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Seu Jorge e o adeus de uma unanimidade

Servidor público lotado há 25 no Heitor Villa-Lobos, Jorge morreu no dia 6 fazendo uma comunidade inteira chorar a sua perda

 

Nem toda a unanimidade é uma tolice.

Tem pessoas que representam tanto para uma comunidade e para o meio onde vivem, que atingem um nível de respeito mais elevado e se tornam símbolos, exemplos.

Jorge Pereira da Silva, aos 60 anos, havia se tornado uma pessoa assim, uma unanimidade do bem.

No dia 10 de maio, depois de um diagnóstico de pneumonia, ele foi internado na Santa Casa, em Porto Alegre – e de lá não voltou. Entrou em coma no domingo à noite e faleceu na terça-feira da semana passada, dia 6, vítima de um câncer que nunca soube que existia.

– Os médicos nos disseram que havia muito pouca chance. Resolvemos não contar para que ele não desistisse, não desanimasse – resume Gilberto Silva, o irmão que vem atendendo aos amigos e colegas de Jorge em nome da família.

O homem que tem o nome ligado a tudo que é a escola Heitor Villa-Lobos nos últimos anos, no fim da vida, fez uma comunidade inteira chorar.

– Havia muita gente no velório e no enterro. Colegas dele, professores, alunos. Foi emocionante e nos deixou cheios de orgulho que as pessoas o vissem assim, como um homem de bem e de grande coração – diz Gilberto.

 

Era Jorge da Silva, mas pode chamar de Jorge do Heitor

 

Jorge era auxiliar de serviços gerais do Estado e, depois de alguns dias trabalhando no Parque dos Anjos, na escola Carlos Bina, foi transferido para o Heitor Villa-Lobos – onde esteve nos últimos 25 anos.

– Se ele pudesse concorrer à direção, ganhava – conta a professora Rosane Melo, esta sim, diretora do Heitor.

Trabalhou com Jorge por 23 anos.

– Esse era o tamanho do respeito e da liderança que ele tinha aqui dentro entre os funcionários, os alunos, com os professores e com todas as direções que passaram pela escola.

E não é só uma força de expressão: todas as direções tiveram Jorge como aliado.

– Ele cuidava de toda a merenda. Passava as necessidades para o financeiro, que fazia as compras. Cuidava para economizar, sabia o que estava faltando – completa Rosane.

– Ele sempre foi muito correto nisso.

 

Amizades que ficam

 

Jorge não era estrela de cinema, mas teve sua celebridade entre pais, alunos, professores e funcionários da Heitor Villa-Lobos no último quarto de século de sua vida. Fez amigos por lá.

A professora Tânia Zinelli, por exemplo.

– Ela tem nos ajudado muito, providenciou o encaminhamento das coisas junto ao IPE – conta um agradecido Gilberto, o irmão mais novo de Jorge.

Foi Tânia que, como uma última homenagem ao amigo, organizou uma arrecadação de fundos para cobrir as despesas com o velório e sepultamento. Para ela, Jorge merecia até mais.

– Ele era uma pessoa fantástica, prestativo, atencioso, amigo de todos. Vai fazer muita falta na escola – resume Tânia, que há mais de 20 anos dividia os mesmos corredores com o homem que sempre pode chamar de amigo.

 

Família não ficará mais na 74

 

Se por tantos anos foi Jorge quem cuidou da família, agora, sem ele, a tarefa recai sobre a responsabilidade do caçula dos Silva, Gilberto, de 47 anos. É com ele que a mãe, Santa, de 78, e o irmão do meio, Júlio, de 55, vão morar.

Lá na 103.

– Eles não podem ficar sozinhos. Já estão comigo nesses dias em que perdemos o Jorge e agora vamos ajeitar as coisas para eles ficarem por aqui.

Júlio teve um AVC ainda jovem e, desde então, sua mobilidade é sobre uma cadeira de rodas. Jorge se dedicou a ele e a mãe desde sempre. A mesma referência que tinha entre colegas no Heitor, tinha em casa com a família.

– Ele era nossa referência, sempre foi. Ainda não sabemos como vai ser a vida sem ele por aqui – diz Gilberto.

 

Homenagem está nos planos

 

Na terça-feira, antes da missa de 7º dia encomendada para Jorge na igreja da parada 72, na escola já surgia uma possibilidade de homenagem ao funcionário que virou símbolo de uma comunidade toda.

– A gente está pensando em dar o nome dele ao ginásio que temos que construir aqui na Heitor – adianta Rosane Melo, a diretora.

Se der certo, Jorge vai estar onde sempre quis: de olho na escola que chamou de lar por 25 anos.

 

 

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