Quando produzi reportagem sobre o jogo que integrou brasileiros aos haitianos em comemoração ao Dia da Consciência Negra em Gravataí, Wensky Archange reconheceu a condição de seu país como um dos mais pobres do mundo. Mas me enviou pelo WhatsApp uma série de vídeos mostrando as belezas naturais da Pérola das Antilhas, onde trabalhava com turismo e hotelaria.
– Geralmente só se mostram as coisas ruins do Haiti – observou o morador de Gravataí há três anos, hoje auxiliar de manutenção na GM e com formação acadêmica como a maioria dos imigrantes.
Mania de jornalista, talvez. Mostrar antes as coisas ruins. Às avessas da mania do otimismo, que esse povo tem, pelo menos ao que parece em minutos de convivência.
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Mas inegável é que as coisas não andam boas para quem despenca lá da primeira república negra do mundo às veias abertas do Brasil.
– Se não há emprego para brasileiros, imagina para nós? – admite o próprio Wensky, testemunha que é na associação criada para auxiliar os mais de mil haitianos que vivem na região.
Ele foi um dos dirigentes apresentados dia 1º, em evento promovido na paróquia Nossa Senhora das Graças, pelo comitê que quer ajudar desde a noção básica do português até a moradia e busca por trabalho.
Teve festa, música, capoeira, palestra e comemoração do Ano Novo e de uma das datas mais importantes do país, a Independência.
Mas aí, mais uma vez me obrigo a contar uma história triste que estava à mesa, junto ao sopão que foi servido em mais de 60 pratos: o provável suicídio de um haitiano, aos 31 anos, três dias antes.
A Polícia Civil ainda investiga as circunstâncias que envolveram o suposto enforcamento. A Embaixada do Haiti acompanha o caso. A família chega nos próximos dias ao Brasil.
Longe de casa, sem emprego ou em subempregos, e vivendo em completo abandono institucional num país onde o preconceito atravessa a rua ou salta das redes sociais, não anda fácil ser haitiano por essas bandas.
Seja bom ou ruim, é fato.
Assista ao vídeo