histórias da bola

Tempos heroicos no Trem Paulista

Todo herói no futebol precisa de um time, todo time de futebol precisa de um herói.

Adidas, em anúncio mundial da indústria de material esportivo.

 

Um jogador de futebol deve ter no peito um coração batendo de paixão e orgulho, e ser capaz de trazer emoções ao público com momentos heroicos e mágicos, gols, vitórias e títulos.

Michael Lewis, jornalista inglês.

 

Um jogo de futebol pode se transformar num conto de fadas, tornar um jogador num herói popular, trazer asas a um time e euforia a um povo.

Andreas Werz, chefe de redação da revista “Fifa Magazine”.

 

Quando as pessoas se cansaram de guerrear elas disseram “vamos organizar jogos esportivos”: hoje os times de futebol substituem as antigas tropas de guerra, e por isso agora os vitoriosos são considerados heróis nacionais – e os perdedores maus embaixadores de um país.

Luis Fernando Suárez, técnico colombiano.

 

Em futebol também é importante carregar-se de dignidade, sentir-se como herói, manter a fronte em alto quando perdemos contra um adversário superior.

José Luis Chilavert, goleiro paraguaio.

 

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Campeonato brasileiro em quatro divisões, Copa Brasil, Libertadores, ligas regionais – o futebol do país hoje tem competições a varejo, porque ficou fácil viajar. No sentido de competições, tudo começou em 1922, um ano histórico para o futebol brasileiro, com a disputa do primeiro campeonato de seleções estaduais, em comemoração ao centenário da independência, proclamada em 1822 por Dom Pedro I. Chegar ao local do jogo dos gaúchos contra os paulistas, em São Paulo, é que eram elas!

Isso aconteceu antes do aparecimento do primeiro avião da velha Varig em Porto Alegre, em 1927, na verdade um hidroavião, flutuando nas águas do Guaíba. Cinco anos antes, a viagem da seleção gaúcha a São Paulo foi pelo “Trem Paulista” (a opção seria de navio, até Santos), e durou mais de três dias – mais exatamente 74 horas e meia, ou três dias inteiros, duas horas e 30 minutos. As saídas daqui para lá eram às segundas, quartas e sextas-feiras, de manhã, passando por Santa Maria e saindo do Rio Grande do Sul por Marcelino Ramos, paradas em Porto Izabel e Porto União em Santa Catarina, União da Vitória, Rio Azul e Jaguariaíva no Paraná, e Itararé e Sorocaba em São Paulo, antes da chegada à capital. O trem que partia de Porto Alegre às segundas, às 6h30, por exemplo, chegava a São Paulo às 9h de quinta. No sentido inverso, de lá para cá, havia saídas às terças, quintas e sábados.

A despedida do time em 1922, dia 17 de julho, teve grande público e entusiasmo na “gare da estrada de ferro”, Rua Voluntários da Pátria com Conceição. Era uma aventura, e cara: a Federação Rio Grandense de Desportos, FRGD, sem dinheiro, foi buscar ajuda – e conseguiu – no comércio de Porto Alegre. O grupo tinha jogadores de cinco clubes: três do Riograndense de Santa Maria (Willy Haupt, Mosquito Birriel e Marcelino), seis do Grêmio (Eurico Lara, Luiz Assumpção, Néco, Lagarto, Ramão Oliveira e Dorival), um do Inter (Barros), cinco do Ruy Barbosa  de Porto Alegre (Leão e Alfredo Delvaux, Presser, Talco e Laerte) e cinco do Pelotas (Quincas, Xingó, Faéco, Mário Reis e Adalberto).

A gauchada saiu ganhando dos paulistas, mas afinal perdeu por 4×2. Apesar da derrota, o goleiro Eurico Lara teve uma atuação heróica. Ao tentar defender um escanteio, machucou o joelho, caiu, continuou caído no campo, o jogo parado, naquele tempo não havia substituição. Após 15 minutos Lara continuou jogando, machucado, pulando numa perna só, heroico – jamais deixaria a sua equipe na mão! Até o jornal “O Estado de São Paulo” elogiou o goleiro do Rio Grande do Sul, “por empolgantes defesas… por sua atuação e coragem”.  E foi aí que começou a aparecer na imprensa o apelido, “Gato Gaúcho”, referência à grande agilidade de Lara, anormal e quase inexplicável para um sujeito desengonçado e com um metro e 91 de altura.

