O Seguinte: pediu e jornalistas, colunistas e articulistas gremistas que tem ou já tiveram alguma relação com a região estão mandando artigos sobre o tri. Esse é do Róbinson Gambôa
Há uma série de cenas no contexto geral dessa conquista do Grêmio que revelam o gremismo dos gremistas como um comportamento único e genuíno.
Gremiar, já deveria ser um verbo.
Reunir milhares sobre uma lona protegendo o gramado na Arena, para assistir a final num telão foi uma delas. O personagem que se tornou Renato Portaluppi com sua autoestima e papo reto, é outra.
Há gremistas espalhados até mesmo nos cantos mais escondidos do Brasil, para onde levam consigo seu gremismo, essa vontade de vencer, de aprender a planejar a própria vida, de tentar ser ainda melhor no dia seguinte.
O gremismo decretou feriado, mas mesmo assim estamos todos desde cedo no trabalho. É religião, estilo de vida, opção pessoal e sentimento hereditário, de pai pra filho. Eu mesmo aprendi a ser gremista com meu avô, nos anos 70. Ele escutava os jogos no radinho, e eu acompanhava aquele mantra hipnotizante de perto. Um dia, gol do Grêmio, gol de Flecha.
– Vô, por que o nome dele é flecha?
Flecha porque ele é rápido como uma flecha, meu avô respondeu.
No raciocínio de menino, então meu time seria imbatível, pois tinha um homem que atravessava o campo inteiro como um super-herói tricolor, mais rápido que o vento.
Sou de uma geração de gremistas que viu o Grêmio chegar cinco vezes na final da Libertadores. Em 83, eu ainda era um menino, e saí pela Avenida dos Estados, na 67, a comemorar junto com meu avô pela madrugada. Em 84, eu estava no Olímpico, e vi de perto a derrota para o Independiente. O gremismo nos ensina os altos e baixos do futebol e da vida, e que o esporte é uma metáfora do que somos e fazemos.
É desse jeito que se descobre a valorizar as vitórias, aprender com as derrotas, trabalhar todos os dias em busca de uma solução para se chegar ao gol. O gremismo esteve em todos os lugares na noite da vitória em Lanús, como na multidão sobre o gramado da Arena ou mesmo na Goethe de Gravataí, a mesma de onde eu vi a derrota para o Boca Junior, na final de 2007.
De todas as lições que observamos em torno dessa bola de couro, prefiro a do provérbio italiano que diz: após a partida, rei branco e rei preto voltam ambos para a mesma caixa.
Róbinson Gambôa é jornalista e gremistão.