A Câmara de Cachoeirinha já gastou nos cinco primeiros meses de 2018 mais diárias e passagens aéreas do que em todo ano passado. É o que mostra levantamento feito pelo jornalista Roque Lopes, publicado por O Repórter.
O transponder indica que o ‘CâmaraTur’, que parou de taxiar em Gravataí após provocar desastres nas urnas para os acumuladores de milhagens, parece arremeter e levantar vôo novamente em Cachoeirinha.
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Os vereadores de Cachoeirinha já receberam R$ 32,736,60 em diárias e custaram R$ 21.420,50 em passagens aéreas entre janeiro e maio. Nos 12 meses de 2017, o gasto público tinha sido de R$ 24.420,50 em diárias e R$ 29.085,67 em passagens.
A diária é de R$ 726, sem necessidade de comprovação de gastos e nem devolução do que sobra.
Em Gravataí a legislatura anterior gastou, entre 2013 e 2016, mais de R$ 1 milhão de reais – R$ 942.667,88 só em diárias depositadas na conta dos vereadores, conforme levantamento feito com exclusividade pelo Seguinte: com base em dados do Tribunal de Contas do Estado.
Apareceu até no Fantástico, como a maior ‘CâmaraTur’ do Rio Grande do Sul por, mesmo com 21 vereadores, somar gastos maiores que a Câmara da megalópole São Paulo, que tem 55 parlamentares.
E a turbulência chacoalhou as urnas: a bancada das diárias perdeu 8 mil votos, mesmo que no último ano, 2016, o gasto tenha sido a bagatela de R$ 155.092,04 menor que no ano anterior.
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Só para se ter uma idéia do horror instalado, no ano passado apenas um vereador viajou, Roberto Andrade.
Neste ano, ninguém.
Os vereadores simplesmente não apresentaram requerimentos, porque se formou uma maioria contra as viagens.
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Já em Cachoeirinha, as viagens parecem ter sido reduzidas em 2017 só porque o então presidente, Marco Barbosa, autorizou algumas, devidamente aprovadas em plenário, mas ameaçava barrar outras alegando falta de orçamento.
– Minha interpretação do Regimento Interno é de que o presidente pode autorizar ou não. Ele é o gestor – argumenta Barbosa.
Aconteceu que, em 2017, os viajantes resolveram não pagar – com desgaste político – para ver.
Mas havia e ainda há uma maioria para aprovar as viagens.
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Os argumentos dos políticos favoráveis às viagens – e seus simpatizantes – são sempre os mesmos: buscar qualificação, trocar experiências e liberar emendas com deputados federais.
Frágil defesa, pelo menos na opinião deste jornalista, que já acompanhou ‘cursos’ e ‘seminários’ oferecidos a parlamentares. É difícil encontrar algo nos convescotes, que não possa ser navegado ou naufragado pelo Google ou YouTube. A troca de experiências pode ser feita da mesma forma, e também de graça, pelo Skype. Já o contato com os deputados pode – e é – feito aqui mesmo no Rio Grande do Sul, já que são todos gaúchos e muitos tem escritórios em Porto Alegre, quando não em Cachoeirinha.
Isso sem falar que, apesar do dinheiro ser bem vindo, não é papel de vereador buscá-lo e sim, mesmo indicando CCs nos governos, fiscalizar como é aplicado o Orçamento Municipal.
Em tempos de Grande Tribunal das Redes Sociais, e de tanto ódio à política, cabe o alerta que esse gasto não chega perto de ser um crime de lesa município. Mas seria de bom tom, e um convite à inteligência, os vereadores entenderem o momento de crise nacional, estadual e municipal. Se mal se consegue pagar salários em dia, parece aceitável gastar dinheiro com turnês a Brasília ou ao paraíso que for?
O bom da democracia é que ao fim o eleitor é quem dá o confirma. Muitos já ligam o radar quando se fala em ‘CâmaraTur’. Afinal, onde passa um avião, passa uma esquadrilha. Principalmente se o comandante também faz parte da tripulação, como o atual presidente Rubens Ohlweiller, que recebeu R$ 3.273,66 em diárias este ano.
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