histórias da bola

O dia em que Gessy calou a Bombonera

Time do Grêmio contra o Boca em 1959 na Bombonera: da esquerda, em pé – Orlando, Ênio Rodrigues, Germinaro, Elton, Aírton, Ortunho; agachados – Giovani, Gessy, Rudimar, Milton, Vieira.

“O Grêmio do técnico Foguinho tinha quatro zagueiros e um goleiro grandalhões, dois jogadores de resistência no meio de campo, dois velocistas nas pontas, um tanque no ataque, e um violino para harmonizar tudo isso: Gessy Lima” (Milton, jogador do Grêmio nas décadas de 1950 e 1960).  

 

No dia 21 de dezembro de 1953 os jornais de Porto Alegre anunciaram que o Inter estava tentando trazer um jovem atacante de Uruguaiana – Gessy Lima, meia-direita, 18 anos. Gessy realmente veio para Porto Alegre, mas dois anos depois, no final de 1955, e para o Grêmio. Com uma habilidade incrível, jogou no tricolor até 1962, e nesses sete anos ganhou seis campeonatos gaúchos.

Fumava-se e bebia-se bastante no futebol daquele tempo, Gessy um pouco acima da média. Além disso, ele parecia não gostar de futebol. Quando fazia um gol (e fazia muitos, além de criar outros) nem vibrava. E odiava dar entrevistas – mais do que isso, fugia de entrevistas. Em 1963 foi para a Portuguesa de São Paulo e no final daquele ano, sofrendo com seguidas lesões, encerrou a carreira. Tinha apenas 28 anos.

Livre do futebol, que lhe deu apenas um apartamento, conseguiu terminar o seu curso de odontologia, em 1965. Só voltou a um estádio 11 anos depois, em 1974, ao Olímpico, mas viu a partida escondido num cantinho. Entrevista nesse tempo, tinha dado apenas uma, em 1970, e contra a sua vontade.

A segunda – e provavelmente última – foi muito depois, e está publicada na página IV do caderno de esportes do “Correio do Povo” de 21 de janeiro de 1979, reproduzindo três horas de conversa. O repórter tinha ido ao consultório de dentista de Gessy na Assis Brasil no início da tarde de uma segunda-feira, e só foi embora à noite, quando o recluso ex-atacante já havia escapulido silenciosamente pelos fundos. O entrevistador voltou terça, quarta e quinta, e perdeu mais essas três tardes, porque em todas o dentista deu novamente jeito de se evadir. Mas percebendo que aquele jornalista chato não iria desistir, finalmente concordou em falar na sexta, no quinto dia do cerco.

Gessy explicou que simplesmente era tímido, só isso. Garantiu que todos os jogadores do seu tempo eram seus amigos, mas não falava com nenhum porque não gostava de falar. E admitiu que poderia ter jogado na seleção brasileira:

– Não deu porque na meia já tinha um outro cara melhor do que eu, bem melhor, um tal de Pelé – riu Gessy, num raro momento de descontração.

Poderia ter falado de um momento mágico do futebol, do qual foi o inacreditável protagonista, mas por modéstia não falou – de um jogo do Grêmio com o Boca Juniors, dia 25 de fevereiro de 1959, na Bombonera. Dois timaços: GRÊMIO: Germinaro, Orlando, Airton, Ênio Rodrigues e Ortunho; Elton e Milton; Giovani, Gessy, Rudimar e Vieira. BOCA: Mussimessi, Barberis, Di Gioia, Rico e Schandlein; Gonzáles e Rattin; Ambrois, Pereira, Juan Carlos e Yudica.

Gessy havia ficado em Porto Alegre na véspera, para festejar a sua aprovação em odonto. Passou a noite festeando, viajou sozinho a Buenos Aires na manhã do jogo, chegou ao hotel embalando um porre pesadíssimo, e só ouviu um decreto do técnico Foguinho, de cara fechada:

– O senhorr vá dorrmirr!

