coluna do pm

Um terror científico

sou a pessoa que a chama decifra na indecisão do átomo. 

alguém respira no meio do meu ofício

com um cigarro inclinado ao lado da boca, torto, aceso entre as palavras. 

ao meu lado a aurora lentamente enche um baú com lingotes de luz,

e há uma razão incompleta na arquitetura do sol.

o amplo azul do céu destrói suavemente um astro de pequena grandeza.

um terror científico cega o espaço

e eclipsa as labaredas de prata no subsolo da lua.

 

meu nome é uma sucessiva chuva 

com letras que fazem cicatrizes na água.

a paisagem sobe nos telhados como gatos translúcidos

detidamente transparentes no mesmo pó.

sei que as flores vermelhas explodem nos vulcões 

numa súbita erupção de martelos e rosas.

coisas secretas seguem por caminhos no fundo dos poços 

ao longo do tédio 

e golpeiam com uma ternura terrível o mecanismo da cadeira giratória 

em meio ao tráfego.

 

as uvas pairam na superfície do vinho, como medula de origem única, 

correndo juntas em seu sangue.

a circunferência do tempo, e o sopro magnífico em sua linhagem

tangenciam as membranas da morte com um fardo temível nas entranhas.

eu preferia desconhecer as casas que entreolham-se extraídas da conjunção 

desconhecendo que embaixo delas 

há galerias e compartimentos nos corredores intrigantes da memória 

 

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