estreia

O sorriso de Mona Lisa

"Monalisa sorri no quadro de Da Vinci. Mas está feliz? Ela PARECE feliz, então o que importa?".

No último final de semana ao procurar um romance clichê nos populares do Netflix encontrei o filme O sorriso de Mona Lisa. O filme de 2003, com um elenco bacana e estrelado pela diva Julia Roberts apesar de seus clichês é muito interessante pela meneira que retrata o conservadorismo e a vida das mulheres dos anos 50. 

O filme tem como cenário uma escola preparatória para meninas cujo objetivo principal era preparar boas esposas e mães. Aulas de decoração, etiqueta, costura, como cruzar e descruzar as pernas faziam parte do currículo. A frase "Podem estar aqui para tirar uma nota alta, mas a nota mais importante será a dele, não a minha" dita em determinada cena do filme caracteriza exatamente o que a escola e a sociedade esperavam daquelas meninas. 

É importante lembrar que durante a segunda guerra mundial as mulheres foram convocadas a exercerem funções consideradas masculinas. Enquanto os homens estavam no front de batalha as mulheres ocupavam funções como engenheiras, motoristas, supervisoras e operadoras de produção. 

Com o fim da guerra no final dos anos 40 a sociedade chamava mais uma vez as mulheres a desenvolverem -os papais para os quais elas haviam nascido – serem boas esposas e mães. A sociedade patriarcal precisava ser reestabelecida. 

Se der uma busca rápida no google e pesquisar as matérias publicitárias da época verá que o universo doméstico e a desvalorização feminina eram tratados como algo corriqueiro e até almejado. 

Voltando ao filme, a estrela Julia Roberts, interpreta uma professora recém formada em história da arte que distoa do pensamento da época. Além da professora não ter por objetivo principal casar-se, ela incentiva as alunas a terem pensamento crítico e a questionarem sobre as escolhas que elas devem fazer em suas vidas. Por contrapor os padrões estabelecidos era considerada subversiva; do dicionário : ação ou efeito de subverter, revolta, insubordinação contra a autoridade, as leis e os princípios estabelecidos. 

 Nos anos 50, para as mulheres, viver a feminilidade plena seria agarrar um homem, conservá-lo, cozinhar para ele e ter filhos, transformando a vida de seus maridos numa existência confortável onde as aparências são mantidas a qualquer custo, ainda que isso signifique o sacrifício de suas honras e esperanças. Hoje talvez seja fácil e oportuno que critiquemos isso tudo. Mas nós, moderninhos, já nos imaginamos naquele contexto? Afinal, somos produtos de meio, reproduzimos costumes e padrões de comportamento. Alguém disse que a função da mulher no mundo já estava estabelecida antes mesmo dela nascer. E demorou até que alguém questionasse essa "verdade". 

A identidade da mulher é formada no âmbito da cultura e, portanto, é histórica e social. Você pode pensar que machismo é coisa do passado, que homens e mulheres tem as mesmas oportunidades, que as coisas mudaram mas com certeza conhece uma mulher que não deseja ser mãe e conhece tantos outros que consideram essa idéia absurda. "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher" disse Simone de Beauvoir – acreditem – não está no nosso código genético que nascemos para fazer certas coisas porque somos mulheres. 

O sorriso de Monalisa coloca em questão nosso papel na sociedade de ontem e nos faz refletir sobre a de hoje. A subversidade nos dias de hoje teve o seu significado transformado pelo novo contexto mas continua sendo alvo de críticas. Fugir do padrão que a sociedade impõe ainda é um choque para muita gente. A linha reta é confortável e evita riscos, mas já percebemos, ela nunca valeu a pena para nós mulheres.

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