Ah, amigos! A minha volta de Quito foi uma verdadeira saga.
Ontem, almoçamos um delicioso risoto de cogumelos e espargos, preparado pela Frederica, uma amiga italiana das minhas filhas que está passando uma temporada em sua casa, e saímos mais cedo para o Aeroporto, pois eu queria conhecer o Parque del Guápulo, que fica no caminho.
Esse parque foi instalado em um sítio de 29,5 hectares, confiscado, em 2008, dos irmãos William e Roberto Isaías — a cuja família pertenceu, por três gerações, o Filanbanco, que chegou a ser a mais importante instituição financeira do País —, para que o Estado recuperasse parte dos recursos investidos para sanar suas finanças, enquanto esteve sob intervenção.
Trata-se de um paraíso para os observadores de pássaros, pois nenhum outro parque em Quito tem maior variedade de espécies. Até o momento, estão registradas 118. Além disto, há trilhas ecológicas, áreas para camping e piquenique, parque infantil, lagoa e várias outras atrações.
Para garantir sua sustentabilidade, a Prefeitura aluga a casa do sítio para a realização de eventos empresariais e sociais. Bacana, né?
Bem, chegamos com a devida antecipação ao Aeroporto e meu check-in já havia sido feito pela Nanda, mas, quando fui despachar minha bagagem (a Avianca permite que despaches apenas uma mala, com no máximo 23 quilos, e podes levar outra, de até 10 quilos, contigo), a atendente disse-me que tinha sido sorteada para que todos meus pertences passassem pelo crivo da Polícia, o que seria feito quando eu já estivesse na área de embarque.
Então, passei o resto das minhas coisas pela esteira e cheguei ao portão de embarque, de onde me enviaram, com um funcionário da Avianca, para o Subsolo do Aeroporto.
Lá um policial começou a tirar tudo da mala que eu havia despachado, e fiquei assustada, pensando em como faria para fechá-la de novo. Ocorre que sou um fracasso para essas coisas, e o Bruno, meu filho, a havia arrumado que era uma maravilha.
Depois de vasculhar a mala de ponta a ponta, o policial furou um pacote de café que minhas filhas estavam enviando a minha irmã e o cheirou e, logo depois, tirou o lacre de dois potes de creme e, com uma espátula, revolveu seu conteúdo.
Para minha surpresa, não chamou sua atenção um frasco cheio de sementes de frutas, que passei duas semanas acumulando e que, teoricamente, não deveria estar naquela mala.
Mas, quando eu já estava me sentido um tipo de escroque internacional, ele me disse que tinha certeza de que eu era uma pessoa legal e que não examinaria minha outra mala, nem minha mochila, nem minha bolsa.
Antes de voltar ao setor de embarque, tive de passar, de novo, tudo o que eu carregava por uma esteira e , quando já estava acomodada no avião, lendo o Diário do Fernando Pessoa, que ganhei da minha amiga Tuca, fui chamada pelo microfone por um dos comissários: “Atención, señora Sônia Zanchetta! Atención, señora Sônia Zanchetta!”.
Saltei do meu assento, assustada: “O que houve agora?”. Mas queriam apenas saber se eu estava a bordo. Ufa!
O voo de Quito para Lima saiu super atrasado e, ao chegarmos lá, só deu tempo de eu passar na aduana para que carimbassem meu passaporte e corri sem parar até o portão de embarque. Menos mal que haviam despachado a bendita mala aquela direto até São Paulo.
Mal saímos de Lima, o comandante pediu que mantivéssemos os assentos levantados e os cintos afivelados, pois entraríamos em uma zona de turbulência. E que turbulência! Mas, em poucos minutos, estávamos voando tranquilamente.
Nessas alturas dos acontecimentos, decidi assistir à nova versão do Assassinato no Oriente Expresso, baseado no livro homônimo da Agatha Christie, mas, quando chegou naquele momento eletrizante em que o detetive Hércule Poirot reúne os passageiros do trem, todos eles suspeitos do crime cometido, para dizer quem é o assassino, pediram que afivelássemos os cintos, elevássemos o encosto dos assentos e desligássemos todos os aparelhos, porque já íamos aterrissar em São Paulo.
No trecho de São Paulo a Porto Alegre, pude, afinal, ver o fim do filme, de cuja história já não lembrava muito, pois li o livro lá pelos meus 14 ou 15 anos. Não vou contar aqui, pois alguns de vocês não devem ter assistido ainda. Mas, resumindo, gostei da decisão do Poirot, pois “às vezes é mais injusto aplicar a lei do que ignorá-la”.
E aqui estou eu de volta à terrinha, contente, porque a amo muito, mas ao mesmo tempo triste, por vê-la tão desmazelada. Não esmoreceremos!
FIM
E o álbum de fotos:
: Despedida Parque Guápulo
: Despedida Parque Guápulo
: Despedida Parque Guápulo
: Despedida Parque Guápulo
: Despedida Parque Guápulo