O prefeito Marco Alba foi decisivo para a vinda da Santa Casa para Gravataí. Sem os R$ 10 milhões a mais que a Prefeitura vai bancar – para além do contrato que hoje é de R$ 45 milhões anuais em repasses municipais, estaduais e federais para o Hospital Dom João Becker – o negócio não teria sido fechado.
Num primeiro momento, na prática, o que muda é a grife: sai a filantropia das abnegadas irmãs do Imaculado Coração de Maria e entra a excelência em gestão da bicentenária Santa Casa de Misericórdia, que soma aos atuais 200 leitos uma retaguarda de sete hospitais, mil leitos, 67 especialidades e 2,5 mil profissionais em saúde.
O Becker era o último dos 11 hospitais que a Sociedade Educação e Caridade administrava. Mas a boa vontade e doação herdadas da padroeira Bárbara Maix já não chegavam para fechar as contas de um hospital que, justa para alguns, injusta para outros, já ganhara a fama de ‘açougue’ ou ‘shopping dos médicos’.
Marco branqueou mais que a característica mecha no cabelo para fazer arranjos no orçamento e atender ao reajuste no contrato que era uma súplica das irmãs há pelo menos três anos. Mas fez o que o momento exigia. Seria um risco o hospital fechar as portas ou ser comprado por algum grupo privado mais preocupado em vender serviços do que atender pelo SUS.
A Santa Casa também busca lucro – e negocia muito bem, quem conhece saúde sabe. Mas a modelagem da venda, que não envolve dinheiro vivo, e sim a obrigatoriedade de manutenção da cobertura pelo SUS por pelo menos 20 anos, garante os atuais 60% de atendimento gratuito e traz junto o compromisso de uma ampliação no hospital de Gravataí e uma integração entre toda a rede municipal de saúde e o complexo hospitalar que hoje concentra o maior número de atendimento médicos da região sul do país.
O cálculo é que 30 mil pessoas acessem o SUS em Gravataí a cada mês. É como se cada habitante utilizasse um serviço gratuito a cada ano. O desafio do governo agora é aumentar os repasses estaduais e federais para o município, principalmente nos procedimentos de alta complexidade. É a busca do ‘milhão perdido’, já que há estimativa de que pelo menos R$ 1 milhão seja repassado para a rede de hospitais de Porto Alegre – entre eles a Santa Casa – pelo atendimento a pacientes de Gravataí.
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Hospital de Gravataí é da Santa Casa
Marco também deu peso político ao anúncio da compra, que depende apenas do aval do Ministério Público das Fundações. Além do alto staff das irmãs e da Santa Casa, eternizou a foto ao lado de seus vereadores, do vice-prefeito Áureo Tedesco, de Jean Torman, uma das estrelas do secretariado que acumula o comando da saúde e a procuradoria-geral, e ainda as duas apostas do governo nas eleições de 2018: a primeira-dama Patrícia Alba e o até abril deputado federal Jones Martins, que concorrem à Assembleia Legislativa e a Câmara Federal.
– Daqui a 40 anos podem botar uma plaquinha na minha lápide como o prefeito que trouxe a Santa Casa – brincou, mostrando que considera esse um de seus principais feitos desde que assumiu em 2013.
Inegável que Marco se associa à Santa Casa, melhore ou piore a imagem do hospital de Gravataí. Que é o hospital que temos, já que os projetos de um hospital próprio – municipal ou regional – restam como promessas mortas de governo após governo. Mas, convenhamos, é uma obviedade que o atendimento deve melhorar.
Assista à reportagem do Seguinte:, produzida por Silvestre Silva Santos e Guilherme Klamt, no anúncio de sexta no gabinete do prefeito