a arte que toca

As respostas que sopram no vento

O cantor americano Bob Dylan publicou, recentemente, sua reflexão sobre o Prêmio Nobel de Literatura que lhe foi concedido no ano de 2016.

Foi uma longa novela, iniciada com o anúncio do vencedor do Nobel, passando pelas inúmeras manifestações críticas e de apoio ao nome indicado,pelo silêncio do músico, pela ausência à cerimônia de premiação, chegando, finalmente, à aceitação do prêmio e à manifestação pública.

A pergunta fundamental que incitou todo o debate é: pode um músico ganhar um prêmio de literatura?

Há os que concordem, salientando a íntima relação entre música, poesia, canção popular, etc. E há os que discordem veementemente, apontando que são áreas artísticas distintas.

De minha parte, preciso dizer que música, poesia, pintura são diferentes linguagens. Contudo, guardadas as proporções, a música e a poesia têm um íntimo relacionamento. Podemos falar na propriedade musical do ritmo para analisar um poema, da mesma forma que podemos encontrar a figura de linguagem da metáfora numa música.

É claro que a música é para ser ouvida, e o poema, para ser lido. O próprio compositor Bob Dylan admitiu ter refletido muito a respeito do assunto e citou o exemplo do teatro:

 

“músicas são diferentes da literatura. Elas são para ser cantadas, não lidas. As palavras das peças de Shakespeare eram para ser apresentadas no palco. Assim como as letras em canções são feitas para serem cantadas, e não lidas no palco.” (em matéria veiculada no Portal G1)

 

De todo modo, ainda que as peças de Shakespeare tenham sido feitas para serem apresentadas no palco, o texto dramático é considerado literatura e estudado na academia. E por que não trazer, nessa linha, o texto das composições musicais? Obviamente, nem todas as músicas teriam esse alcance, mas há letras de canções que são perfeitos poemas. Bob Dylan  é um dos que conseguiu esse feito.

 

“Sim e quantas vezes um homem deve olhar pra cima

Antes de conseguir ver o céu?

Sim e quantos ouvidos um homem deve ter

Pra poder conseguir ouvir as pessoas chorarem?

Sim e quantas mortes serão necessárias até ele saber

Que pessoas demais morreram?

A resposta, meu amigo, está soprando no vento

A resposta está soprando no vento”

(Blowin’ In The Wind, Bob Dylan)

 

A despeito de toda crítica ou de todo apoio, o que a indicação de Dylan ao Nobel de Literatura conseguiu trazer foi a reflexão sobre a arte como um limiar, no qual diferentes linguagens podem se tocar e nos tocar. Ao fim e ao cabo, é isso o que realmente importa: seja pela música, pela literatura, pela pintura, pelo cinema, que a arte exista para nos aproximar, para nos comover e para que encontremos as respostas que sopram no vento.

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