Gessy dormiu, acordou, comeu, jogou, e o Grêmio ganhou por 4×1, quatro gols dele, Gessy, aos 40 minutos do primeiro tempo, e 11, 15 e 20 do segundo. Era a primeira derrota do Boca para um clube estrangeiro na Bombonera, 19 anos após a inauguração do estádio, em 1940, e a primeira vez que um jogador fazia quatro gols no lendário matadouro, incluindo o time do próprio Boca.

Gessy morreu em 1989, com apenas 53 anos. Seu espírito, que ainda assombra a Bombonera, bem que poderia aproveitar e dar uma passadinha em Lanús nesta quarta-feira para dar uma força ao Grêmio. 

 

O drone

 

Inter e Grêmio não precisam de drone espião para saber como jogam um e outro, mas adianta? Gre-Nal de 29 de junho de 1997: no ônibus do Inter, o técnico Celso Roth foi do Beira-Rio ao Olímpico repetindo aos seus jogadores:

– A principal jogada de ataque deles é por cima, principalmente a bola parada de lado, e aí nós já sabemos quem marca quem, quem fica no primeiro poste, no segundo, dentro da goleira, no rebote, quem  puxa o contra-ataque…

Começa o jogo. Grêmio no ataque. Escanteio para o Grêmio. Um minuto, Vagner Fernandes 1×0 para o Grêmio. Com ou sem drone, com muita ou pouca conversa, pouco ou muito treino – secreto ou espionado –, já diziam os primeiros sábios: futebol é futebol!

 

Agenda histórica do futebol gaúcho na semana

 

26.11, domingo

1922 – Eurico Lara, do Grêmio, é primeiro goleiro brasileiro que chuta um pênalti, contra Meirelles, do Guarani de Alegrete – que defende

2005 – Com sete jogadores, pênalti defendido por Galatto e gol de Anderson, Grêmio vence Náutico do Recife (que também desperdiçou outro pênalti) nos Aflitos por 1×0 e ganha campeonato brasileiro da série B

2006 – Com um minuto e 49 segundos de seu primeiro jogo no time principal do Inter, Alexandre Pato faz primeiro gol da carreira em 4×1 sobre Palmeiras em São Paulo

 

27.11, segunda-feira

1968 – Primeira vitória do Inter no Maracanã, 1×0 Fluminense, gol de Dorinho

 

28.11, terça-feira

1982 – Inter bi gaúcho, 2×0 Grêmio, Olímpico

1995 – Com apenas dez jogadores já no primeiro tempo, mais prorrogação, Grêmio empata em 0x0 com Ajax em Tóquio e perde chance nos pênaltis de ser bi mundial

 

29.11, quarta-feira

1922 – Grêmio primeiro bi gaúcho, 2×1 Guarani de Alegrete, Baixada

1953 – Papa Pio XII recebe no Vaticano a delegação do Cruzeiro de Porto Alegre

1981 – Inter campeão gaúcho, 1×1 com Grêmio, maior público em Gre-Nal no Olímpico, 73.183 espectadores

2009 – após empate de 1×1 no Beira-Rio (repetindo resultado de Gravataí), Cerâmica vence Inter nos pênaltis por 6×5 e ganha Taça Alceo Bordignon de juniores

2012 – Luiz Felipe Scolari volta a ser técnico da seleção brasileira

 

30.11, quinta-feira

1962 – Após dois empates de 2×2, no Maracanã e Olímpico, Inter perde terceiro jogo da Copa Brasil para o Botafogo por 2×0 no Olímpico 

2003 – Acompanhado por 5 mil torcedores a Santa Catarina, Grêmio vence Criciúma por 2×0

 

1.12, sexta-feira

1963 – Grêmio bi gaúcho, 2×2 Pelotas, Boca do Lobo

1974 – Inter hexa gaúcho pela segunda vez, 1×0 Grêmio, Beira-Rio

 

2.12, sábado

1953 – Cruzeiro de Porto Alegre 0x0 Lazio em Roma

2012 – Último jogo no Olímpico, Gre-Nal 0x0 

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