esquemas táticos e causos

O time que jogava no 4-2-4

Em futebol só existe um time invicto: o dos jornalistas – a imprensa nunca perde.

Passarella, argentino, jogador e técnico

 

Explicação de técnico de futebol é igual a cigano vendendo cavalo.

Otacílio Gonçalves, técnico

 

Os jogadores de futebol nunca sabem porque são substituídos pelos técnicos – até que se tornam técnicos.

Bobby Robson, inglês, jogador e técnico

 

O pior lado do futebol é perder – e pior ainda, ter que acordar no dia seguinte.

Manuel Pellegrini, técnico chileno

 

Você vê um jogo de futebol, depois vê o teipe e no outro dia lê os jornais – e aí descobre que cada jornalista viu o mesmo jogo de modo diferente.

Carlos Alberto Parreira, técnico

 

O encanto do futebol é que cada pessoa pode ver o mesmo jogo de maneira diferente.

Osvaldo Rolla, “Foguinho”, jogador, técnico, árbitro, radialista

 

Em futebol vida de técnico é assim: se eu andar sobre a água, vão dizer que faço isso porque não sei nadar.

Berti Vogts, alemão, jogador e técnico.

 

Jogador que encerra a carreira e quer virar técnico de futebol é o tipo do maluco que esteve na cova do leão e gostaria de voltar.

Gary Lineker, centroavante inglês.

 

Em futebol não adianta discutir com pessoas que já estão convencidas que sabem tudo – as pessoas são esquisitas, mas elas não gostam de admitir isso.

Ferenc Puskas, húngaro, jogador e técnico.

 

 

Em 1863 os ingleses resolveram organizar o futebol, que de uma forma ou outra já era praticado nos seus ricos colégios. Além de diferenciá-lo de outros esportes com os pés – e as mãos –, foi necessário naturalmente definir quantos jogadores teria cada time. As classes colegiais tinham dez alunos, e cada um dos riquinhos precisava jogar, mas havia também o bedel, o plebeu que lá num canto cuidava da disciplina da turma, e assim ficou resolvido: 11 em campo! Só que o bedel era uma criatura socialmente inferior, e nesse esporte de ricos ele foi obrigado a continuar lá no fundo, isto é, no gol. O esquema de jogo era o 10-1, os dez riquinhos atacando e batendo no infeliz solitário lá atrás. Já ouviu falar em “azar do goleiro”, né? Pois então …!  

Naqueles idos tempos a ideia de jogo era simples: todos os jogadores correndo em todas as direções, atrás da bola, pelo prazer maior de simplesmente dar um chute na cuja. Mas logo surgiram os clubes, e as suas torcidas, e quando o jogo ficou competitivo veio junto a necessidade de organização dentro de campo. Assim, depois do “todos brigando pela bola e todos contra o goleiro”, a coisa começou a se ajeitar. Durante as primeiras décadas todo mundo jogava no 2-3-5, ou 5-5, espelhado, cinco defendendo e cinco atacando, com dois zagueiros, três médios, cinco atacantes e vamos-que-vamos. Em bom inglês, a língua oficial do futebol, e com tradução adaptada, começando pelo goal-keeper, keeper (quíper, goleiro), no Brasil era assim:

 

DOIS BEQUES

right full back (zagueiro direito pleno)

left full back (zagueiro esquerdo pleno)

 

TRÊS HALFES

right half back (zagueiro médio direito)

center half back (zagueiro centro médio)

left half back (zagueiro médio esquerdo)

 

CINCO FORWARDS

right wing ou right outsider (asa direito, ponta ou externo direito)

right insider (adentro ou meia direito)

center forward (centroavante)

left insider (adentro ou meia esquerdo)

left wing ou left outsider (asa esquerdo, ponta ou externo esquerdo)

 

Tá bem, esquema de jogo é mais ou menos como uma casa onde todos brigam e a princípio todos têm razão mas no fim ninguém leva. O fato é que a primeira grande revolução tática do futebol só apareceu em 1928, também lá na Inglaterra, com o técnico Herbert Chapman, que atendeu um anúncio de jornal por um salário mensal então considerado exorbitante de 2 mil libras esterlinas, hoje algo como 8.500 reais, no Arsenal. Foi o WM, unindo as pontinhas das duas letras sobrepostas e formando um desenho de 3-2-2-3, ou 3-4-3.

