No mínimo um jogo diferente, com uma boa pegada social, vai acontecer em Gravataí no começo da noite deste domingo (3/12) quando se enfrentam o Deadpool Gravataí Futebol Clube e o Magia Sport Club, de Porto Alegre. O objetivo é arrecadar alimentos para cestas básicas que serão distribuídas às famílias carentes da cidade, no Natal.
O diferente fica por conta do amadorismo da equipe gravataiense liderada por Fernando Pacheco, um universitário de Educação Física que vende pães no centro de Gravataí fantasiado como Deadpool – personagem fictício de desenhos e filmes, as vezes vilão, as vezes herói.
E mais diferente porque o Magia Sport Club, da capital, é um time de futebol society formado só por gays, fundado em 1º de março de 2005 e que, atualmente, conta com 27 integrantes. Filiada à Liga Nacional de Futebol Gay (Ligay), a equipe participou dias 25 e 26 de novembro do 1º Campeonato Nacional de Futebol Gay, ficando em quarto lugar.
De acordo com o ‘deadpool’-padeiro-universitário-benfeitor social Fernando, a partida será realizada na sede do Santos Futebol Clube (Rua Santo Antônio, 95, bairro Santa Cruz). A entrada é franca mas Fernando apela para que as pessoas levem um quilo de alimento não perecível para ajudar nas cestas básicas que pretende entregar para famílias pobres que ajuda sistematicamente.
Espaço 900
Nesta semana o Seguinte: foi à capital conversar com Fernando e integrantes do Magia para falar muito mais sobre solidariedade, amor ao próximo e inclusão do que propriamente sobre futebol. O presidente do Magia Sport Club é o advogado e servidor público estadual Carlos Renan Evaldt. O encontro foi no Espaço 900, na José do Patrocínio, casa que patrocina a equipe e é considerada a sede do Magia.
No bate-papo ainda estavam o responsável pelo financeiro e um dos capitães do Magia, Cassiano Gentilini, ou simplesmente Cássio, e Carlos Pujol, um drag queen que incorpora a personagem Renatinha que, por sua vez, é a ‘musa’ da equipe. No grupo, segundo Renan, estão profissionais liberais, servidores públicos e trabalhadores de diversos ramos da iniciativa privada.
— O Magia é uma equipe esportiva formada por gays, mas nada impede que héteros venham participar. Nós costumamos dizer que a nossa equipe é inclusiva, porque aceitamos gays, héteros, trans, mulheres, homens, enfim, todo mundo que gosta do esporte e quer jogar futebol — afirma.
Preconceito
Renan lamentou, durante a conversa descontraída que está no vídeo abaixo, que há muito preconceito no futebol e que esta é uma modalidade de esporte excludente. E a intenção do Magia Sport Clube é justamente ultrapassar as barreiras do preconceito, quebrar paradigmas, e promover a inclusão social.
Ele conta que a ideia é acolher os gays que têm problemas de aceitação tanto no âmbito da família quanto na sociedade de modo geral, e que a prática do esporte é uma forma de superar os obstáculos e mostrar que todos são iguais.
— O que a gente faz é muito importante neste aspecto, não só para agora mas para as gerações futuras. Quem sabe um dia a gente não precise ter uma Liga Gay porque, afinal de contas, o esporte é para todos e para todas e a gente não precisa estar separando as pessoas por gênero — diz Renan.
Caneladas
Cássio garante que o futebol do Magia é igual ao praticado por qualquer outra equipe, com caneladas e faltas e reclamações porque, a final, a intenção é vencer a partida. Ele diz que apesar de ser uma disputa, o respeito é fundamental, tanto que quando acontece uma agressão, mesmo involuntária, o pedido de desculpa e a manifestação de preocupação com a integridade do adversário é quase uma regra.
Participante do grupo há cerca de sete anos, Cassiano diz que o Magia lhe ajudou bastante.
