Estamos integrados na campanha nacional que abre espaços de opinião para mulheres travarem a luta feminista na mídia, o Agora É Que São Elas!
O Seguinte: e o Diário de Viamão, veículos do Grupo CG de Comunicação, se integraram nesta segunda-feira ao Agora É Que São Elas!, a convite de Manuela d´Ávila (PCdoB). Num evento para mulheres e homens, que reuniu poderosas e poderosos das mais variadas áreas no Memorial da Assembleia Legislativa, a deputada que é a procuradora especial da mulher do parlamento gaúcho apresentou o projeto que busca ecoar a luta feministas nas páginas de jornais, bits de sites, blogs e redes sociais.
– É um símbolo esse ato no lugar onde primeiro funcionou a Assembleia. Queremos sair da invisibilidade e contar às meninas e meninos que existimos – resumiu a ‘estrangeira’ mais votada em Gravataí, com 6.811 confirmas nas urnas em 2014, antes de apresentar Manoela Miklos, idealizadora da campanha onde mulheres ocupam o lugar de colunistas de destaque nas mídias nacionais, estadual e locais.
A doutora em Relações Internacionais lembrou o início do Agora É Que São Elas! na ‘guerrilha’ de ruas e redes sociais travada em 2015 contra o PL 5069, um retrocesso patrocinado no Congresso pela bancada religiosa que complica e limita o atendimento às vítimas de violência sexual e tenta dificultar ainda mais casos em que o aborto é legal no Brasil.
– Como hoje se busca, mais que a informação, saber o que o Gregório Duvivier, o que o Reinado Azevedo pensam, enviei e-mails a jornalistas de todo país pedindo espaço para meninas nas colunas de opinião – explicou, contando que assim que recebeu a mensagem, Juca Kfouri respondeu, no intervalo de um jogo decisivo para o título do Corinthians no Brasileirão daquele ano.
– Manda tua idéia, ele disse. Comecei a trocar mensagens com companheiras feministas pois tínhamos 45 minutos para sugerir algo. Antes do fim do jogo, ele enviou um texto perguntando se era aquilo que queríamos. Ao comentar com a filha Camila sobre o projeto, ela tinha feito na hora um texto contando sobre o primeiro assédio que sofreu, e nunca tinha revelado nem a ele, que você lê clicando aqui.
De lá para cá, a ‘ocupação’ dos espaços de mídia é feita em diferentes oportunidades em diferentes plataformas e a Folha de S. Paulo passou a hospedar um blog do projeto em seu site, que você acessa clicando aqui.
Aderindo ao projeto, o Seguinte: abrirá espaço sempre que houver interesse para mulheres escrevam nos espaços de opinião do site. As meninas podem fazer contato com a gente pelo redacao@seguinte.inf.br ou com o editor Rafael Martinelli no fone/WhatsApp 996475170.
Machistas, sim
Manuela d´Ávila trouxe também o presidente do Instituto de Pesquisas Locomotiva, Renato Meirelles, responsável por pesquisas do DataPopular e do DataFavela. Os números apresentados pelo colunista das revistas Brasileiros e Exame confirmam o machismo que permeia classes sociais de Norte a Sul.
– Mas é aquela coisa: “machistas são os outros” – ironizou, um mostrar que apenas 14% dos brasileiros se consideram machistas, mas 93% avaliam a sociedade como machista.
– Aqui no Sul menos homens se dizem machistas – experimentou revelar, recebendo como resposta risos de descrença das mulheres que instantaneamente se mexeram nas cadeiras do Memorial.
As pesquisas mostram que a cada R$ 100 que ganha um homem, uma mulher, mesmo estudando mais, recebe R$ 74. Entre as mulheres negras a média cai a R$ 44. Uma igualdade nos salários injetaria R$ 461 bilhões na economia nacional.
– Curioso é que em todas as pesquisas sobre qualidades mais exigidas para gestores, as mulheres estão na frente dos homens. Mas a realidade não traduz isso – observou, apresentando uma compilação de índices sobre capacidade de suportar pressão, relacionamento interpessoal, competitividade e outros tradicionais rankings para chegar a cargos de chefia.
