Tem gasolina adulterada sendo vendida em postos de combustíveis de Gravataí? O engenheiro civil e funcionário público Alexandre Stolte garante que sim. E vai mais longe, quando diz que a fraude é possível encontrar em vários destes estabelecimentos em que os veículos são abastecidos com, principalmente, gasolina.
De acordo com Stolte, há cerca de três, talvez quatro meses, ele passou a observar um comportamento estranho nos carros da família. Ao mesmo tempo, começou a ouvir comentários entre amigos e conhecidos sobre problemas semelhantes que tinham ocorrido no motor de seus carros.
Mais recentemente o engenheiro foi obrigado a levar o carro da esposa, a professora Cristiane Stolte, ao mecânico, porque o motor simplesmente não funcionou.
— Ele (mecânico) nem me cobrou nada pois fez só uma limpeza nos bicos das velas — explicou, assegurando que a ‘sujeira’ foi resultado da queima de combustível adulterado.
Alexandre Stolte também suspeita dos postos de combustíveis que não têm bandeira (não representam uma companhia distribuidora específica) ou que trocaram a representada, empresa conceituada e de grande porte, por empresas de distribuição menores e pouco conhecidas.
— As grandes empresas, pela tradição que possuem e o compromisso que têm com o consumidor não iria se sujeitar a ter o nome envolvido num escândalo de adulteração de combustíveis. Mas as pequenas, que não têm muito a perder, nunca se sabe — raciocina.
: Stolte: engenheiro suspeita de venda de gasolina batizada
Fiscalização
Stolte, além dos postos sem bandeira, suspeita de modo quase generalizado daqueles estabelecimentos que vendem o litro da gasolina a preços muito baixos. E garante ter ouvido de profissionais das oficinas especializadas em injeção eletrônica e motores em geral para que estes locais sejam evitados na hora de abastecer.
O engenheiro é enfático ao assegurar que os postos de abastecimento foram abandonados pelo setor público que deveria regulamentar a atividade relacionada ao comércio de combustíveis e seus derivados. Segundo ele, a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que deveria fazer a fiscalização, é inoperante.
— Essa ANP não existe. Eu desafio a ANP a fazer uma fiscalização nestes postos que vendem (gasolina) com preço em promoção. Duvido que algum deles passe.
Mão no fogo
Já o encarregado de pista Jaques Bom Lima, do Posto Z+Z da parada 79 da avenida Dorival de Oliveira, se superou ao manter a ética profissional e afirmou não ter convicção formada sobre a existência de estabelecimentos que comercializem combustível adulterado.
Perguntado se colocaria a ‘mão no fogo’ para defender a idoneidade com que trabalham os demais postos de abastecimento, foi menos categórico.
— Boto a ‘mão no fogo’ só por esse aqui onde trabalho porque sei como são feitos os testes e como é a qualidade do que a gente vende. Por mais ninguém — disse.
Mecânicos
Dois mecânicos procurados agora à tarde pela reportagem do Seguinte: não quiseram gravar entrevista mas minimizaram, no chamado off jornalístico, a denúncia feita pelo engenheiro Alexandre Stolte. Para eles, a adulteração de combustíveis já foi uma prática muito mais comum do que nos dias atuais.
Um deles chegou a dizer que o problema nem é a alteração na composição, mas a qualidade da gasolina que é vendida no Brasil.
— A gasolina pura que é produzida aqui vai toda para outros países, principalmente Argentina. Aqui (Brasil) o governo determina que a gasolina pode ter no máximo 25% de adição de álcool, mas tem casos em que sai da distribuidora com até 30% de álcool — disse um dos profissionais.
Ele também assegurou que com a composição do combustível vendido no Brasil o rendimento dos motores se reduz drasticamente. Um carro que percorre em média 16 quilômetros com um de gasolina misturada com etanol, o álcool combustível, poderia andar quase 50% mais, até 24 quilômetros, se fosse com gasolina pura.
A FRAUDE
Em muitos casos a adulteração é feita com o etanol. Isso acontece quando a quantidade de álcool na gasolina é maior do que a permitida pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), no caso, 25%.
Como saber
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Um teste simples – e obrigatório caso haja dúvida – pode ser feito em qualquer posto de combustíveis para saber qual é a porcentagem de álcool existente na gasolina vendida.
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Em um recipiente de 100 ml o frentista coloca metade de água e metade de gasolina. A gasolina não se mistura com a água, apenas o etanol.
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Então é só ficar de olho: se o líquido transparente (mistura do etanol com água) atingir 10ml, é a quantidade ideal, 25%. Caso o líquido transparente seja maior, o combustível está alterado.
Principais danos
O combustível adulterado pode gerar problemas em componentes do carro, levando a falhas de funcionamento e até a pane total do veículo. Veja quatro dos principais danos causados pelo uso de gasolina falsificada.
1. Avarias no motor
O motor, com frequência, é o primeiro a sofrer com o abastecimento em postos ruins. O uso de combustível adulterado pode provocar avarias de gravidade variada, dentre elas o entupimento da bomba de gasolina, que causa falhas no funcionamento do carro que fazem o motor “morrer” e ser necessário dar partidas várias vezes para que ele volte a andar.
2. Problema de aceleração
Por afetar o motor do carro, o combustível de má procedência causa problemas de aceleração, impactando negativamente na performance do automóvel, que passa a rodar com menos velocidade e maior consumo.
3. Desgaste de peças
A gasolina adulterada causa o desgaste de peças como mangueiras, bombas de combustível, catalisadores, tanques e filtros do veículo, o que pode levar a diversos problemas, como a corrosão do sistema de injeção eletrônica, responsável por injetar a quantidade exata de combustível nos cilindros para o motor funcionar, evitando desperdício.
4. Entupimento de bicos e velas
A falta de qualidade do combustível também entope e sobrecarrega bicos injetores, velas e válvulas do carro, o que pode causar panes e quebras.
O BARATO QUE SAI CARO
: Jogo de velas que pode ter a função comprometida pelo combustível adulterado é o que tem menor custo, cerca de R$ 80,00.
: Já um catalisador, se precisar ser substituído, é encontrado por preços que variam de R$ 800,00 a R$ 2,8 mil, dependendo da marca, modelo, e se é ou não original de fábrica.
PRESTE ATENÇÃO
Nunca abasteça quando os tanques de combustíveis de um posto estiver sendo completado pelo caminhão tanque. Um mecânico, que não quer ser identificado, disse que neste momento todas as impurezas que normalmente ficam no fundo do tanque estão se movimentando e podem vir para o tanque do carro.
— Eles dizem que têm filtro e que não tem perigo. Tem sim, muita coisa passa por estes filtros — afirma o profissional.
Nesta mesma linha, ele assegura que todo estabelecimento deveria expor ao cliente o nível de combustível que há no tanque do posto de combustíveis relativo à bomba que está sendo empregada para encher o reservatório do carro.
— Se o nível está muito baixo, a bomba está puxando sujeira, resíduos, e isso não tem como evitar — explica o mesmo mecânico.
QUEM FISCALIZA
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Os postos de combustíveis de Gravataí, segundo informou um frentista ao Seguinte:, passam por fiscalização periódica (geralmente a cada três meses) da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para verificação da qualidade do produto. Se houver denúncia, a fiscalização pode acontecer em prazos menores.
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Outra fiscalização à qual estão sujeitos estes estabelecimentos é do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Os agentes do órgão federal verificam, por exemplo, se o litro que está saindo da bomba para o tanque de combustível tem mesmo um litro.
Confira no vídeo abaixo a reportagem do Seguinte:.