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EXCLUSIVO | Rei do lixo fala sobre projeto em Glorinha

Wilson Quintella Filho é o controlador da Estre Ambiental

Bilionário dono da gigante ambiental que vai investir em um aterro sanitário em Glorinha fala com exclusividade. Conheça mais sobre o negócio milionário que provoca polêmica no município a 36 quilômetros de Gravataí

 

Wilson Quintella Filho confirmou nesta noite ao Seguinte: que a Estre Ambiental vai instalar um negócio em Glorinha, a 31 minutos de Gravataí. Aos 61 anos, o bilionário é conhecido como o ‘rei do lixo’, proprietário da maior empresa de gestão de resíduos no Brasil e América Latina.

Visionário, no fim dos anos 90, quando só japoneses e loucos falavam disso no país, apostou e faturou zeros após a vírgula com o ‘mercado verde’ – a transformação em energia dos resíduos não recicláveis, aquele resto de comida que você coloca numa sacola para o lixeiro levar.

Biogás, o nome do mistério.

A ascensão do filho que tocava os negócios do pai até o controle da empresa que hoje, duas décadas depois, é uma das 200 maiores do Mercosul, deu-se conforme a IstoÉ Dinheiro, logo depois da falência da Cutrale Quintella, empresa de propriedade do Quintella senior (presidente por 30 anos da Camargo Corrêa, uma das maiores construtoras do país) e de José Cutrale, um dos maiores fabricantes de suco de laranja do mundo.

Por motivos óbvios muito bajulado e mecenas de altos políticos, no ‘mercado’ tem como cartão de visitas o padrinho Olacyr de Moraes, ex-rei da soja, hoje atual-mineração.

Para se ter uma ideia, o bilhão e pouco que a Estre movimenta atualmente representa 10% do que é movimentado anualmente no setor em todo Brasil – onde cerca de 25% de todos os resíduos recolhidos e enviados para tratamento têm como destino um dos 23 aterros da companhia, além de centrais de tratamentos de resíduos na Argentina e Colômbia.

Quase diariamente de calça jeans, sapato e camisa, e assunto entre funcionários mais antigos por, em 2001, ter ido à rua catar lixo vestido de gari para, conforme ele, “aprender mais sobre o negócio”, levou sua Estre Ambiental há 10 dias a abrir o capital e listar ações a um valor de mercado inicial de 1,1 bilhão de dólares na Nasdaq, a bolsa norte-americana.

Pois esse gigante está de olho em Glorinha há cinco anos. Já comprou 250 hectares na Vila Nova, a seis quilômetros do Centro do município. O valor o empresário não confirma, mas seriam R$ 5,5 milhões. Entusiasta da tecnologia que usa em seus aterros, ele ‘vende’ bem seu negócio e propõe levar todo mundo para conhecer sua tecnologia.

– As pessoas acham que quando o caminhão do lixo passa, o problema termina. É aí que começa nossa solução – diz o articulado paulista, que conversou por mais de 30 minutos com o Seguinte: sobre o empreendimento que, pelo projeto apresentado à Fepam, com estudo de impacto pago e apresentado pela empresa a um custo de R$ 250 mil, pede autorização para, num projeto de R$ 100 milhões e quase mil empregos, receber lixo de quase 40 municípios num raio de 150 quilômetros, o que atrairia além da Grande Porto Alegre, a Serra e o Litoral.

Confira trechos da entrevista, como ela foi transcorrendo, por telefone, com o ‘rei do lixo’ que, pelo menos até agora, não pediu nenhum incentivo fiscal, o que permitirá Glorinha recolher em impostos cerca de R$ 15 milhões, frente a um orçamento total estimado em 2017 em R$ 30 milhões, além do impacto – causas e consequências – de mais de 500 empregos e, quem sabe, futuras empresas sistemistas.

 

Seguinte: – Já dá para dizer que a Estre é uma empresa de Glorinha?

Quintella – Compramos uma área. Apresentamos aos órgãos ambientais gaúchos um projeto e estamos aguardando a licença. Queremos investir em Glorinha.

 

Seguinte: – Por que Glorinha?

