“Um bom time de futebol pode ser comparado a uma linda modelo desfilando na passarela com muita elegância: se de repente um salto do sapato quebrar, ela se esparrama e dá vexame” (Abel Braga, técnico)
Jornalismo remete as pessoas a lugares bem estranhos. Finlândia, Hungria e Coreia, por exemplo, falam línguas que não existem em nenhum outro lugar do mundo. Os finlandeses já tiveram tantos dialetos que precisaram fazer uma unificação ou ninguém mais se entenderia, os húngaros nem ao menos têm origem determinada sabendo-se que vieram além dos Montes Urais mas nada muito mais, e o pessoal da Coreia tem os olhinhos puxados como no Japão e na China e a escrita parece a mesma, mas pergunta aí a um japonês ou chinês se é a mesma coisa e eles vão dizer que não, e os coreanos também.
Então como é que um brasileiro faz quando é o árbitro de um jogo Suécia x Arábia Saudita na Copa do Mundo, como o gaúcho Renato Marsiglia? Nesse caso aconteceu o improvável, pois quando o Marsiglia começou a suar para se acertar em inglês com os dois capitães veio a salvação em forma de surpresa dupla:
– Pode falar comigo em português, eu joguei quatro anos no Benfica, em Portugal – informou o sueco.
– Comigo também pode ser, minha mulher é brasileira – emendou o saudita.
Brasileiro dá um jeito, podem acreditar aí. O Condessa, por exemplo: talentoso fotógrafo, foi a uma Copa falando só português, e olhe lá. Ele tinha esse apelido porque levava horas se arrumando, e andava de tamancos (dos quais levou uns quatro pares na viagem). Condessa não andava – desfilava! Vinha e ia bem devagar, na ponta dos pés, não como um conde – como uma condessa! Parecia estar de salto alto, deslizando com soberba e uma lentidão irritante, solene, na dele, nem aí para a pressa da humanidade.
Pois já no país da Copa, muito longe, na fase de preparação e bem antes do primeiro jogo, Condessa sumiu do hotel e do convívio da companheirada logo no terceiro dia. Aconteceu que ele tinha conhecido uma garçonete no restaurante meia-boca onde a brasileirada se abastecia, e simplesmente foi morar com ela. Só que a menina era – adivinha aí! – húngara, imigrante. Além de húngaro só falava o básico para uma garçonete estrangeira na língua do país da Copa. Condessa e a hungarazinha danadinha de boninitinha se entendiam. Mas e daí, como é que faz?, quis saber a galera. Tá bem, ele não era o orador da turma, no serviço só precisava tirar fotos, mas e daí, como é que é com a moça? Condessa, o pragmático, foi curto, grosso , papo reto:
– Não tem problema.
Parece que não teve mesmo, porque o nosso amigo só deixou o ninho no fim da Copa. Foi um prodígio de brasilidade: aprender húngaro, ensinar português e misturar os dois em menos de dois meses.
Agenda histórica do futebol gaúcho na semana
1.10, domingo
1970 – Inter bicampeão gaúcho, 2×0 contra o 14 de Julho de Passo Fundo no Beira-Rio
1988 – Com Taffarel, Luiz Carlos Winck, Aloísio e Ademir Kaefer, do Inter, Brasil fica com medalha de prata no futebol da Olimpíada de Seul ao perder a final por 2×1 para a União Soviética; Winck e Kaefer já tinham sido também prata em 1984 em Los Angeles
2.10, segunda-feira
1926 – Arranca de Cruz Alta goleia Grêmio por 5×2 em Porto Alegre
1993 – Lajeadense 1×0 Inter em Caí
1996 – Inter com Figueroa estreando como técnico vence Vasco por 4×1, em Florianópolis
3.10, terça-feira
1909 – Mulheres que assistem jogo Grêmio x Fuss-Ball torcem lenços à beira do campo, porque seria feio gritar: começam aí a aparecer na imprensa as expressões “torcedoras, torcida, torcedores”
1926 – Gaúchos 5×2 Paraná, jornal “A Federação”escreve: “Nossa technica é bôa, differente da paulista e carioca, semelhante à uruguaya”
4.10, quarta-feira
1908 – Fundação do São Paulo de Rio Grande
1935 – Clubes gaúchos recebem proposta do Palmeiras para três jogos em Porto Alegre: 40 contos de réis, incluindo despesas de viagem de ida e volta a São Paulo em “automóveis especiais”
1942 – Inter 3×0 seleção gaúcha, com renda para construção de abrigos anti-aéreos em Porto Alegre
1979 – Novo Hamburgo na primeira divisão brasileira faz 1×0 na Anapolina
2008 – Grêmio vence Botafogo por 2×1 e inicia série de 50 jogos de invencibilidade no Olímpico
5.10, quinta-feira
1956 – Morre em Porto Alegre o “Chocolate”, torcedor-símbolo do Inter (junto com “Charuto”), que trabalhava sempre com uma flâmula do clube na sua cadeira de engraxate na Praça da Alfândega; FRGF recebe da CBD cheque de C$370 mil do Banco da Loteria Esportiva como gratificação pela conquista do campeonato Pan-Americano, em março
1982 – Fundação da torcida “Garra Tricolor”, do Grêmio
6.10, sexta-feira
1901 – Primeira apresentação de futebol em Pelotas, jogo “interno” (primeiro quadro x segundo) do Rio Grande.
1935 – Ildo Meneghetti, ex-presidente do Inter, renuncia à presidência da Federação Rio Grandense de Desportos, FRGD, por causa de suspensão do jogo Grêmio x Juventude, pelo campeonato gaúcho, sob alegação de chuva, sem o seu conhecimento
1962 – apresentada maquete do futuro Estádio Beira-Rio, com todas as arquibancadas cobertas (com o Gigantinho do lado oposto), concluído sete anos depois, com cobertura parcial
1974 – Manga cobra pênalti e faz último gol do Inter em vitória de 4×0 no Beira-Rio contra o Gaúcho de Passo Fundo (goleiro Carlos Alberto se recusa a defender); Manga volta a chutar outro pênalti – em 4×0 sobre Guarani em Garibaldi dia 30 de outubro de 1974 –, dessa vez para fora
7.10, sábado
1900 – Rio Grande, clube mais antigo do futebol brasileiro, realiza primeiro jogo, interno, entre as suas equipes A e B
1946 – Seleção de Porto Alegre vence seleção de Novo Hamburgo, 5×0, na Montanha
1957 – Grêmio cria categoria de “sócio olímpico”, com direito a distintivo de ouro