: Fernanda, Sônia, Tuca e Carla no Aeroporto de Barajas, em Madri.
Sexta-feira passada, comecei uma viagem sonhada há décadas. Ocorre que meus filhos se criaram ouvindo eu me despedir, por telefone, da Tuca, uma amiga paraibana que mora no Equador, dizendo: “Tchau, Tuquita! Nos vemos no ano que vem em Praga!” Isto era uma espécie de brincadeira, pois, na minha cabeça, a viagem à Praga, sonhada desde os idos dos 70, em função de livros e filmes que têm a cidade como cenário, já havia ficado para a próxima encarnação.
Mas eis que, há alguns meses, minhas filhas, que vivem em Quito, anunciaram que estavam comprando as passagens áreas, para que fôssemos comemorar seu aniversário em Praga, em maio, e que a Tuca iria conosco.
Refeita do impacto inicial, recebi o primeiro de uma série de e-mails da Nanda, que é a organização em pessoa, com nosso roteiro: chegaríamos por Madri e depois iriamos a Viena (que conheci em uma viagem anterior) e às outras três capitais imperiais da Europa Central: Praga, Bratislava e Budapeste, nas quais jamais pisei.
Assim que, com todas as providências tomadas pelas “meninas”, cheguei ao aeroporto de Porto Alegre, sexta, às 9 em ponto, e, pouco depois, estava instalada em um avião da Latam mais barulhento do que um caminhão FNM, mas que me deixou em São Paulo sem maiores problemas. Ali eu esperaria quase três horas pela conexão, e, no sábado, mais oito, no aeroporto de Madri, pelo resto da tropa.
No Salgado Filho, havia comprado a autobiografia da Rita Lee, que devorei antes de chegar a Madri. Fiquei pensando se algum dia teria coragem de escrever sobre os altos de baixos da minha vida de forma tão corajosa, e não precisei de mais de dois segundos para responder: “Não! Certamente não!”
O voo da Iberia que me trouxe à Espanha, em um avião imenso (não me perguntem qual, porque não sei identificar nem as marcas e modelos mais conhecidos de carros), me fez lembrar dos bons tempos em que a Varig era considerada uma das melhores companhias aéreas do mundo. Que serviço!
Para o tempo que ficaria no aeroporto de Barajas, havia pego um exemplar do El País, escolhido entre vários títulos de jornais espanhóis oferecidos a bordo, e comprei, ao chegar, um do Daily Mirror, de Londres, cheio de fofocas sobre celebridades e de notícias a respeito de crimes, a maioria deles relacionados com contatos iniciados a partir da Internet, que veio para facilitar nossa vida, mas que também tem servido para embananar a de muita gente.
De reserva, tinha mais dois livros na mochila, além do Kindle que minha amiga Beth, que não vejo há mais de 20 anos, enviou-me de presente de Los Angeles, onde vive. Mas mal consegui terminar o primeiro jornal, pois me fascina ficar observando a enormidade de tipos humanos que circulam pelos grandes aeroportos.
Uma diferença marcante entre os aeroportos brasileiros e o de Madri é o serviço de locução. Enquanto os nossos prestam informações ininterruptamente, aquí a coisa é mais ou menos assim: “Senhores passageiros, fiquem ligados nos painéis, pois pode haver alterações nos voos, e não as informamos por aquí.” Também senti falta de algumas outras comodidades a que estamos acostumados, como poltronas em abundância e tomadas para conectar aparelhos eletrônicos. A única alternativa é se instalar nos cafés, todos caríssimos, como, aliás, são os cafés de todos os aeroportos do mundo.
Elas chegaram!
Foi lindo rever as Pitucas e a minha amiga querida e, depois dos cacarejos iniciais, pegamos um táxi (o que saiu pelo mesmo preço do ônibus, porque éramos quatro pessoas) e rumamos para o Chalet Barajas, um “hostal” familiar baratinho, ultra confortável e com uso da cozinha liberado, localizado em um bairro residencial lindo, mas no qual não vês uma pessoa na rua.
Mas gente é o que não falta em Madri, e a impressão que se tem é que está todo mundo no Centro, caminhando devagarinho pelas ruas, ou nos cafés, cantinas e “tascas”, nas quais se encontram vinhos bons e baratos e uma infinidade de frutos do mar e outras delícias, tudo regado a azeite de oliva. Eu adoro a forma expansiva com que os espanhóis se comunicam e vou lhes contar: parece que, por aqui, ninguém está preocupado com os tipos de problemas de segurança que nos aterrorizam no Brasil.
Devo confessar que estava precisando de umas férias da terrinha…