Quintella – É difícil identificar áreas na região que tenham solo adequado e a logística que Glorinha tem, com acessos viários, hídricos e aéreos.

 

Seguinte: – Qual o investimento, a projeção da empresa dar lucro e os principais clientes?

Quintella – Nosso investimento inicial é de R$ 100 milhões, mas é um negócio que para Glorinha será sempre rentável. Temos cálculos internos da taxa de retorno, mas só poderemos falar mais concretamente sobre isso após a liberação do empreendimento e suas características finais. Apresentamos um projeto, que pode mudar conforme apontamentos dos órgãos ambientais, ou até sugestões da comunidade. Consideramos muito importante comunicarmos bem com quem vive na cidade. Mas a média de retorno nesse mercado fica entre quatro e cinco anos. Sobre clientes, hoje é melhor você perguntar qual grande empresa não é cliente. É de prefeituras até a Gerdau e a Natura, por exemplo.

 

Seguinte: – Com a vida feita no mercado do lixo deves ter experiência na relação com as comunidades, já que quando um empreendimento do ramo chega numa cidade, o mais natural é os moradores projetarem um futuro como vizinhos a um lixão. Mande um recado aos moradores de Glorinha?

Quintellla – Nossa tecnologia é de Primeiro Mundo. Queremos mostrar a todos… É o tipo de coisa que só vendo para acreditar. O lixo sempre gera dúvida, mas gostaria de tranquilizar a comunidade. Lixões são coisas de décadas atrás. Não vai ter mau cheiro em Glorinha, respondendo a uma pergunta tão comum.

 

Seguinte: – Se um órgão de controle fizesse uma comparação dos empreendimentos da Estre com países desenvolvidos, qual seria o resultado?

Quintella – Primeiro gostaria de dizer que o órgão licenciador do Rio Grande do Sul, a Fepam, é rigorosíssima. O mundo sabe. Mas posso atestar que em nenhum dos nossos empreendimentos, onde for, ganhou menos de 9,5 de nota, numa escala de zero a 10. Visitei este ano a ADS, quarta maior empresa dos EUA e responsável por boa parte dos aterros e voltei feliz: não ficamos atrás deles em nada! Uma empresa norte-americana também está nos auditando, mas vou ficar te devendo o nome. Onde levamos sexta o prefeito, o vice e os vereadores (Fazenda Rio Grande, a 29 quilômetros de Curitiba, Paraná), processamos o lixo de 100% da Região Metropolitana de Curitiba. Soube que houve quem se preocupasse, achando que tínhamos mostrado só o que é bom e interessa à empresa. Mas o convite para uma visita ao Paraná foi só porque é mais perto. Nossa central mais antiga, Paulínia (119 km de São Paulo, capital), é nosso orgulho.

 

Seguinte: – Por se tratar de um tema delicado, que é o meio ambiente, e também pela probabilidade de um negócio desse porte impactar no crescimento populacional e no dia a dia de uma cidade pequena, do interior, como Glorinha, a Estre oferece contrapartidas além da esperança em um crescimento futuro do município com o retorno de impostos?

Quintella – Já estamos conversando com o prefeito (Darci Lima da Rosa). Estive há dois meses na cidade, tomamos um café juntos. Mantemos contato direto por telefone. Digo a ele que Glorinha não terá que se preparar para receber a Estre, mas sim a Estre fará o que tiver que fazer por Glorinha.

 

Seguinte: – A Estre abriu o capital este mês. Como isso mexe com a gestão da empresa?

Quintella – Se você pegar as cinco maiores empresas nos Estados Unidos, na Alemanha ou na França, todas tem capital aberto. Isso dá total transparência na gestão. No Brasil de hoje, isso é um cartão de visitas, porque você submete toda gestão aos mecanismos de controle financeiro e anticorrupção do mundo todo. Hoje somos uma empresa de ponta, aberta e investindo no Brasil, independentemente da crise.

 

Seguinte: – Virás a Glorinha em breve?

Quintella – Sim. Já fui duas vezes e certamente irei novamente. Estarei à disposição.

 

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