Enfrentei dias escaldantes e noites quentes na última semana de fevereiro. Eu e a maioria dos que vivem nesta terra. É um tipo de clima que me força a exercitar a paciência e a tolerância. O calor não se restringiu a Porto Alegre e municípios vizinhos. Pensei que fugiria dele no Litoral Norte e foi para cá (estou em Imbé) que eu vim.
O caminho até a praia foi demorado. Começava ali o exercício de paciência. Vencida essa etapa era hora de chegar na casa, arrumar as coisas e partir para a maratona de filas no supermercado – na padaria, no açougue, na pesagem das frutas e legumes e, por fim, no caixa. Esperando a minha vez, fiquei pensando se valia a pena todo esse esforço.
A gente trabalha toda a semana correndo de um lado para o outro em busca do pão nosso de cada dia. Aí arruma uma folguinha e parte rumo a um arremedo de férias e fica horas de um lado para outro. Será que valeria a pena? Me dei conta que sim. Na verdade estava reclamando, como diz o ditado popular "de barriga cheia". Que luxo poder estar na fila do caixa para pagar as compras em um supermercado na praia.
Dali a poucas horas iria encontrar com amigos. Percebi que toda a maratona seria compensada pela alegria de conviver, ainda que por algumas horas, com pessoas que me fazem bem, mas que por diferentes motivos não vejo com a frequência desejada. É nessa época do ano que conseguimos nos rever, colocar os assuntos em dia, saber das novidades, relembrar de momentos únicos, enfim, tempo de rir solto, jogar cartas até de madrugada, tempo de aproveitar, mesmo com todo o calor!
Só o que me chateia – e muito! – é que tudo isto que posso fazer e estou fazendo é um sonho para muita gente mais. Gente como os funcionários públicos do RS que estão recebendo parcelado o salário a que têm direito. Gente como os demitidos recentes e os desempregados há muito batendo perna em busca de trabalho. Gente que…
Preciso por um ponto final neste texto. Já estou me deprimindo…