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4 perguntas para explicar a demora nas emergências

Laone Pinedo, secretário da Saúde, atendeu o Seguinte: nesta terça pela manhã | Foto: Rodrigo Becker

UPA, 24h, HDJB… volta e meia, estão lotados – e o atendimento demora. Porque acontece? A secretaria da Saúde explica

 

É difícil explicar para um pai que espera até 3h por um atendimento médico as razões da demora na Saúde Pública brasileira. Em Gravataí não é diferente. Reclamações pipocam: no Pronto Atendimento 24h, no Hospital do João Becker e, agora, na UPA.

Mas por quê?

As razões para demora são muitas – mas não faltam médicos, como muitos supõe.

– Nossa cobertura, hoje, é para uma cidade de 400 mil habitantes. Temos pouco mais de 260 mil – explica o coordenador da Rede de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal da Saúde, o Leonardo Machado.

Ele e o secretário da Saúde, Laone Pinedo, conversaram na manhã desta terça-feira com o Seguinte:. A seguir, em numeradas, como eles explicam as demoras – e porque é preciso uma grande mudança cultural da população para que investimentos nessa área sejam percebidos como avanços.

 

1

Tem poucos médicos no 24h? Poucos pediatras?

– Na verdade, não – afirma Laone.

– Gravataí tem uma rede de atendimento em Urgência e Emergência. Nossa capacidade é para 205 mil atendimentos clínicos por ano e quase 80 mil em pediatria – explica.

Com um relatório em mãos, o secretário mostra a interligação entre os serviços do Pronto Atendimento 24h, do Hospital e da UPA com o SAMU, a rede de atenção básica e os serviços especializados.  Somando todos os plantões do 24h, da UPA e do hospital, são 7 clínicos e 3 pediatras por dia.

– Temos capacidade para 572 atendimentos em urgência e emergência adulta por dia e mais 220 em pediatria – resume.

– 24h por dia, 7 dias por semana.

 

2

Se tem médicos, porque demora?

– Um pouco da demora se explica porque 89% dos atendimentos da nossa rede de urgência e emergência, na verdade, não são atendimentos de urgência nem emergência – explica Leonardo.

Gravataí adota o protocolo de Manchester para classificação de risco. O protocolo prioriza o atendimento dos casos mais graves identificando tecnicamente os pacientes e seus sintomas por cores. O vermelho é o que requer atenção imediata. Depois, o amarelo, o verde e finalmente o azul, para casos em que não há qualquer risco de vida ao paciente.

– Os casos classificados como verde e azul deveriam ser atendidos nas unidades de saúde, não na rede de urgência – diz Leonardo.

Sem eles, a fila de espera no hospital, na UPA e no 24h cairia de 10 para 1.

– Cerca de 2% a 3% são urgências em que o paciente corre risco de vida. Outros 8%, 9% dos atendimentos feitos requerem intervenção imediata, mesmo com risco menor.

A orientação do Ministério da Saúde é para que os pacientes identificados com a cor vermelha devem ter atendimento imediato. Os amarelos, em até 30 minutos. Os verdes, em até 2 horas. E os azuis em até 4 horas.

– Como a maioria dos casos é verde e azul, mais gente está entre os que esperam mais.

 

3

Essa classificação de risco não atrasa o atendimento?

– Na verdade, melhora. Organiza a demanda – diz Laone Pinedo, secretário de Saúde de Gravataí.

– Se fosse por ordem de chegada, os casos mais graves não teriam prioridade.

Funciona assim: o paciente chega e diz para um enfermeiro o que está sentindo. De acordo com a queixa, há um procedimento de verificação, medição de pressão, saturação de oxigênio, temperatura. Tudo vai anotado no prontuário e, depois de receber a classificação, o paciente já tem uma ideia de quanto tempo vai levar para ser atendido.

– O protocolo não é casual. Seus critérios são técnicos e científicos, recomendados pelo Ministério da Saúde – conta Leonardo.

– Nosso problema hoje não é classificação de risco, mas uma percepção das pessoas de que o 24h, a UPA e o hospital são para consultas. Não são. Eles existem para cuidar das emergências – lembra Laone.

E como todos que entram pela porta do SUS tem o direito de serem atendidos, sobrecarregam o sistema.

– Sobrecarregado, aumenta a demora.

Some-se a isso o contingente de pessoas que deixaram de ter plano de saúde por conta do desemprego ou da crise e se percebe que uma estratégia para diminuir a lotação nas emergências é necessária.

 

4

E qual a saída?

A primeira saída é reforçar a atenção básica – e orientar as pessoas a procurar primeiro a unidade de saúde antes de ir, sempre, aos serviços de urgência.

– Temos dois postos que atendem em horário estendido até às 22h. Hoje, ainda sobram consultas. Para quem trabalha e só pode procurar o serviço de saúde à noite, é uma alternativa – revela Laone.

Os postos são o da Morada do Vale e o São Judas Tadeu, que fica no Parque Florido.

– E a pessoa não precisa ser moradora do bairro. Se for de Morungava, por exemplo, vai ser atendida na Morada do Vale sem problemas.

A estratégia de Saúde da Família, que já atinge 55% da população, é outra saída.

– Nesses locais, o médico da família orienta sobre os casos em que o posto deve ser procurado antes do serviço de urgência – diz Laone.

Nas regiões atendidas pela Estratégia de Saúde da Família, agentes comunitários de saúde visitam as casas, orientando também sobre que serviço procurar em cada caso. Eles acompanham o tratamento de idosos, verificam o encaminhamento de reconsultas, exames, medicações e a renovação de receitas. Ajudam a evitar a cultura do “corre para emergência” quando o caso é para consulta e não para uma intervenção imediata.

Já para os lugares em que não há Saúde da Família e as orientações são dadas somente no próprio posto de saúde, a gestão da secretaria pensa em uma campanha de esclarecimento.

– Semana passada, na reunião do Comitê Condutor da Rede de Urgência e Emergência de Gravataí, avaliamos a ideia de uma campanha que reforce quando é o caso de procurar a emergência e quando não é necessário – adianta Leonardo.

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