Levei muito tempo para entender que algumas manias minhas poderiam ser classificadas como sintomas de Transtorno Obsessivo Compulsivo.
Filha de pai e mãe virginianos, acho que não tinha, mesmo, muita escapatória… Para que tenham uma ideia das minhas influências nesta área, conto-lhes uma pequena história de Dona Dadaia.
Um dia, ela voltou de uma consulta a um advogado e me contou: “Tudo ia muito bem até o momento em que tocou o telefone, que estava sobre um balcão, atrás de sua mesa. Ele me pediu licença, virou-se de costas para atendê-lo e ficou assim por vários minutos. Quando girou a cadeira de volta, tinha uma expressão que não consegui entender de imediato. Daí, me dei conta de que, naquele meio tempo, eu tinha tirado um lencinho Yes da minha bolsa, limpado o pó da sua mesa e empilhado todos os papéis que estavam espalhados sobre ela”.
Não chego a tanto. O máximo que faço, fora dos meus domínios (da minha porta para dentro, me dou todos os direitos possíveis) é endireitar o capacho da minha vizinha de apartamento e colocar juntos e retinhos os sapatos que costuma deixar por ali “à moda oriental”.
Tenho lido um pouco sobre este assunto e concluí que meu caso não é dos mais graves. Segundo o Dr. Dráuzio Varella, encaixa-se na classificação de TOC por ordem e simetria e é do tipo subclínico, ou seja, não requer tratamento.
Mas, cá entre nós, conto-lhes que fico me segurando, na casa dos outros, para não colocar todos os cabides virados para o mesmo lado, os frascos de remédios e latas de alimentos com o rótulo pra frente, os livros retinhos nas estantes…
Sendo filha de Dona Dadaia, seria natural que eu tivesse, também, o TOC por mania de limpeza, mas superei minhas obsessões, nessa área, nos 17 anos que vivi no Equador, em uma época em que o país era bem mais sujinho do que agora. Se fosse manter, por lá, naqueles tempos, o padrão Dadaia de ordem e limpeza, não teria sobrevivido.
Nunca tive e não corro o risco de vir a ter o TOC por acúmulo de objetos, pois não vejo graça nenhuma em comprar coisas de que não necessito, como faz muita gente que conheço, e estou sempre passando adiante o que não uso ou não me parece essencial.
O TOC por medo de contaminação também não é a minha praia, se bem que um dos presentes que mais curti, nesses últimos tempos, foi uma canetinha com álcool gel, para carregar na bolsa, que ganhei da minha amiga Tuca.
Sendo agnóstica desde criancinha, cética por dever de ofício e descrente de tudo o que carece de comprovação científica, também estou certa de que não tenho o TOC por comportamento de superstição, que leva algumas pessoas a fazerem coisas bizarras.
Roberto Carlos, por exemplo, sempre sai de um lugar pela mesma porta pela qual entrou: só veste azul e branco nos seus shows; evita o número 13 e as cores marrom, roxa e preta; não fecha contratos na lua minguante; não estreia músicas em agosto; e não pronuncia palavras negativas como azar e mal.
Finalmente, conto-lhes que tenho, mas não o considero um transtorno, e sim um mecanismo de proteção, o TOC de verificação. Não fico checando, repetidamente, se a porta da casa está chaveada; o gás, desligado; e as janelas, fechadas.
Mas vira e mexe volto a entrar, depois de ter fechado a porta, porque o instinto me diz que algo não está ok. E, assim, já encontrei panelas no fogo, torneiras correndo, ferro elétrico ligado e, ao me olhar no espelho do quarto, de passagem, me dei conta várias vezes de que estava com a blusa do lado do avesso ou mal abotoada.
Normal, né?