Renato tirou risos, agora de confirmação, ao apresentar pesquisas sobre a percepção dos homens na divisão das tarefas do lar.
– Levar o lixo, é o que os homens mais fazem. Eles “ajudam”, nunca “dividem”. Afinal, a mulher ‘nasce sabendo’ cuidar do lar – criticou, mostrando que em oito a cada dez casais é a mulher a responsável pelas tarefas mais desgastantes do lar, como limpar a casa, lavar roupa, cozinhar e cuidar dos filhos.
– O presidente aqui é uma raridade – brincou com Edgar Pretto (PT), presidente da AL, que avisou que teria que sair mais cedo para buscar o filho na escola.
O publicitário que hoje bomba nas causas sociais, e você conhece mais clicando aqui, provocou silêncios ao desvelar dados sobre assédio sexual, moral e preconceitos às mulheres no ambiente de trabalho.
– O humor é muito usado para cometer o crime perfeito. Se fofoca que a mulher ‘deu’ para ascender de cargo, se ‘brinca’ que está com TPM, e quando há uma reação, a vítima é culpada por interpretar errado – alertou, finalizando com uma constatação positiva:
– 71% não se sentem representadas pelo estereótipo de tantas propagandas que mostram a mulher que ‘se vira’ trabalhando, cuidando do lar e permanecendo linda para o marido. A reação é: “não quero ser essa escrava aí do comercial”.
'Feministo'
Sabendo que um homem ocupar o papel de especialista no evento – e falar mais do que as mulheres, praticamente ilustrando com sua presença os dados das pesquias – incomoda principalmente as rads, feministas mais radicais que consideram uma apropriação da luta pelo que ironizam como ‘feministos’, Manuela d´Ávila explicou que defende uma integração dos meninos à causa.
– Sem chegar aos homens não conseguiremos desconstruir práticas machistas muitas vezes internalizadas em nós mulheres pela sociedade patriarcal.
E o evento, que teve a apresentação de outros cinco projetos da Procuradoria da Mulher, encerrou pontualmente às 18h30.
– A presidente do Chile Michelle Bachelet instituiu que nenhuma reunião pública termine depois desse horário, para não excluir as mulheres e suas duplas jornadas – explicou Manuela, ao fim do evento que você pode assistir clicando aqui.
OS PROJETOS
A partir de uma proposta maior, denominada Procuradoria Especial da Mulher na Estrada, serão realizadas ações junto às comunidades do interior, com o objetivo de trabalhar e debater temas que digam respeito às mulheres. Confira os projetos relacionados.
1.
O Projeto Institucional da Procuradoria da Mulher tem o propósito de fomentar a criação de procuradorias da mulher nas Câmaras de Vereadores do Rio Grande do Sul e instituir a Ouvidoria da Mulher na Assembleia Legislativa.
2.
O Seminário Educação Sem Machismo tem como finalidade capacitar educadores e professores para que abordem o tema da desigualdade de gênero a partir de ferramentas que promovam a igualdade no ambiente de ensino. Segundo anunciou Manuela d’Ávila, alguns municípios já são parceiros destas iniciativas e outros podem se agregar por meio de contato com a Procuradoria.
3.
Já o projeto #Agoraéquesãoelas é voltado para os veículos de comunicação. A intenção é comprometer jornais, rádios, televisões e canais na Internet, a abrir espaços, com a regularidade de uma vez por mês, para que mulheres ocupem o lugar de homens colunistas e articulistas de áreas como política e esporte para tratar de questões de gênero.
4.
Por meio do projeto A História das Mulheres no Parlamento, a Procuradoria pretende reconstruir a trajetória de participação feminina na política a partir do resgate da memória das 35 deputadas que integram ou já integraram o Legislativo gaúcho.
5.
Já o Cidade Amiga das Mulheres é um projeto-piloto, “inovador”, de acordo com a deputada, cujos objetivos são sensibilizar e qualificar estabelecimentos de serviços, turismo e comércio para um atendimento acolhedor sem machismo e preconceito. A experiência iniciará pela Capital e já conta com parceiros como a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Associação Brasileira de Empresas de Eventos (ABEOC) e Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre.