A caligrafia está desuso. Não só pelos médicos (que têm a obrigação de ser claros e precisos nas prescrições farmacêuticas) como pela população em geral. O usual agora é o garrancho sem comunicação, inexpressivo, despersonalizado, quase analfabeto. O aspecto cultural da letra à mão parece perder significado nessa era mecanicista. Isso no ocidente. No oriente (chineses, japoneses, árabes, por ex) prevalecem o esmero e a delicadeza de milhões de escribas. Por isso vale destacar o culto à caligrafia que tantos artistas mantem, apesar do atual desapreço pelo exercício da letra bem desenhada.
O artista visual holandês Niels Shoe Meulman deve ter nascido (em Amsterdã, 1967) com um pincel na mão. Precoce, a partir de 79 começou a rabiscar publicamente, aos 18 anos já era lenda do graffiti no seu país. Instintivamente habilidoso e visionário gráfico, não poderia ser apenas mais um grafiteiro.
Na década de 80, reuniu artistas de Nova York e marcaram a capital holandesa com traços expressivos, que a cidade não teve como ignorar. A seguir, inspirado no graffiti americano, formou o grupo Crime Time Kings e com o Bando de Paris e o Mode2 de Londres chegaram a um estilo europeu de graffiti.
Durante os anos 90, Shoe aperfeiçoou sua técnica, que já era avançada, com o mestre do design gráfico holandês Anthon Beeke. Inquieto, abandonou a agência, passou pela BBDO, até virar parceiro da agência Unruly (Indisciplinados). Como designer, já criou desde embalagens e rótulos até lenços de seda.
Mas sua paixão continua a ser a caligrafia, seja a editorial, seja a monumental. Através do manuscrito (com papel como suporte) ou do gestual grandioso (na superfície de ruas, muros e até em telhados), Shoe eleva essa arte milenar. Impressionante é sua facilidade: água e vassoura ou pincéis e tintas, em tudo é genial.
Shoe chama sua arte de escrever Calligraffiti, fusão caligrafia + graffiti. Ele lançou este movimento em 2007 com exposição individual em Amsterdã. De lá pra cá, passou a assinar NSM e não parou de expor na Europa e EUA. Em 2010 lançou o álbum Calligraffiti. E dizer que nem nos cadernos estudantis sobrevive a caligrafia.
Veja entrevista de Niels e o artista em ação no muros, terraços e telhados de Beijing, China
Assista Niels escrevendo com vassoura nos telhados de Singapura
Veja Niels se divertindo com rodo e tinta em praça pública em Amsterdã
Para conhecer a trajetória do artista Niels Shoe Meulman, acompanhar suas criações e eventos e ver obras à venda, acesse respectivamente seu site NSM, o site Calligraffiti, o seu Facebook e a galeria Unruly.