Plano Diretor Rural ajudará agricultor a escolher o que, onde, quando e como plantar. Culturas diferentes e em expansão no mundo podem ser uma alternativa rentável à tradição do milho e hortifrutigranjeiros
O Caio Rocha contou há pouco a história do interrogatório meio a la Dom Quixote que Cezar Schirmer respondeu a produtores e investidores quando foi à Espanha tentar importar a tecnologia para a cultura de oliveiras em Santa Maria.
– Como é o clima lá, prefeito?
– Bom.
– Como é o solo?
– Muuuuito bom!
– Qual a cultura mais adequada ao solo de vocês?
– (…)
A história contada pelo secretário nacional de Segurança Alimentar nesta segunda em Morungava na primeira reunião de trabalho com produtores para elaboração do ‘plano diretor rural’ de Gravataí inspirou o prefeito Marco Alba a buscar e conseguir mais de meio milhão do governo federal para fazer uma pesquisa de solo e clima em toda área de plantio, o chamado zoneamento edafoclimático.
– Sabendo o que é melhor plantar conforme a terra e as condições do tempo, o agricultor consegue lucrar mais em menores espaços e não se mete em aventuras – resume o prefeito, que passou a tarde no bonito distrito, reunido na igreja Santa Luzia com o representante de Brasília, técnicos da Emater e da Embrapa, e os personagens principais do dia: pequenos produtores rurais de Gravataí.
– O levantamento à disposição hoje no Rio Grande do Sul avalia o solo numa escala de 1 para 750 mil hectares. O que será feito em Gravataí vai de 1 para 50 mil. É uma radiografia quase perfeita das condições de qualquer cultivo nas terras da zona rural – resume Caio Rocha, com um currículo de mais de 20 anos de campo como ex-secretário estadual da Agricultura e ex-chefão da Emater e Embrapa.
– Falando mais diretamente: com um estudo das condições do solo e a escolha da produção adequada, o produtor vai ao Banco do Brasil e consegue financiamento muito mais fácil – explicava Marco Alba, nas conversas informais com agricultores locais e técnicos do setor como a chefe da Emater Vanessa Sperotto, o presidente do Sindicato Rural Manoel Valim, o presidente do Conselho de Desenvolvimento Rural José João Melo, o subprefeito do distrito Jorge Schroder e o presidente do Sindilojas, José Rosa, além de uma comitiva de secretários de Glorinha e o deputado federal Jones Martins.
A idéia é, em um ano, entregar aos agricultores uma ‘radiografia’ das características da zona rural de Gravataí, para facilitar a escolha dos produtores sobre o quê, e em que época, plantar: seja numa opção pela tradição, com o milho, que hoje responde por mais da metade do que brota das terras locais, ou por culturas mais inovadoras que podem fazer com que ‘Oliveiras’ se torne mais do que o sobrenome de uma das mais tradicionais famílias do município.
Instigando os produtores, Caio Rocha fez uma explanação sobre culturas ainda tidas como exóticas, mas que casam com as peculiaridades gaúchas, e que representam mercados internacionais em expansão nos últimos dez anos, como a lentilha, que cresceu 371% e o grão de bico, 252%. Porcentagens traduzidas em milhões comercializados dos Estados Unidos ao Sudão.
– Por vezes, uma cultura bem escolhida dá rentabilidade em pequenas porções de terra – observou, sob olhares naturalmente ainda desconfiados de cerca de uma centena de pequenos agricultores que, em sua maioria, aprenderam a lida com os pais em culturas tradicionais da região, como milho e hortifrutigranjeiros.
– A gente vai plantando como sabe, pela experiência do passado, acertando e errando. Claro que sabendo a terra melhor para cada coisa, ajuda – simplificou João Batista Pacheco Guedes, 50 anos, que há duas décadas tira o sustento da família cultivando verduras em uma propriedade de seis hectares em Morungava.
Para plantar uma semente do futuro, o Seguinte: pediu para o secretário da Agricultura Denner Gelinger fazer uma aposta no que será o futuro do setor, em Gravataí:
– Orgânicos.
Confira EM VÍDEO como foi o evento e o que foi dito por autoridades, técnicos e produtores