É o assunto do dia nos facebooks da aldeia o carro novo do vereador Wagner Padilha (PSB), fenômeno das redes sociais eleito para o primeiro mandato na cola do ‘Floriano Flor de Tuna’ – personagem criado em seu canal do YouTube ‘Tô de Olho no Buraco’, onde o ator escrachava privilégios dos políticos e tirava para vilão o governo Marco Alba (PMDB).
Não foram necessários dois dias depois do chamativo Kia Soul vermelho raspar em um pilar antes de estacionar na garagem reservada ao parlamentares, para a polêmica chegar atropelando em grupos do Face e em ligações de eleitores ao Seguinte:.
Contactado, de chinelo de dedos, bermuda, bonezinho e, apesar de uma camiseta escrita I’m sorry, Wagner veio conversar com a gente sem pedir desculpa para ninguém.
– Todo trabalhador tem direito de comprar um carro bom. Não usei dinheiro ilícito – resumiu, mostrando a documentação do empréstimo consignado que fez, para pagamento em 36 meses, e que elevará o valor do carro 2012 de R$ 40 mil à vista para R$ 59 mil financiados.
Nada que não comporte o salário de quase R$ 10 mil, que receberá pelos próximo quatro anos e foi depositado pela primeira vez em sua conta dia 1º de fevereiro.
– E não é 10, é R$ 9,5 mil, com 27% de desconto do Imposto de Renda e 11% para o INSS. Além disso, não recebemos vale-alimentação, vale-terno ou vale-combustível – observa, dizendo que antes de comprar o veículo consultou familiares, amigos e apoiadores, sem ouvir nenhuma reprimenda, só incentivos.
– Um vereador que trabalha, e percorre a cidade, gasta uns R$ 2 mil por mês em gasolina. Nos dois dias que estou com o carro, já rodei 60 quilômetros – argumenta, pedindo para colocar na matéria que na primeira sessão do ano foi o campeão de requerimentos – 82, entre os 166 apresentados pelos 21 vereadores.
– Me cobrem pelo meu trabalho. Aí não terá graça, porque ficarei tipo miss, abanando para os outros vereadores, porque não vejo ninguém na minha frente – orgulha-se, interpretando a cena de forma hilária, encarnando o ator de uma dezena de prêmios na carreira de mais de duas décadas.
Mostrando material de sua candidatura, Wagner chama de “mentirosas” as afirmações postadas em perfis e grupos dando conta de que ele prometeu durante sua campanha apresentar projeto reduzindo os vencimentos dos vereadores para apenas um salário mínimo, ou equiparando à remuneração dos professores.
– Desafio a apresentarem um vídeo, ou um post, seja como Floriano, ou como candidato em campanha, onde eu tenha prometido isso. Até porque acho que vereador que trabalha tem que receber um bom salário – defende, garantindo que em seu mandato nunca o verão “réu, condenado ou viajando para paraísos tropicais à custa de passagens aéreas e diárias da Câmara”.
No vácuo do paparazzo
O vereador está entregando em minutos um ofício à Presidência da Câmara solicitando as imagens da garagem, para identificar quem fez a foto de seu carro.
– Foi tirada do elevador, depois das 16h55 de terça, hora em que cheguei para a sessão – calcula, anunciando que, além de pedir a demissão do paparazzo caso seja assessor de vereador ou funcionário, processará por calúnia e difamação quem postou inverdades nas redes sociais.
Alertando para o momento de disputa política, onde apóia a candidatura de Anabel Lorenzi (PSB) a prefeita, Wagner não deixará barato nem caso o ‘flagrante’ tenha sido feito por colegas vereadores ou patrocinado por outros políticos.
– Ainda me pagarão esse carro – ameaça, dizendo esperar que o presidente da Câmara Alex Tavares (PMDB) não seja “conivente”, negando o acesso ao circuito de câmeras.
– Ao lado do meu há caminhonetes de mais de R$ 100 mil. Mas quando um pobre trabalhador compra um carro, aí não pode – desabafa Wagner, que deve perceber agora que, quando se atravessa a Rua da Crítica, como cidadão, para a Avenida da Política, como agente público, o Big Brother é diário e é bem fácil sofrer com arranhões e pechadas.