3° Neurônio | crônica

A defesa dos bandidos

Sei que muita gente é adepta de linchamentos – físicos e midiáticos. Sei também que muita gente que pede a cabeça de um batedor de carteiras não defende a morte pela polícia, sem julgamento, sem provas, de políticos e empresários corruptos. Quando pede, é porque a cabeça em questão é de algum inimigo partidário.

Talvez seja bom a gente pensar melhor esse negócio de provas e julgamentos. Se eu disser que mesmo o pior assassino merece julgamento, em vez de ser simplesmente linchado pela multidão ou morto por grupos de justiceiros da polícia, serei acusado de defender bandidos e desejarão que eu – ou alguma pessoa da minha família – seja assassinado numa noite dessas, que é pra eu não me meter a besta. Mas continuo achando que a justiça não pode ficar nas mãos de multidões enfurecidas nem de milícias por um motivo muito simples: se mesmo com investigação, mesmo com julgamento, dezenas e dezenas de pessoas são condenadas de forma injusta (os exames de DNA já tiraram vários do corredor da morte, nos EUA, por exemplo), o que dirá de pularmos todas essas formalidades? As chances de erros grotescos serão multiplicadas por quanto? Dez, vinte, trinta ou mais?

O advogado de defesa não existe pra dizer que o réu é um anjo puro – ele existe pra fazer a crítica das provas da acusação. Enfim, num julgamento o que deve (deveria) prevalecer é um mínimo de objetividade, não a ânsia de vingança. Se deixarmos de lado o sistema judiciário, voltaremos a tempos anteriores à existência do Estado. Se, com todo o aparato estatal, a lei do mais forte dá a maioria das cartas, imagina sem ele. Se você é incapaz de entender isso, sinto muito, deve voltar pros bancos da escola, e ligeirinho.

 

O cinema e a dura realidade

Quantos filmes você viu em que o casal, depois de uma noite tórrida, que marca o início de um romance, acorda e se beija na boca? Essa cena já foi mais grave, há décadas. A mocinha acordava com o penteado intacto, sem um borrão na maquiagem e sem remela.

Mas todos sabemos que só a Bela Adormecida não acordou com mau hálito.

 

Dicionário do mau digitador

Estétrica. Uma estética de histórias de terror.

Cornologia. Espero que você nunca seja objeto desse estudo.

Amaostra. Amostra de amante de ostras.

Colabroação. Ajudar a fazer broas.

Suagestão. Palpite complicado, um verdadeiro suadouro.

Bolume. Volume disforme, tipo, como diz o dicionário, “massa formada por alimentos após deglutição”.

Conversa. Eu quis escrever “conversa” de bate-papo e escrevi “conversa” de convertida a qualquer fé. Como faço pra corrigir isso? OK, cedo ou tarde uma gracinha dessas ia aparecer.

Instralar. Uma instalação ruidosa, espampanante. Coisa de novo-rico ou astro do rock.

Amago. Amigo mago. Ter um milhão de amagos talvez salvasse o Brasil.

Boilacha. É aquela coisa que os gringos botam dentro de um pãozinho com maionese e às vezes queijo.

Complatar. Preencher com prata. Deve ser resquício da olimpíada.

 

Ernani Ssó é escritor e vive em Porto Alegre.

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