social Facebook comunicando, aos amigos e comunidade em geral, o falecimento do seu pai, jornalista, empresário e comunicador Milton Sebastião de Souza, ou simplesmente e carinhosamente chamado de “Seu Milton” ou “Miltinho”.

Ele faleceu ontem (3/7), aos 73 anos, por volta das 19h no Hospital da Pontifícia Universidade Catóilica (PUC) onde estava internado há cerca de 30 dias, depois de perder a luta que vinha travando há alguns anos contra um câncer de próstata. Ele está sendo velado na capela da Funerária Cachoeirinha, em frente ao Cemitério Municipal, na Estrada Ritter, até as 17h.

Nascido em Porto Alegre em 20 de janeiro de 1945, seu Milton deixa a esposa Leda Maria de Souza, cinco filhos (Élton, Édison, Gilmar, Gerson e Jane) e sete netos, além da mãe, Teresinha Fialho de Souza, de 94 anos, moradora de Porto Alegre. Ele iniciou sua vida profissional ajudando o pai em um bar, na capital, e fazia entrega de pães utilizando uma Kombi.

 

Segunda cidade

 

De acordo com a sobrinha e também jornalista Eliane Silveira, o tio era uma pessoa muito esforçada, tanto que cursou o Supletivo de 1º e 2º graus por correspondência, no antigo Instituto Universal Brasileiro, e passou no vestibular para cursar Jornalismo quando tinha 40 anos.

Segundo ela, Milton Souza, depois de formado, foi jornalista concursado na Prefeitura municipal de Gravataí e trabalhou em rádio e jornais, além de ter sua própria editora, a Texto Certo, em Cachoeirinha. Eliane disse que o tio “adotou” Cachoeirinha como sua segunda cidade, onde desenvolveu suas atividades até se afastar por razões de saúde.

 

O jornalista

 

Em depoimento que Milton Souza deu ao jornalista André Boeira, ele conta que chegou em Cachoeirinha em 1993 para ser editor do então recém criado Jornal de Cachoeirinha pelo hoje diretor do Seguinte:, Roberto Gomes de Gomes.

— Mas não sabia que a cidade iria tomar conta do meu coração. Depois disso, me entrosei tanto com a cidade que nunca mais deixei Cachoerinha — disse, no vídeo que está reproduzido abaixo.

— Conheci seu Milton pouco antes de abrir o Jornal de Cachoeirinha em abril de 1993, que me foi apresentado pela sua sobrinha, a também jornalista Eliane Silveira, como uma das opções para ser o editor do jornal — conta Gomes de Gomes.

Ele disse que estranhou o fato de Milton, já com cerca de 50 anos e formado há pouco tempo, e que ainda não tinha exercido a função de jornalista estar sendo indicado logo para a função de editor.

— Quando soube que ele era formado pela Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) a minha resistência por ser uma pessoa já com 50 anos, que nunca tinha trabalhado como jornalista, ficou de lado. Tive a grata surpresa de trabalhar com o Milton, um grande jornalista, e conviver com ele, uma grande pessoa — afirmou o diretor do Seguinte:.

 

 

QUEM FOI MILTON SOUZA

 

O jornalista André Boeira escreveu em seu perfil sobre o amigo:

 

… ganhou mais de 200 prêmios em concursos de poesias e trovas, participando de entidades como a Casa do Poeta Rio-Grandense, União Brasileira de Trovadores e Fundacion Givré de Buenos Aires. Ele também é radialista profissional.

… Desde menino teve relações próximas com Cachoeirinha, pois um tio seu sempre morou no final da Papa João XXIII. Mais tarde, adolescente, participava nas festinhas da Igreja São Vicente, onde namorava muito.

… Em 1993 começou a sua relação profissional com a cidade, quando assumiu como Editor do Jornal de Cachoeirinha e ali começou a sua trajetória que se estendeu por 8 anos neste periódico considerado o divisor de águas para o jornalismo local.

… Durante três anos manteve uma coluna diária no Diário de Cachoeirinha. Aposentou-se como Jornalista concursado da Prefeitura de Gravataí. Hoje é proprietário da Agência Texto Certo, que atua na área de produção de livros (sede em Cachoeirinha).

… Entre as maiores alegrias que sentiu na vida estão os lançamentos dos livros “Perseguindo Sonhos”, o infantil “Três aninhos”, o livro “Poesias para declamar” e o livro de trovas “A raiz quadrada da poesia”.

… Milton se orgulhou bastante quando foi escolhido para Patrono da Feira do Livro da Escola Décio Martins Costa (onde seus filhos estudaram) e depois disso foi patrono em várias escolas, culminando como o patrono da Feira do Livro de Cachoeirinha.

… Nos últimos anos a saúde ficou debilitada e o seu Milton foi se afastando aos poucos do cenário jornalístico, até que se aposentou das funções que exercia na Comunicação da Prefeitura de Gravataí. Mas nunca parou de escrever. Ainda foi reconhecido pela Câmara de Vereadores com o Título de Cidadão Honorário (2016).

 

A jornalista Roselaine Vinciprova também se manifestou:

 

— Iniciei como estagiária no Jornal de Cachoeirinha e, em seguida, o seu Milton decidiu abrir sua própria empresa, a Texto Certo, e me convidou para ser sua sócia. Durante cinco anos dividimos projetos e conquistas.

— Seu Milton era o paizão de todo mundo. Sua simplicidade era recheada de esperança. Sempre acreditava que daria certo. Adorava ajudar as pessoas a escreverem seus livros. Escrevia com a alma, nunca eram textos normais, eram palavras que tocavam direto o coração.

— Parte muito, muito jovem. Uma perda para a cidade, para o jornalismo e para todos nós que temos o seu Milton como nosso mestre.

 

A escritora, arte-educadora e contadora de histórias Rosane Castro publicou:

 

— A vida é feita de alegrias, amores, dores e lutos… E tantas coisas mais.
Hoje, mais um amigo se despede. Um poeta generoso, sensível e muito querido por todos.
— Seu Milton Souza esteve por aqui ensinando a como caminhar em nuvens sem tirarmos os pés do chão. Sua escrita carregada de amorosidade representa muito bem o homem que ele é. 

— Ele não foi. Ele não será. Ele é. Ele está e sempre estará no coração daqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo.
— O lugar dos poetas é na memória e no coração de quem cativam.

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Uma despedida?
 

Em 2006, o próprio Milton, que também era poeta, escreveu o poema a seguir.
 

Uma estrelinha se apagou bem lentamente,
deixando um rastro de tristeza em seu lugar.
Esta estrelinha tinha um brilho diferente:
deixava um pouco de magia em cada olhar

 

Era tão meigo o seu jeito de cintilar,
que na sua luz ninguém ficava indiferente:
Não deveria parar cedo de brilhar
quem neste mundo foi presença reluzente.

 

Ela era linda, mas sua luz tão fraquinha
foi se apagando, até fazer nossa estrelinha
sumir no espaço, colorindo as amplidões.

 

Antes, porém, de viajar para o infinito,
deixou sementes do seu brilho mais bonito
nas nossas vidas e nos nossos corações.

 

Milton Sebastião de Souza.

Jan/1945 – Julho/2018

 

 

 

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