Neste ano, o funcionalismo parou por 60 em Cachoeirinha, na maior greve da história do município. Em Gravataí, professores estão parados desde segunda-feira.
O Seguinte: lista 5 diferenças entre as duas paralisações, que podem influenciar diretamente no tempo de duração de cada movimento.
1. ENTRE O SALÁRIO E A IDEOLOGIA
Enquanto em Cachoeirinha o funcionalismo parou antes, durante e depois da aprovação do chamado ‘pacotaço’ apresentado pelo prefeito Miki Breier (PSB), que mexeu em triênios, qüinqüênios, gratificações, vale-alimentação e em planos de carreira que garantiam mais que dobrar alguns salários em uma década, em Gravataí o prefeito Marco Alba (PMDB) fez ajustes polêmicos na folha de pagamento ainda em 2013 (como a retirada da incorporação das convocações e o pagamento na quinzena) e em 2015 (como o aumento da contribuição dos servidores de 11% para 14% para o Ipag Previdência, e a criação de alíquota de 1% por dependente inscrito no Ipag Saúde).
Os salários estão congelados em Gravataí, mas o próprio sindicato dos professores diz que a greve ultrapassa a tradicional pauta salarial para uma pauta mais ideológica (de diferentes réguas para medir o tamanho do estado) e que vai além fronteiras: o objetivo é, nas palavras da presidente Vitalina Gonçalves, defender o papel dos servidores e desmistificar o discurso de que o funcionalismo é o vilão das contas públicas.
Em resumo, a greve deflagrada segunda em Gravataí é mais em defesa da categoria do que a de Cachoeirinha, por ‘corte de vantagens e privilégios’ (como dizem os governos), ou ‘retirada de direitos’ (como denunciam os sindicatos).
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2. ATRASOS E PARCELAMENTOS
Os salários em Gravataí sempre foram pagos em dia nos governos de Marco Alba. Em Cachoeirinha, além dos servidores terem enfrentado em 2016 atrasos e parcelamento no governo de Vicente Pires, do mesmo partido do prefeito Miki, havia a ameaça de novo balão nos pagamentos – o que aconteceu, por cinco dias, no parcelamento da folha de junho.
3. UMA E TODAS AS CATEGORIAS
Em Gravataí, há apenas professores e trabalhadores da educação em greve. Em Cachoeirinha, todas as categorias pararam – com adesão bem maior que na aldeia dos anjos.
4. A CERTEZA E A SURPRESA
Enquanto em Gravataí o sindicato dos professores já projetava um congelamento de salários por Marco Alba, e fez campanha contra a reeleição, encomendando até pesquisa às vésperas do pleito (que divulgou valorizando a rejeição do prefeito), em Cachoeirinha o ‘pacotaço’ apresentado por Miki surpreendeu os servidores – muitos eleitores do partido socialista e do grupo que governa a cidade desde 2000 com os ex-petistas José Stédile, Vicente Pires e Miki.
5. A DÍVIDA E O PAGAMENTO
Enquanto em Cachoeirinha o governo deve cerca de R$ 100 milhões não recolhidos pelos governos Stédile e Vicente para o instituto de previdência municipal (Iprec), além de já acumular uma conta de R$ 16 milhões da parte patronal na gestão Miki, em Gravataí Marco Alba tem depositado a parte da Prefeitura e pago uma alíquota complementar progressiva para fazer frente a um cálculo atuarial bilionário para garantir aposentadorias passadas, presentes e futuras dos servidores.
É essa, inclusive, a principal justificativa do governo Marco para não acenar nem com a reposição da inflação: o gasto de mais de 50% com a folha, na soma de salários e do ‘céu é o limite’ dos complementos mensais para manter a previdência em dia.
Opinião
Os 5 itens – somados à divisão da categoria na aprovação da parada (172 a favor e 142 contra, num universo de 3 mil) e ao momento (em segundo semestre, o que arrisca atrair a ira de mães, pais e alunos contra a ‘luta’ do sindicato) – alimentam o sentimento do repórter de que diferente dos 60 dias de greve em Cachoeirinha, em Gravataí a paralisação não deve passar de seis.
Grito dado, o funcionalismo deve aprovar na assembléia de sexta uma volta às aulas na próxima segunda.
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