histórias do mundo

O laranja azedou

Esta ouvi em uma mesa de bar, em Quito, Equador, quando vivia por lá… Diz que um ministro que tinha uma baita fama de corrupto comprou, com “plata mal habida”, em nome de um amigo do peito, uma das melhores fazendas de gado leiteiro do país.

Tudo ia muito bem até que o tal amigo sugeriu à mulher que pedisse divórcio e exigisse, na Justiça, o que lhe cabia de direito.

Não adiantaram o choro e o ranger de dentes do ministro, que foi obrigado a vender a fazenda, enquanto o amigo seguia jurando que estava tão surpreso e decepcionado quanto ele.

Tempos depois, a mulher se instalou em uma tremenda mansão, em Miami, onde começou a decorar o quarto do casal…

 

O Padre Pepe

 

Um dia, lá na década de 90, estávamos passeando pela região rural do município de Ambato, no Equador, e meu marido decidiu dar uma parada na casa de um pedreiro que estava trabalhando para ele.

Quando batemos palmas no portão, apareceram umas crianças que o conheciam e disseram que seu pai não estava. Perguntamos, então, por sua mãe, e uma delas respondeu: “Ela está vestindo o bebê para ser batizado, porque está morrendo”.

Entramos rápido casa adentro e encontramos uma indígena acocorada sobre uma esteira, vestindo um bebê com um terninho branco, complementado por sapatos e boné da mesma cor.

Ao nos ver, ela implorou: “Patroncitos, levem-nos até a igreja de Totoras (era o povoado mais próximo)! Se esta criança morre sem batismo, o padre me mata!”. E, em seguida, nos contou que havia ido cedo à cidade, para comprar o tal terninho branco, pois o Padre Pepe tampouco aceitaria batizar a criança se não estivesse vestida com essa cor.

Dissemos que a levaríamos não à Igreja, mas ao hospital, e ela protestou: “Por favor, não me façam isto! Não quero ter problemas com o Padre Pepe!” Então, piscamos um para o outro e a fizemos embarcar no carro com o bebê, decididos a enganá-la. No caminho, ela nos contou que aquele filho seu havia nascido com problemas e que a parteira havia lhe dito que não iria “vingar”.

De repente, olhei para aquela criança, que, por seu tamanho, não deveria ter mais do que alguns meses, e notei que tinha dentes. Perguntei, então, sua idade, e a mãe respondeu que estava com quase dois anos.

Sob protestos, ela desembarcou na frente do hospital, onde o bebê foi prontamente atendido. Algum tempo depois, fomos informados por um médico que ele estava bem, mas que, se não tivéssemos chegado naquele momento, provavelmente teria morrido. Ocorre que havia ingressado no hospital com o estômago absolutamente vazio, o que, no seu entendimento, indicava que a mãe o estava deixando morrer de fome, por acreditar que, se sobrevivesse, iria ser um peso para a família.

A mãe recebeu a notícia do salvamento do bebê sem qualquer emoção e, em seguida, exigiu que fôssemos buscar o Padre Pepe, para que o batizasse, e nos pediu para sermos os padrinhos. Dali a pouco, estávamos na pracinha diante da Igreja de Totoras, onde o encontramos sob a copa de uma árvore, jogando cartas e bebendo com alguns amigos, e foi um trabalho danado convencê-lo a ir até o hospital.

Afinal, chegou lá, ainda reclamando pela interrupção do seu descanso, batizou o menino em uma cerimônia meteórica, com o nome de William Freddy (era comum que os indígenas equatorianos colocassem nomes “de gringos” em seus filhos naquela época) e pediu que o levássemos correndo de volta, antes que seus companheiros de jogo se dispersassem.

Nesse momento, perdi as estribeiras e meti a boca no padre, na mãe da criança e no pai, que havia acabado de chegar. E acho que valeu a pena, pois, dali em diante, vira e mexe íamos lá conferir como nosso afilhado estava sendo tratado e sempre o encontramos vendendo saúde.

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