Com uma camiseta que estampava “lugar de mulher é onde ela quiser”, Anabel Lorenzi sacramentou neste sábado um movimento político que a mantém viva para estar onde ela quer estar em 2020: disputando a eleição para a Prefeitura de Gravataí.
Ofuscada pela redução de votos nas últimas eleições e pela perda do comando do PSB, mas ainda a principal estrela do partido nas urnas, a professora anunciou apoio a Juliano Paz como candidato a deputado estadual e, ao lado do prefeito de Cachoeirinha Miki Breier, celebrou a reaproximação de um grupo que ajudou o ex-casal que começou a militar junto nos anos 80 da Morada do Vale a fazer mais de 200 mil votos em três décadas.
Anabel mantém suspense sobre uma candidatura a deputada federal, mas as chances são mínimas de concorrer.
– É uma parceria para agora e para o futuro. Ninguém ganha eleição sozinho. O Miki é o grande articulador desse momento. E o Juliano representa nosso voto de confiança. Gravataí, Cachoeirinha e toda região precisam de representação. Já chegamos a ter cinco deputados, hoje não há ninguém – resumiu uma pragmática Anabel, deixando no passado o distanciamento que ela e Miki experimentaram principalmente na eleição suplementar de 2017 em Gravataí, quando sua candidatura sofreu com o contágio da crise do prefeito com o funcionalismo que levou à maior greve da história de Cachoeirinha.
– Ao final dos quatro anos, não tenho dúvida de que não precisaremos citar Pernambuco ou alguma de nossas prefeituras pelo país: Cachoeirinha será um exemplo de governo socialista – acenou definitivamente a bandeira da paz, observada pelo pai, Irno, de 80 anos, e cercada por seu time mais próximo.
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– O Juliano vai fazer a diferença, em Gravataí, em Cachoeirinha e no Rio Grande do Sul. Está pronto, tem uma grande capacidade de articulação e, com as orelhas grandes que tem, sabe ouvir como ninguém, o que é importante tanto na política quanto na vida nesses tempos de intolerância – brincou Miki, que já foi vereador de Gravataí por duas vezes e vice-prefeito de Daniel Bordignon entre 1997 e 2000, antes de ser eleito deputado estadual por duas vezes e ocupado a Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social no governo José Ivo Sartori.
– É um sonho e uma grande responsabilidade ter o apoio de duas lideranças junto às quais cresci – agradeceu Paz, que conheceu o então casal quando se tornaram vizinhos em uma Morada do Vale que nascia em 1988 (e onde mora até hoje) e foi quem, em 2005, convenceu Miki e depois Anabel a trocar pelo PSB um PT assombrado pelo mensalão.
– Anabel e Miki estão entre as maiores lideranças do nosso partido. Miki é meu professor e mestre desde a 7ª série no Getúlio Vargas – contou, lembrando a convivência com o casal que viveu junto por 23 anos e tem três filhos.
– Não adianta só ficar reclamando, desistir da política: cada um tem que fazer a diferença em seu espaço. Meus pais diziam: “as coisas são assim, não vão mudar”. Nunca aceitei. Podemos até não ter acabado com a corrupção em Cachoeirinha, mas onde eu e Miki enxergamos, onde ficamos sabendo, não permitimos corrupção. Nem a corrupção da mentira. Dizemos sim ou não conforme a verdade – discursou o hoje vice-presidente estadual dos socialistas, ex-vereador de Gravataí entre 2001 e 2004, candidato a vice de Marco Alba (PMDB) em 2004 e de Jones Martins (PMDB) em 2008, ex-chefe de gabinete de Miki na Assembleia e desde abril, para cumprir a lei eleitoral, desincompatibilizado da Secretaria de Governança e Gestão para concorrer.
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O Seguinte:, que acompanhou o ato com exclusividade ao meio-dia deste sábado em um salão na avenida Teotônio Vilela, já tinha antecipado a articulação que, além de devolver protagonismo a Anabel no cenário político local, garante a Paz boas perspectivas de chegar aos 25 mil votos projetados para ser eleito. A ex-vereadora tem uma média de 30 mil votos nas últimas três eleições à Prefeitura de Gravataí. Miki foi reeleito para Assembleia Legislativa com 28.855 votos em 2014 e chegou à Prefeitura de Cachoeirinha com 34.369 votos em 2016. E, articulado e fazendo política por quase todos seus 41 anos, Paz não é um poste.
Junto de Anabel também anunciaram apoio a Paz o vereador de Gravataí Wagner Padilha, o ‘Tô de Olho no Buraco’, além dos ex-vereadores Dario Bhlem, Cau Dias e Elio Bitelo, a ex-conselheira tutelar Lidiângela Maia e secretários municipais de Cachoeirinha presentes na churrascada.
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O grupão que se reúne em torno de Beto Albuquerque – e é antagônico ao do atual presidente estadual, o deputado federal e ex-prefeito de Cachoeirinha José Stédile – também aumenta o poder de influência na defesa da manutenção da aliança com o governador José Ivo Sartori nas eleições deste ano.
Sartori é o ‘sapo de bigode’ que possivelmente a professora – pelo menos em seus posts nas redes sociais a política de fora do PT e do PSOL com posições mais libertárias e à esquerda em Gravataí – terá que continuar engolindo a partir de decisão que deve ser tomada dia 5 de maio pelo PSB gaúcho, que sonha também com a candidatura de Joaquim Barbosa à Presidência da República.
– Sigo a decisão do grupo. O Beto considera a melhor aliança – explicou, notadamente constrangida na observação de quem a conhece há 20 anos.
Sobre a eleição para Prefeitura de Gravataí em 2020, Anabel despista falando sobre 2018. Mas com seu característico sorriso de covinhas.
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