Lara não era incomum só pelo tamanhão. Na sua época, por exemplo, quando os primeiros campeonatos de futebol do Rio Grande do Sul começaram a ser disputados, não havia departamentos de arbitragens, e cada clube tinha que fornecer também um ou mais árbitros para a disputa. Podia ser até  um jogador, e um dos indicados do Grêmio durante uma década inteira foi exatamente ele, Eurico Lara, “Lenda Imortal” – o único atleta que tem o nome no hino do seu clube, por inspiração de um fã, o compositor Lupicínio Rodrigues. Era tão requisitado como árbitro pelos outros clubes que um dia aconteceu o cúmulo: a 20 de setembro de 1925 ele primeiro dirigiu a partida entre Inter e Cruzeiro, na Chácara das Camélias, depois trocou rapidamente de roupa e no mesmo campo foi jogar no gol do Grêmio contra o Americano.

Lara morreu com 35 anos. A história da viagem de três dias de trem e da tarde em que ele foi árbitro e jogador estão contadas no livro “Eurico Lara, Lenda Imortal”, com uma edição deapenas 130 exemplares.

 

Agenda histórica do futebol gaúcho na semana

 

16.7.2017, domingo

1959 – Guarany de Bagé em Buenos Aires perde para River Plate, 2×0

1975 – Inter faz 2×0 no Caxias e completa 48 jogos seguidos invicto no Beira-Rio, com 39 vitórias e nove empates (desde 28.11.1973), 120 gols a favor e 15 contra 

2006 – Grêmio 4×4 Fluminense

 

17.7.2017, segunda-feira

1910 – Primeiro jogo com redes em Porto Alegre, Grêmio 5×0 Inter, Baixada, e briga de jogadores

1911 – Primeiro jogo internacional do Grêmio, derrota de 3×0 para seleção do Uruguai, em Pelotas

1922 – seleção gaúcha embarca para jogo em São Paulo, em viagem de trem que vai durar três dias e duas horas e meia

1960 – Inter perde por 2×1 e goleiro Décio do Floriano defende pênalti, em  episódio que ficou conhecido como “Décio se mexeu?”

1994 – Com três gaúchos titulares – Taffarel, Branco e o capitão Dunga –, Brasil vence Itália nos pênaltis e é tetra na Copa do Mundo, nos Estados Unidos

2007 – Morre em acidente aéreo Paulo Rogério Amoretty, 60 anos, presidente do Inter em 1998 e 1999

2009 – Inter vende atacante Nilmar ao Villareal da Espanha por valor na época recorde no futebol gaúcho, 15 milhões de euros

 

18.7.2017, terça-feira

1909 – Primeiro Gre-Nal e primeiro jogo do Inter, Grêmio 10×0

1911 – Rio Grande perde para seleção do Uruguai, 13×1, em Rio Grande

1985 – Brasil de Pelotas 2×0 Flamengo, Estádio Bento Freitas, campeonato brasileiro

 

19.7.2017, quarta-feira

1900 – Fundação do Sport Club Rio Grande, mais antigo do futebol brasileiro

1911 – Pelotas perde para seleção do Uruguai por 12×1, em Pelotas

1987 – Grêmio tricampeão gaúcho, 3×2 contra o Inter no Olímpico

 

20.7.2017, quinta-feira

1913 – Grêmio abandona Liga de Porto Alegre alegando defesa de interesses

1932 – Inter perde Gre-Nal, sócio João Lápis fica revoltado e se demite

1947 – Inter vence Gre-Nal, 3×0, chefe de torcida Vicente Rao espalha folheto com desenho de mosqueteiro do Grêmio em caixão

1975 – Inter completa a sua  maior invencibilidade, 43 jogos

1978 – Grêmio termina com invencibilidade de 52 jogos do Botafogo

1986 – Grêmio bi gaúcho, 1×0 Inter, Olímpico

 

21.7.2017, sexta-feira

1995 – Emídio Perondi reeleito presidente da FGF; Brasil de Pelotas 2×1 Bahia em Salvador, campeonato brasileiro

2010 – Inter  publica na imprensa edital para venda do Estádio dos Eucaliptos, com valor presumido de R$20 milhões a R$25 milhões pela área de 22 mil metros quadrados

 

22.7.2017, sábado

1930 – Brasil na primeira Copa do Mundo, no Uruguai, tem jogador gaúcho, de Alegrete, Moderato Wiesentainer,  estudante de engenharia no Rio de Janeiro e ponteiro-esquerdo do Flamengo

1956 – Grêmio inaugura capela do Olímpico

1979 – “Gre-Nal de Borracha”, atacante do Inter, 1×1 no Olímpico

1980 – Falcão é o primeiro jogador estrangeiro contratado na reabertura do futebol da Itália após 14 anos de proibição, vendido por 3,2 milhão de dólares pelo Inter ao Roma

1983 – Grêmio 1×1 Penharol em Montevidéu, Libertadores, primeiro jogo das finais

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