 

 

WM: o inovador esquema 3-4-3 de Herbert Chapman

(sentado, à esquerda) no Arsenal de Londres em 1928

 

Na Copa do Mundo de 1950, Karl Rappan conseguiu fazer a Suíça empatar em 2×2 com a seleção brasileira no Pacaembu e as pessoas falaram em “retranca”. Obdúlio Varella, o capitão do Uruguai, disse depois que foi assim que seu time venceu o Brasil por 2×1 na final e ganhou o título – fechando-se na defesa, abrindo-se para atacar, “como uma concha, fechando e abrindo, abrindo e fechando…”, explicou. Um argentino que trabalhou na Itália, Helenio Herrera, aperfeiçoou e deu nome ao esquema nas décadas seguintes, “catenaccio”, cadeado, ou “ferrolho”. A novidade, com um “libero” e um “stoper” reforçando a defesa, pegou e migrou para outros países, onde ganhou nomes próprios nas novas línguas: “cerrojo” na Espanha, “riegel”  na Alemanha, “verrou” em francês, “padlock” em inglês… Tudo a mesma coisa: a velha e boa retranca – o time jogando aplicadamente na defesa e esperando na tocaia para pegar o adversário no contra-ataque.

Pois bem, um dia o mestre Rubens Minelli, campeão por Inter e Grêmio, contou de uma época em que estava no interior paulista, num clube cujo presidente – e dono – era um ricaço plantador de cana e usineiro. Havia um detalhe: o presidente tinha nomeado um filho como assessor de técnico. E certa segunda-feira, para se livrar do encosto, Minelli fez o rapaz viajar para observar o adversário do domingo seguinte, um time que levava poucos gols e fazia menos ainda – 0x0, 1×1, 1×0, 0x1, 1×2 … “Vai lá, olha tudo e só me volta no sábado à tarde com o mapa completo dos caras”, foi essa a missão.

 Dito e feito! Quando o “observador” voltou, deu a pista, “o time deles joga no 4-2-4”. Como assim, 4-2-4? Seriam quatro zagueiros, dois no meio do campo, e quatro atacantes. E como é que alguém com quatro atacantes quase não faz gols? Tem alguma coisa errada aí!

Começa o jogo, e lá está o adversário, o esquema escancarado logo no primeiro minuto: quatro zagueiros na pequena área, dois sobre a linha da pequena área  … e os outros quatro, os “atacantes”, defendendo dentro da grande área. “Viu?”, festejou o observador, tocando com força no ombro de Minelli, “direitinho como eu disse – é 4-2-4”!

 

Dinheiro sobrando

 

Nestes últimos dias, a janela de transferências de meio de ano do futebol internacional pirou. Contando apenas os jogadores transferidos – na maioria jovens mas nem tão famosos – acima de 20 milhões de euros, já são 20, totalizando 675 milhões, ou 2,5 bilhões de reais  – e isso ainda vai longe. Só uma comparação: o Novo Hamburgo foi campeão gaúcho com uma folha mensal de 170 mil reais, algo como 2 milhões por ano, e apenas com os 22 milhões de euros ou 82 milhões de reais da venda do mais baratinho, o turco-alemão Hakan Çalhangoclu, daria para o Noia viver 41 anos – sim, até 2058, mais de quatro décadas. Olha aí a listinha em milhões de  euros:

: Alexandre Lacazette, atacante francês, do Olympique Lyon ao Arsenal, 60 

Bernardo Silva, meia português, Mônaco/Manchester City, 50    

Vinícius Júnior, atacante brasileiro, Flamengo/Real Madrid, 45

Correntin Tolisso, meia francês, Oympique Lyon/Bayern Munique, 42   

Mohamed Salah, atacante egípcio, Roma/Liverpool, 42   

Éderson, goleiro brasileiro, Benfica/Manchester City, 40

André Silva, atacante português, Porto/Milan, 38

Victor Lindelöf, zagueiro sueco, Benfica/Manchester United, 35

Gonçalo Guedes, atacante português, Benfica/Paris Saint Germain, 30          

Jordan Pickfordd, goleiro inglês, Sunderland/Everton, 30             

Michael Keane, zagueiro inglês, Burnley/Everton, 30           

Sandro Castillo, atacante espanhol, Málaga/Everton, 30          

Theo Hernandes, lateral francês, Atlético Madrid/Real Madrid, 30           

Milan Skriniar, zagueiro eslovaco, Sampdoria/Internazionale, 30

Davy Klaassen, meia holandês, Ajax/Everton, 27

Youri Tielemans, meia belga, Anderlchet/Mônaco, 25

Odion Ighalo, atacante nigeriano, Watford/Changchan Yatai, 23

Nathan Aké, zagueiro holandês, Chelsea/Bournemouth, 23 

Leandro Paredes, meia argentino, Roma/Zenith, 23

Hakan Çalhangoclu, atacante turco-alemão, Bayer Leverkusen/Milan, 22

E aí vem os clubes europeus e querem levar os nossos craques a preço de banana!

 

Agenda histórica do futebol gaúcho na semana

 

9.7.2017, domingo

1911 – Pelotas joga em Pelotas com seleção do Uruguai e perde por 10×0

1978 – Grêmio goleia Flamengo por 5×2 no Olímpico

 

10.7.2017, segunda-feira

1949 – Estreia no futebol gaúcho o inglês “Mister” Cyril John Barrick, “o árbitro mais caro do mundo”, em São José 2×1 Inter, nos Eucaliptos

2004 – Fernandão sai da reserva, estreia no Inter, e aos 34 minutos do segundo tempo faz o gol 1.000 na história do Gre-Nal, 2×0 no Beira-Rio

2009 – Inter chega a 100.135 e é  sexto clube de futebol do mundo e maior da América em sócios

 

11.7.2017, terça-feira

1909 – Fundação do Rio Grandense de Rio Grande

1942 – Dupla Gre-Nal tem prêmios de loja para o clássico: gravata ao autor do primeiro gol, camisa ao autor do último, bilhete de loteria ao clube vencedor

1946 – Breno Blauth, filho de Augusto Oto Blauth, presidente do Grêmio, ganha concurso para o primeiro hino do clube, “Marcha de guerra” 

 

12.7.2017, quarta-feira

1966 – Alcindo, do Grêmio, é titular da seleção brasileira na Copa do Mundo na Inglaterra contra a Bulgária

2003 – Primeiro jogo gaúcho no campeonato brasileiro com arbitragem feminina, Inter 0x3 Fortaleza no Ceará: Sílvia Regina Oliveira, Ana Paula de Oliveira, Aline Lambert

 

13.7.2017, quinta-feira

1975 – Inter vence Grêmio por 2×1 e completa maior invencibilidade na história do Gre-Nal, 17 jogos (dez vitórias e sete empates), por três anos, oito meses e 27 dias

 

14.7.2017, sexta-feira

1902 – Fundação do 14 de Julho de Livramento, terceiro clube mais antigo do futebol brasileiro

1909 – Fundação do Militar Foot Ball Club, primeiro campeão de Porto Alegre, em  1910

1913 – Fundação do Cruzeiro de Porto Alegre

1935 – Inauguração do Estádio da Timbaúva, do Força e Luz (o maior de Porto Alegre na época), e do Eucaliptos, do Riograndense de Santa Maria

1993 – Grêmio campeão gaúcho em 1×1 com o Pelotas, na Boca do Lobo

 

15.7.2017, sábado

1956 – Excursão de exatos 100 dias do Brasil de Pelotas a nove países da América do Sul e Central, primeira vitória, 3×2 contra o Olímpia no Paraguai

1978 – Segunda maior goleada do Grêmio no campeonato brasileiro, 6×0 Noroeste de Bauru, Olímpico, gols de Iúra, André, Éder, Tarciso, Renato Sá e Vilson

 

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