— Principalmente porque é um lugar onde fui aceito como jogador e onde encontrei amigos e tive oportunidade de praticar um esporte — afirma.
Com 1,80 metro, Cassio também joga vôlei mas afirma que se identifica muito mais com o futebol. E explica que a braçadeira de capitão, confeccionada com as cores do arco-íris (que identifica o movimento gay), além da responsabilidade de defender a equipe em quadra, significa o direcionamento de ações contra o preconceito.
A musa
Renatinha, personagem de Carlos Pujol enquanto drag queen e que é a musa do time, também passou a ser “mais respeitado” depois que passou a fazer parte do Magia, segundo o próprio atacante da equipe.
— Isso que é o magico, ter uma musa negro, drag e gay. É a diversidade no futebol e é o que o Magia busca quando recebe todos os gêneros, que é o respeito e a aceitação. Existe o preconceito ainda, com certeza, mas me senti muito mais aceito, inclusive entre os heterossexuais, depois que expus a Renatinha à sociedade — afirma Carlos.
: Na mesa do bar: Carlos, Cassio, Fernando, Renan e o jornalista Silvestre Santos, do Seguinte:.
O MAGIA
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Grupo formado há 12 anos originalmente como Futebol Magia, com a finalidade de oferecer a possibilidade de praticar o esporte a quem se sentida discriminado, excluído.
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O grupo tem atualmente 27 integrantes, a maioria forma por gays e com um atleta heterossexual que participa de quase todos os jogos.
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O Magia tem profissionais de diversas áreas e de diferentes classes sociais. As despesas para participar dos jogos (uniformes, transporte, alimentação) são custeadas individualmente mas, quando um deles tem dificuldade, os outros se cotizam para ajudar.
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Depois do quarto lugar no 1º Campeonato Nacional de Futebol Gay, no Rio de Janeiro (o grupo viajou com 21 pessoas), disputado com mais oito equipes gays do Brasil, o Magia se prepara para o maior acontecimento esportivo gay da América Latina que vai ocorrer em abril, em Porto Alegre.
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O campeonato de futebol society gay de abril, na capital, deve receber pelo menos 16 equipes de diferentes países sul-americanos, ou cerca de 350 atletas. O Magia Sport Club vai ser o anfitrião e já está preparando o evento, de acordo com o presidente Renan.
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O Magia já chegou a disputar 12 jogos por mês mas, atualmente, joga às terças, quintas e domingos. Nas terças-feiras as partidas têm objetivos inclusivos. São para receber amigos, héteros ou não, pessoas que querem participar ou simplesmente aprender a jogar futebol e tenham a intenção de confraternizar.
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O grupo tem como treinadora uma mulher: Alessandra Huff Mello, bacharel em Educação Física. Ela é treinadora de futebol formada pelo Sindicato dos Treinadores do Rio Grande do Sul. O auxiliar técnico é Éder Mello, também acadêmico de Educação Física.
Para ver o Magia na rede social clique aqui.
“O futebol faz parte da cultura nacional e negar a cultura brasileira a um segmento da população deveria ser considerado um crime. Por que eu não posso ter acesso a essa cultura? Só porque eu amo diferente da forma que o outro ama?”
Renan Evaldt – presidente do Magia
O jogo beneficente
O QUE: Jogo amistoso de futebol society entre o Deadpool Gravataí FC e o Magia Sport Club.
ONDE: Sede do Santos Futebol Clube, na Rua Santo Antônio, 95, bairro Santa Cruz.
QUANDO: Domingo, 3 de dezembro, às 19h.
INGRESSO: Entrada franca. O organizador, Fernando Pacheco, pede que, quem tiver condições, leve um quilo de alimento não perecível para montar cestas básicas que vai entregar para famílias carentes.
Confira no vídeo abaixo o bate-papo do Seguinte: sobre o jogo beneficente deste domingo e o Magia Sport Club.