A fórmula para escolha do novo secretariado de Gravataí viaja diariamente numa caminhonete SsangYong preta da rua Osório Ramos Correa, no Oriçó, até a Antonina José Linck, no São Vicente.
E resta guardada na cabeça do prefeito reeleito Marco Alba, nesse trajeto de sua casa até a sede do PMDB.
O mistério é total, já fazendo com que as principais lideranças dos partidos da coligação deixem o celular chamar até cair nas tantas ligações de apoiadores que, depois de sete meses de campanha, querem saber se terão espaço no novo governo.
O Seguinte: ouviu em off mais de uma dezenas de políticos dos 15 partidos da base do governo. Ninguém arrisca nomes além de Luiz Zaffalon, ‘gerentão’ do governo, Davi Severgnini, o ‘guardião do cofre’, Jean Torman, a ligação com o judiciário e Tanrac Saldanha, o interlocutor com as igrejas evangélicas.
Até Sônia Oliveira é riscada do primeiro escalão nas apostas da base. Há duas décadas a pessoa de maior confiança de Marco, a ex-secretária da Educação já é colocada na coluna dos que serão sacrificados pelo projeto.
É que a engenharia não deve ser tão pragmática quanto em 2012, quando o prefeito montou um secretariado com perfil mais técnico e depois pegou os votos nas nominatas dos candidatos a vereador, eleitos ou não, e dividiu proporcionalmente entre os partidos os mais de 300 CCs da Prefeitura, fundações e autarquias.
Agora, como Marco vai tomar como base os votos dos candidatos a vereador em 2016, se tivemos uma eleição suplementar, com diferente resultado, em 2017?
Só para ficar num exemplo. Na ‘eleição que não terminou’ em 2 de outubro, o PSDB do ex-vice-prefeito Francisco Pinho, junto ao PEN e PTN, partidos satélites, fez 14 mil votos. Mas pela coligação de Anabel Lorenzi (PSB), de quem inclusive indicava Beto Pereira como vice. Já no ‘veraneio das urnas’ de 12 de março, o PSDB estava coligado com Marco e teve um vereador seu, Áureo Tedesco, eleito como vice.
Para instigar ainda mais a cabeça de Marco, que pensa política 24 horas, sete dias por semana, dois vereadores da oposição podem – e querem – entrar na base. O governo já tem 12 votos entre os 21 da Câmara, mas outros dois garantiriam o quórum qualificado necessário a algumas votações, permitiriam uma votação tranquila das contas dos quatro primeiros anos de gestão que logo chegam ao legislativo, impediria a abertura de CPIs e, num daqueles símbolos da política, daria um golpe numa oposição que se ensaia forte após uma eleição onde o eleito fez menos votos que os adversários somados.
O prefeito reeleito ainda precisa achar lugar para dissidentes de outras candidaturas, e suas eventuais indicações, como Dr. Levi, Alberto Rebelato e Zete Blehm, para ficar em apenas três nomes.
Até agora não houve nenhuma reunião com partidos. Individuais, Marco jamais faz. O único encontro, há nove dias, foi uma confraternização com os vereadores em um rápido almoço no Hotel Radar, onde mais agradeceu pelo passado e o presente do que revelou os planos para o futuro.
A expectativa entre os políticos é que até o fim de semana o prefeito se abra um pouco mais. Ninguém quer chegar às vésperas da posse, na sexta-feira da próxima semana, ainda apagando inevitáveis incêndios internos entre os barrados no baile.
Muito se fala que Marco vai reduzir o número de secretarias, hoje 23, o que estreitaria ainda mais os espaços.
Conceitualmente, na campanha e na primeira entrevista que concedeu após a eleição (e foi para o Seguinte:), Marco revelou o dilema: quer fazer um governo com um secretariado mais político, com mais traquejo para levar informações do governo às comunidades e aos formadores de opinião, mas sem perder o escudo de um corpo técnico qualificado.
Afinal, cresceu a votação de outubro a março, e foi reeleito assim.
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