Dia desses estava em um almoço de confraternização entre colegas de trabalho, em empresa onde presto assessoria de comunicação, quando uma das pessoas presentes tropeçou em uma garrafa que estava no chão. Por um desnível no piso, o vasilhame girou, apontando o gargalo para o colega sentado na poltrona em frente ao desastrado. Vimos a cena e, de imediato, lembramos da brincadeira “Verdade ou Consequência”, aquele jogo da adolescência.
Começamos a falar naquela fase de nossas vidas em que a brincadeira incluía perguntas até bem constrangedoras. Mas a diversão era “pagar um mico” ao escolher Consequência. Rimos, mas ninguém se atreveu a propor uma rodada sequer. As reminiscências foram interrompidas com o aviso de que o almoço estava pronto.
Ao voltar para casa, lembrei-me do ocorrido e fiquei a pensar porque agora que somos adultos temos receio de retomar a brincadeira. Se tivéssemos entrado no jogo e o bico da garrafa apontasse para mim, que perguntas seriam feitas e respondidas com a verdade? Todas. Talvez nem todas. Não gostaria de abordar questões muito íntimas, muito pessoais. Acho que é assim com todo mundo. E depois, o que é a verdade?
A única verdade absoluta, a que ninguém pode negar, é que a espécie humana precisa de ar para respirar. Pois até a morte já estão pensando em enganar. Assim, todas as outras verdades podem ser relativas. Ou não?
Os meios de comunicação nos mostram, diariamente, que esta palavra tão importante tem perdido sua importância. No meio político, então, está tão difícil de encontrar! Ou sempre esteve escondida, e a gente é que não se ligava, ou se ligava e não dava importância. Tem tanta gente acusada disso e daquilo declarando que “a verdade prevalecerá” que não sei mais quem sofrerá as consequências – se acusados ou acusadores.
Na brincadeira de que me lembro, escolher consequência significava pagar uma prenda fazendo uma pose ridícula ou uma dancinha esdrúxula. Valia pela diversão. Hoje, não dá para jogar Verdade ou Consequência na Política e na Economia. Mentiras, nestas áreas, podem matar. E matam. Matam os pobres, porque os ricos e os remediados se defendem.
A prenda da Consequência para quem não quer falar a verdade em Política e em Economia precisa ser bem mais grave do que pose ridícula ou dancinha esdrúxula. E quem optar pela Verdade, mas for pego na mentira, não deve pagar prenda, deve pegar cadeia. Cadeia sem acomodações diferenciadas nos presídios, sem tornozeleiras levemente desconfortáveis usadas na privacidade da mansão que foi adquirida com o dinheiro que é teu, é meu, é da sociedade.