Pelo menos desde 2012, Anabel Lorenzi reina no PSB de Gravataí. Na metade dos anos 2000 recebida como estrela entre dissidentes do PT que ajudara a construir pela década anterior, a professora da rede municipal de ensino se tornou a esperança de chegar à Prefeitura da ‘terceira via’ – leia-se: quem não era Daniel Bordignon ou Marco Alba.
Em 2012, terminou a eleição com 40.043 votos, o que fez os mais empolgados dizerem que, pelo crescimento vertiginoso na reta final, se a campanha durasse mais uma semana buscaria Marco e seus 51.283 votos.
Os mais desconfiados preferiram alertar que a votação era uma bolha, inflada devido à migração de votos vindos do novamente impugnado Bordignon – que mesmo sobrevivendo à sombra das flechas recebeu 726 votos a mais que ela (apesar da contagem aparecer zerada até hoje no site do TRE).
Pois em 2016 e 2017, os votos que deixaram Anabel na terceira colocação na corrida pelo trono do palacinho amarelo da José Loureiro da Silva parecem ter dado razão aos céticos.
Ano passado, foram 25.756 na ‘eleição que não terminou’, vencida por Bordignon e anulada pelo ex-prefeito ‘pedir música no Fantástico’ em impugnações. Em março deste ano, a votação foi ainda menor: 23.490 – ficando atrás de uma Bordignon (Rosane, esposa de Daniel) e do reeleito Marco Alba.
Nos próximos dias, a disputa pelo comando do PSB mostrará se Anabel, mesmo com a perda de terreno nas urnas, continuará majestade no partido.
Com olhos em 2020, mas com uma estratégia que passa pela Assembleia Legislativa em 2018, permitiu que corressem especulações de que seria candidata à reeleição para presidência para testar a popularidade entre os seus. Quando os apoios políticos minguaram, oficializou a candidatura do sempre próximo Luis Stumpf, que já pousou outras três vezes na cadeira com seu voto.
Por que a interpretação de que falta de apoio político? É que seu grupo vai para a disputa sem o apoio dos três vereadores eleitos pelo partido, todos descontentes com a condução – e consequente isolamento – na última campanha à Prefeitura.
Veteranos na sigla apesar de jovens, Carlos Fonseca e Paulo Silveira também são candidatos. O novato Wagner Padilha tá de olho em apoiar Fonseca.
E qualquer um para o deputado federal José Stédile está bom.
Em segundo mandato tanto Paulo quanto Fonseca não querem se aposentar na Câmara de Vereadores. Também sonham com a Prefeitura. Não são homens que hoje dizem ‘sim’ ao responder se Anabel é a candidata natural em 2020. Um ‘talvez’, de companheiros, quando muito.
A pomba branca, da bandeira do partido, anda voando longe dos bastidores da eleição que acontece dia 29, com 1,3 mil filiados como potenciais eleitores conforme o Cartório Eleitoral. Principalmente dos grupos de WhatsApp, onde já vazou até caso de vereador em débito com as contribuições do partido.
Mas o que mais irritou apoiadores de Carlos Fonseca e Paulo Silveira foram mensagens postadas no grupo do partido por pessoas supostamente ligadas a Anabel e Luisão dizendo, em outras palavras, que seu candidato “sempre será socialista”.
O que soa uma obviedade para muitos, para outros tantos pareceu uma insinuação de que, caso a direção não fique sob a influência de Anabel, o PSB pode se aproximar de candidaturas alienígenas a seus quadros em 2020 e, até, em breve, do governo Marco e do PMDB – replicando a aliança pela qual o socialista Miki Breier foi eleito em Cachoeirinha.
Hoje, é algo impossível de imaginar para quem acompanha a postura de forte oposição exercida pelos três candidatos. Mas houve até fonte a recomendar ao colunista “ler nas entrelinhas” post feito há 20 horas por Anabel no Facebook, onde ela digita:
– Vergonha nacional ver dissidentes do PSB negociando com DEM e PMDB para apoiar Temer em troca de cargos e benesses. Que socialistas são estes??
A história do partido permite o medo de conspirações. O PSB, mesmo após trazer o falecido José Mota para simbolizar a oposição ao PT, entrou no governo Daniel Bordignon. E também já indicou Juliano Paz como vice do PMDB de Marco Alba. Sem falar no voto decisivo de Anabel como vereadora na espécie de ‘golpe parlamentar’ onde PSB, PMDB, PTB, PP, DEM, PSDB e PV tiraram Rita Sanco (PT) do poder após um controverso processo de impeachment.
Em uma temporada de reinados de Cersei, Daenerys e Claire na ficção, dirão muito sobre a majestade de Anabel os próximos episódios do Game of Thrones e House of Cards das eleições do PSB da aldeia.
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