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OPINIÃO | Da carreata à Câmara, ao fim da greve?

Carreata levou sindicalistas até Câmara para o uso da tribuna popular

Ninguém liberta ninguém: as pessoas se libertam em comunhão, dizia Paulo Freire. Quem sabe inspirada no papa dos educadores foi num surpreendente tom de paz que a presidente Vitalina Gonçalves representou seu sindicato há pouco, na Câmara de Gravataí, na guerra para, em suas palavras, desmistificar o funcionalismo como vilão das contas públicas – não exclusivamente na aldeia, mas país afora.

– Não fazemos educação, saúde, atendimento social ou segurança para nós mesmos, mas para população. Somos os que estão todos os dias, chuva ou sol, nas salas de aula da Vila Rica, do Rincão e das periferias. Pedimos respeito à categoria e que nenhum direito nos seja tirado – apela a baixinha agitada em cabelos crespos, vestindo uma camiseta preta escrito #QuemLutaEduca!, ao observar que o movimento deflagrado nesta segunda não busca um enfrentamento entre ela e o prefeito, ou entre o sindicato e o governo.

Apesar de saber-se uma notória ‘luta’ carregada de ideologia e com réguas diferentes para medir o tamanho do estado.

– Não temos o direito de agir por gostar ou não uns dos outros, porque tanto nós servidores, como o prefeito, tem que trabalhar pela comunidade – diz, apontando mais de uma vez para o inusitado da greve, diferente por ser mais em defesa do papel do funcionário público do que um movimento tradicional por reposição salarial.

– É uma oportunidade única para conversarmos com pais, alunos e a população, num momento de brutal crise política e econômica. Porque o primeiro passo é colocar o funcionário como vilão, depois é cortar nas políticas públicas – argumenta a dirigente ligada à CUT e à Frente Brasil Popular, sem nesta paralisação citar diretamente o governo Marco Alba, do PMDB de José Ivo Sartori e Michel Temer, tão atacados por ela e colegas nas últimas tentativas de greves gerais nacionais que ajudou a organizar.

Pelo menos não ‘ao vivo’ e neste momento, já que carta aberta do sindicato fala em congelamento, confisco e perdas salariais.

 

Carreata à Câmara

 

Após uma concentração no Parcão e uma carreata puxada por carro de som tipo de campanha eleitoral, que circulou entre a parada 75 e o Centro, passando pela frente da Prefeitura, a presidente do sindicato dos professores Vitalina Gonçalves desembarcou na Câmara e, da tribuna, informou aos vereadores que as negociações avançaram já nas primeiras horas da greve.

Foi acalentada por gritos de “me representa”, vindos principalmente de professoras que lotaram o plenário.

A briga deixou para os parlamentares de governo e oposição, que discutem até agora.

– As coisas estão caminhando bem. Os dois lados querem construir uma saída – avalia, refazendo a cronologia da aprovação da greve na quinta, por 172 a favor e 142 contra; a entrega da pauta ao governo na sexta e, já na manhã do primeiro dia de paralisação, a resposta do prefeito.

– Nosso patrão, o prefeito, sinalizou positivamente aos quatro pontos.

Além do ok à retomada da mesa de negociações, e a discussão de acordos passados, no item Ipag Saúde, que poderia atingir 4.035 servidores (2.890 na ativa e 1.145 aposentados) e 4.445 dependentes, o governo negou qualquer plano de extinção.

Na principal polêmica, que era o pedido para recuperar CC na diretoria administrativa do instituto, perdida desde a exoneração de Irene Kirst, um dos cérebros do sindicato, a resposta do governo serviu às sindicalistas.

– O prefeito não aceitou, mas reconheceu o conselho deliberativo do Ipag, onde temos cadeira, como órgão máximo das decisões do instituto – argumenta a presidente.

 

Assista ao vídeo da carreata até a tribunal

 

Che Marco

 

O curioso, no rastro do histórico de antagonismo entre sindicato e governo, é que os dois primeiros dias da greve transcorreram mais ou menos na mesma vibe que parecia estar o prefeito no dia anterior, quando falou a CCs e servidores do Ipag, nas comemorações dos 21 anos do instituto que está no centro da polêmica entre grevistas e governo.

Marco Alba foi duro, pero sin perder la ternura.

– Não podemos viver do velho maniqueísmo de que há um bem contra o mal. A população precisa conhecer os números da Prefeitura, precisa conhecer o Ipag. E quem faz o serviço público precisa agir pelo interesse público, não de forma corporativa ou eleitoreira. Que tal tentarmos o que ninguém nunca tentou para salvar o Ipag e nas coisas importantes para cidade: a união? – instigou, logo depois de garantir que não extinguiria o plano de saúde do funcionalismo e lembrar que era o primeiro prefeito a pagar em dia a conta, inclusive dívidas de governos anteriores, do Ipag Previdência e seu cálculo atuarial bilionário para garantir aposentadorias passadas, presentes e futuras dos 5 mil funcionários.

Até agora, ideologias e cálculos de gastos com pessoal à parte, há uma discordância pública apenas no tamanho da greve, que o sindicato calcula ter uma adesão de 2 mil educadores, enquanto o governo reconhece como paradas apenas duas entre 74 escolas, além de casos esporádicos de professores ausentes.

– Nossa rotina não foi alterada – resumiu há pouco a secretária da Educação Sônia Oliveira.

Se a tensão vai subir, as próximas horas dirão. Em ofício protocolado nesta terça, o sindicato pediu a retomada das negociações já nesta quarta, possivelmente para testar os limites do governo antes da nova assembléia geral de sexta, onde será novamente votada a continuidade ou não da greve.

– Amanhã (quarta) responderemos ao sindicato – disse há minutos Claiton Manfro, secretário de Governança, que não quis antecipar a decisão ao Seguinte:

 

Ou…

 

Ao fim, no feeling do jornalista, o que parecia se desenhar no quadro do primeiro dia de paralisação não foi apagado nesta terça: como todo mundo sabe que o governo não vai dar nenhum reajuste, o grito do sindicato já foi ouvido e a categoria se mostrou dividida na aprovação da greve, o caminho onde ninguém sai perdendo parece ser voltar normalmente às aulas na segunda que vem.

– Mas, e a luta? – podem perguntar os mais impetuosos ou descontentes. A luta, como sempre, continua. Mas ela necessariamente precisa ter povo ao lado, ou…

 

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