Está longe de ser o preço mais caro do Rio Grande do Sul, mas os moradores de Glorinha, a 25 quilômetros do centro de Gravataí, especialmente quem tem carro e precisa abastecer com frequência, paga o preço mais caro pelo litro da gasolina praticado nos postos de toda a Região Metropolitana de Porto Alegre.
Os dois únicos postos de abastecimento de combustíveis têm preços com diferença de R$ 0,10, tanto no valor do litro da gasolina aditivada quanto na gasolina comum. E isso está afastando o consumidor que está optando por encher o tanque em Gravataí ou Santo Antônio da Patrulha, onde os valores são mais acessíveis.
O litro da gasolina comum está sendo comercializado a R$ 4,49 e da aditivada a R$ 5,59 no Posto Ipiranga e por R$ 4,59 e R$ 4,69, respectivamente, no Posto Tio Caio – de bandeira Potencial – e isso mexeu com os brios do advogado e ex-vereador Ubiratãn Dias da Silva, o Bira, que iniciou uma cruzada comunitária.
Ele quer a redução dos valores que, segundo afirma, são abusivos e estão acima dos preços praticados na região. Bira protocolou uma petição eletrônica no Ministério Público para coletar 500 assinaturas e, com isso, requerer uma investigação para apurar as razões que provocam o preço alto do combustível.
Até o final da manhã desta sexta-feira (2/3) ele já contava com 306 adesões na petição eletrônica e mais de 200 nos três postos de coleta de assinaturas físicas. Ou seja, atingiu sua meta que era de 500 assinaturas obtidas em cerca de 10 dias de mobilização.
— Agora estamos só aguardando o retorno da promotora Carolina Barth (do Ministério Público de Gravataí) e vamos pessoalmente ao encaminhar a documentação necessária para que seja aberta uma investigação — disse o advogado.
: Advogado Bira fez petição eletrônica para pedir investigação ao MP
Gasto mensal
Contando que tem uma despesa que chega a R$ 2.500,00 por mês para abastecer os automóveis do seu escritório de advocacia e pessoal, Bira garante que mesmo pagando mais prefere encher os tanques em Glorinha, como forma de valorizar a economia do município em que vive e trabalha.
— Tem gente que defende a bandeira de ir abastecer o carro fora, em Gravataí por exemplo. Eu não! Eu defendo a bandeira de abastecer aqui, para ajudar na nossa economia, só que o preço está muito alto e o que nós queremos é reduzir esse valor.
Para alcançar seus objetivos, o advogado conta que solicitou uma reunião com os vereadores de Glorinha – apenas dois, dos nove parlamentares, compareceram – e tem conversado com empresários para que se somem à luta. A reunião no MP ainda não tem data fixada. A promotora Carolina Barth volta das férias no dia 7.
Duas bandeiras
O empresário Aurélio Cardoso Santos (que não aceitou gravar entrevista) aluga o posto Tio Caio, da bandeira Potencial, em Glorinha, e é dono de outro posto, de bandeira Megapetro, na localidade de Vila Palmeira, também na RS-030 mas já no município de Santo Antônio da Patrulha.
No posto que é da família há mais de 30 anos, na terra da cachaça e da rapadura, a gasolina comum sai da bomba a R$ 4,28 e a aditivada por R$ 4,38, bem mais barata para o consumidor do que o combustível que ele vende em Glorinha, por R$ 4,59 e R$ 4,69, respectivamente.
A explicação de Aurélio é que as bandeiras são diferentes, e cada uma tem sua política de fixação do preço final ao consumidor. E ele, como empresário, não pode fugir disso. Como forma de economizar e reduzir o preço final, sequer pode pedir que a gasolina seja transportada em um único caminhão para os dois postos que administra.
O preço final, segundo o empresário, é determinado pelas companhias distribuidoras de acordo com o município, o número de postos de abastecimento que o município tem e o volume médio de combustível comercializado. Também são considerados o preço pago pelas distribuidoras às refinarias, fretes e outros itens, como impostos.
— Com certeza eu gostaria de poder baixar o preço e vender quem sabe o dobro, mas não tenho como fazer isso, estou com as mãos amarradas. E sobre o que eu pago tem que ter uma margem de lucro porque tenho aluguel, funcionários, impostos. Se não for assim, como é que a gente vai trabalhar? — questionou na conversa que teve com o Seguinte:, hoje.
: A tabela mostra os preços praticados nesta sexta-feira na região
IMPORTANTE
1
Segundo o empresário Aurélio Santos, uma única empresa vende a gasolina para os postos de bandeira Potencial, Megapetro e Charrua.
2
Os tanques dos caminhões são abastecidos com gasolina a poucos metros um do outro. Com o mesmo tipo de gasolina. Um caminhão leva o combustível para o posto de Glorinha. Outro para o posto de Santo Antônio.
3
Mesmo tendo o mesmo ponto de partida – da distribuidora – e sendo a mesma gasolina, a diferença no preço final do litro vendido ao consumidor chega, no caso dele, a R$ 0,20 por litro.
O que o motorista paga?
Segundo a Petrobras, o preço da gasolina comum para os consumidores é formado pela seguinte proporção:
: 31% são os custos de operação da empresa para produzir o combustível
: 10% são impostos da União (Cide, PIS/Cofins)
: 28% são impostos estaduais (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS)
: 15% é o custo do etanol adicionado à gasolina
: 16% se refere à distribuição e revenda
Para saber
– A reportagem do Seguinte: procurou nos sites da Petrobras e da Agência Nacional do Petróleo (ANP) informações sobre como é fixado este preço final ao consumidor, sem sucesso.
– No Posto Ipiranga, de Glorinha, a reportagem não conseguiu conversar com o gerente, que estava ausente, e os frentistas não quiseram se manifestar.
Confira a reportagem no vídeo abaixo.