“Alguns daqueles jogadores mal sabiam assinar o nome, mas era bom ser brasileiro porque brasileiro é assim mesmo e o futebol era uma amostra disso, nele estava tudo o que havia de mais brasileiro: a ginga do samba, a agilidade da capoeira, o repentismo dos cantadores de viola, a boa conversa, a imaginação, a fantasia, a música, a dança – era bom ser brasileiro porque eu sabia que o brasileiro podia fazer de qualquer outra coisa o que tinha feito com o futebol” (Mário Filho, jornalista, sobre o bicampeonato do Brasil na Copa do Mundo de 1962).
Depois de fracassar nas cinco primeiras Copas do Mundo, o Brasil finalmente foi campeão em 1958 na Suécia, pela primeira vez, e ganhou o bi em 1962, no Chile. O zagueiro gaúcho Oréco foi um dos personagens dessa história. Ele tinha começado a jogar futebol no Riograndense de Santa Maria, depois teve uma passagem brilhante pelo Internacional, e em 1957 já estava no Corinthians. Convocado para a seleção de 1958, dividiu os jogos de preparação e a titularidade com o lateral Nílton Santos, do Botafogo. Aí, já na Suécia, sofreu afundamento de malar num treino, e também por isso acabou não jogando.
Dia 2 de julho de 1958 a seleção brasileira campeã mundial pela primeira vez voltou ao país, e foi recebida pela presidência da república no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Oréco foi se chegando bem devagar ao presidente Juscelino Kubitschek. Tinha um pedido a fazer:
– Presidente, eu queria muito que meu pai, Valdemar Alves Rodrigues, que foi demitido, seja de novo funcionário da Viação Férrea em Santa Maria.
O presidente deu um abraço em Oréco, disse “você é um bom filho!”, e sorriu, comovido. Foi só isso, ali no palácio. Dois dias depois, quando o jogador chegou a Santa Maria, encontrou o pai já novamente trabalhando.
Celofane – Em seu llivro “Copa do Mundo 62”, o jornalista Mário Filho revela as carências financeiras e de material da seleção por aqueles tempos. No Chile em 1962, por exemplo, a equipe ficou concentrada em chalés de dois quartos no “El Retiro”, em Quilpuê. Os deslocamentos para os jogos em Viña del Mar e Sntiago – o mais longo, 120 quilômetros – eram de trem, com sanduíches preparados na concentração.
Um aparelho de ultra-som e um de infra-vermelho só chegaram uma semana depois do time – até ali o médico Hilton Gosling e o massagista Mário Américo tratavam os jogadores (Zito, Vavá, Gilmar, Didi, Zagalo, Pelé …) colocando uma folha vermelha de celofane na frente de uma lâmpada comum.
A maior distração eram jogos de dominó. Mais adiante veio uma mesa de pingue-pongue. Existia uma quadra de tênis, onde os jogadores jogavam com os pés. Havia um piano, e o técnico Aimoré Moreira tocava “Sobre as ondas” (valsa do mexicano Jose Juventino Rosas, nascido em 1968 e falecido em 1894, aos 26 anos). Uma vitrola tocava discos do cantor Miltinho, e na sala de cinema eram passadas “fitas” escolhidas pelo dentista Mário Trigo: filmes de faroeste do mocinho Randolph Scott.
O livro, editado pela revista “O Cruzeiro”, e “Drama e Glória dos bicampeões”, de Armando Nogueira e Araújo Neto, podem ser comprados pela internet. Mário Filho doou o seu dinheiro das vendas aos 22 bicampeões de 1962 – um título levantado em condições pra lá de precárias.
Agenda histórica do futebol gaúcho na semana
4.3, domingo
1970 – Seleção brasileira perde para Argentina no Beira-Rio, 2×0, amistoso
5.3, segunda-feira
1967 – Primeiro Gre-Nal e estreia da dupla no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, “Robertão”, precursor do campeonato brasileiro, 2×0 Inter no Olímpico
6.3, terça-feira
1904 – Dois primeiros jogos de futebol entre clubes de Porto Alegre, no Campo da Blitz, duas vitórias de 1×0 do Grêmio contra o Fuss-Ball, disputa dos troféus Vereinspreis nos reservas e Wanderpreis nos times principais
7.3, quarta-feira
1976 – Primeiro jogo de clubes gaúchos na Libertadores: Inter perde por 5×4 para Cruzeiro de Belo Horizonte no Mineirão
8.3, quinta-feira
1938 – Inaugurado Estádio da Montanha, do Cruzeiro de Porto Alegre
9.3, sexta-feira
1950 – Grêmio consegue 7,5 hectares da prefeitura de Porto Alegre, em documento assinado pelo prefeito Ildo Meneghetti (patrono do Inter) para construção do Olímpico, inaugurado em 1954
10.3, sábado
1918 – Primeiro jogo do Inter em Caxias, vitória de 2×1 sobre o Juvenil, na Quinta dos Pinheiros